Sem Padilha, Temer assumirá negociações com Congresso
Com a licença do ministro da Casa Civil, presidente terá de conduzir aprovação de reformas
Eduardo Barretto e Simone Iglesias - O Globo
Sem seu principal articulador no Congresso, o ministro Eliseu Padilha
(Casa Civil), que está de licença médica, o presidente Michel Temer
terá que assumir o comando das negociações das reformas que tramitam na
Câmara, em especial a da Previdência. Com pressa para aprovar as
mudanças no sistema de aposentadoria e pensão, Temer reorganizou na
semana pré-Carnaval sua tropa de choque na Casa, tirando de destaque o
então líder do governo, André Moura (PSC-SE). O presidente entregou o
cargo ao PP do deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), um dos maiores partidos
da base aliada e criou a liderança da maioria, cargo que passa a ser
ocupado por Lelo Coimbra (PMDB-ES), para acalmar a bancada do seu
partido que reclama sistematicamente de falta de espaço nos governos dos
quais participa. A saída de Moura da liderança também atende ao
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que pediu sua demissão por
divergências políticas.
Além de ter se submetido a uma cirurgia em meio ao feriado de
Carnaval, Padilha foi atingido na última quinta-feira por depoimento do
advogado e amigo de Temer José Yunes. À Procuradoria-Geral da República,
ele colocou Padilha em situação delicada ao dizer que foi "mula
involuntária" do chefe da Casa Civil. Segundo declarou Yunes, ele
recebeu um pacote em seu escritório, a pedido de Padilha, do doleiro
Lúcio Funaro.
TEMOR DA EQUIPE ECONÔMICA
A volta de Padilha
da licença está prevista para a próxima segunda-feira, mas a depender da
sua recuperação, o afastamento poderá se estender por tempo
indeterminado. A equipe econômica já demonstrou preocupação com a
condução das reformas, em especial a da Previdência. Padilha é visto com
a “voz forte” do governo, capaz de conduzir o andamento dos projetos
nas casas legislativas.
O pano de fundo das mudanças feitas por Temer na Câmara está na
desidratação do centrão, que vinha perdendo força desde a cassação de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no ano passado, atingindo seu ápice com a
reeleição de Maia, em fevereiro. A insistência do deputado Rogério Rosso
(PSD-DF) em se manter candidato contra o democrata e outro deputado da
base, Jovair Arantes (PTB-GO), assim como Rosso proeminência do
“centrão”, implodiu de vez o bloco. Rosso desistiu horas antes da
disputa e Jovair somou apenas 105 votos, permitindo que Maia se
reelegesse com folga no primeiro turno.
— Seria melhor um nome que estivesse afinado com o presidente da
Câmara. André Moura, sem dúvida, não é — disse Maia ao GLOBO, acusando
Moura, do centrão, de ter sido "parcial" na disputa em questão.
ENFRAQUECIMENTO DO CENTRÃO AJUDOU PLANALTO
A
perda de força do centrão foi uma boa notícia para o Palácio do Planalto
em meio a problemas políticos que Temer enfrenta em função das baixas
da Lava-Jato. Com Padilha licenciado, em princípio, até o dia 6 de
março, mas podendo ampliar o afastamento por mais alguns dias ou
semanas, o governo acha mais confortável tratar diretamente com os
presidentes e líderes dos partidos aliados.
— Partidos que integravam o bloco, como PR, PP, PRB e PSD, migraram
para a institucionalidade da Casa. Desta forma, o governo passou a ter
dois caminhos: negociar com a Câmara ou diretamente com os partidos
aliados — afirmou um interlocutor presidencial.
Quando o centrão dava as cartas nas negociações com o governo, era
mais difícil contemplar todos os pedidos e ainda ver cumpridas promessas
de votos em troca de cargos federais país afora ou de liberação de
recursos nos estados, principais pedidos do bloco.
Desde que Cunha foi cassado, assumiram informalmente a liderança do
centrão Jovair, Rosso e Moura, três parlamentares que, agora, perdem
espaço. Na semana passada, Temer quase nomeou Moura para a liderança da
maioria. Mas entre atender ao centrão disforme e a pressão de seu
partido, com 68 deputados, optou por um peemedebista no cargo. Incitados
por Jovair, deputados passaram a difundir que ele estava negociando com
Temer assumir como ministro do Esporte. Interlocutores presidenciais,
no entanto, dizem desconhecer tal possibilidade e reforçam que Leonardo
Picciani permanecerá no cargo. Quanto a Rosso, perdeu o apoio do PSD na
disputa a presidente da Câmara e ficou sem nenhum posto de destaque,
como almejava, na Casa.
O enfraquecimento do centrão pode ser visto em uma comparação de três
meses: em dezembro, o bloco fez com que o presidente Michel Temer
segurasse a nomeação de Antonio Imbassahy (PSDB-BA) para a Secretaria de
Governo, pasta chave na articulação política do Planalto com o
Congresso. O exigido era que a indicação viesse só após a eleição na
Câmara. No mesmo mês, o centrão aliou-se à oposição e aprovou, sem
contrapartidas, a renegociação da dívida dos estados.
Na ponta do lápis, o centrão representava apoio de mais de um terço
dos 513 deputados, mas há meses vinha impondo dificuldades ao Planalto,
inclusive confrontando publicamente aliados fora do bloco.
PADILHA DEVE ESTENDER LICENÇA
O ministro
licenciado da Casa Civil, Eliseu Padilha, manteve nesta terça-feira o
quadro estável após se submeter a uma cirurgia na próstata, na tarde de
segunda-feira, em Porto Alegre. De acordo com boletim médico divulgado
anteontem, o procedimento envolveu anestesia geral e não teve
intercorrências. "As condições gerais são estáveis", diz o texto
assinado pelo urologista Claudio Telöken e o médico intensivista Nilton
Brandão.
Padilha, de 71 anos, permanecerá em recuperação pós-operatória e
monitorado pelo menos até hoje. O objetivo da cirurgia era tratar uma
obstrução na região. No dia 20 de fevereiro, Padilha passou mal e foi
internado no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, para tratar de
uma obstrução urinária. Na ocasião, foi diagnosticado com hiperplasia
prostática (aumento da próstata).
Segundo a assessoria de Padilha, seu retorno a Brasília está previsto
para segunda-feira. O presidente Temer e o ministro acertaram uma
licença médica que, em princípio, se encerra nessa data. Mas o período
de recuperação do tipo de procedimento a que se submeteu pode ser maior.
Este poderá ser o argumento para prolongar afastamento do político,
enquanto seu futuro no governo não é definido.
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