Clovis Rossi - FSP
Não creio que os parceiros do Brasil no G20 sentirão falta de Michel Temer na cúpula que o grupo das 20 maiores economias do planeta realiza no próximo fim de semana.
Temer não é exatamente um estadista que o mundo esteja louco para ouvir e, assim, usufruir de sua sabedoria.
Mas o Brasil, sim, deveria sentir falta de um presidente digno desse nome, capaz de, em primeiro lugar, elaborar e, depois, expor suas posições na presença dos líderes de países que representam 80% da economia mundial e 64% da população planetária.
Em circunstâncias normais, a ausência de Temer nem seria tão problemática: as decisões do G20 são preparadas por dois grupos de especialistas, um para a área econômica e, o outro, para assuntos, digamos, mais políticos.
O Brasil tem sido muito bem representado tanto pelo chefe da Secretaria de Assuntos Internacionais da Fazenda como pelo "sherpa", diplomata do Itamaraty. O termo "sherpa", aliás, define bem o papel que cabe aos técnicos: são os guias que conduzem os alpinistas aos picos do Himalaia.
No caso do G20, conduzem todas as discussões técnicas para que os "alpinistas" (os chefes de governo) finquem suas bandeiras no pico (no caso, no documento final).
Até o fim do ano passado, diplomatas altamente qualificados exerciam os dois papéis pelo Brasil. Agora, o representante da Fazenda é um economista igualmente qualificado, Marcello de Moura Estevão Filho, PhD pelo mitológico Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
O problema é que, desta vez, a economia ficou em absoluto segundo plano nesse grupo que, paradoxalmente, foi criado para servir de foro principal para a discussão econômica.
Afinal, a cúpula 2017 se dá "em um momento em que a recuperação econômica global está progredindo", como diz o comunicado da mais recente reunião dos técnicos, ocorrida em março.
O texto reconhece que "o ritmo de crescimento ainda é mais fraco do que o desejável". A situação hoje, entretanto, é imensamente mais tranquila do que quando o G20 fez sua primeira cúpula, na esteira da grande crise de 2008.
O problema agora não é a economia, mas Donald Trump.
A anfitriã da cúpula, Angela Merkel, é cristalinamente clara: "Nossas diferenças com os Estados Unidos são claras. Eu seria desonesta se as escondesse".
A principal diferença se dá em torno do Acordo de Paris, o mais ambicioso tratado para enfrentar a mudança climática jamais alcançado.
Trump já anunciou que os Estados Unidos, o segundo maior poluidor do planeta, atrás apenas da China, sairão do acordo a menos que seja renegociado.
Merkel, ao contrário, diz que Paris "é irreversível e inegociável". Aqui entra a falta que fará uma voz autorizada a falar pelo Brasil. O país foi especialmente importante em todas as discussões sobre o tema, até que se chegasse ao entendimento assinado na capital francesa.
Se houvesse um presidente internacionalmente respeitado, seria mais uma voz a se juntar, por exemplo, aos europeus para tentar convencer Trump de que o aquecimento global é uma ameaça existencial.
Em vez disso, uma cadeira vazia, todo um símbolo do Brasil de hoje.
Mas o Brasil, sim, deveria sentir falta de um presidente digno desse nome, capaz de, em primeiro lugar, elaborar e, depois, expor suas posições na presença dos líderes de países que representam 80% da economia mundial e 64% da população planetária.
Em circunstâncias normais, a ausência de Temer nem seria tão problemática: as decisões do G20 são preparadas por dois grupos de especialistas, um para a área econômica e, o outro, para assuntos, digamos, mais políticos.
O Brasil tem sido muito bem representado tanto pelo chefe da Secretaria de Assuntos Internacionais da Fazenda como pelo "sherpa", diplomata do Itamaraty. O termo "sherpa", aliás, define bem o papel que cabe aos técnicos: são os guias que conduzem os alpinistas aos picos do Himalaia.
No caso do G20, conduzem todas as discussões técnicas para que os "alpinistas" (os chefes de governo) finquem suas bandeiras no pico (no caso, no documento final).
Até o fim do ano passado, diplomatas altamente qualificados exerciam os dois papéis pelo Brasil. Agora, o representante da Fazenda é um economista igualmente qualificado, Marcello de Moura Estevão Filho, PhD pelo mitológico Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
O problema é que, desta vez, a economia ficou em absoluto segundo plano nesse grupo que, paradoxalmente, foi criado para servir de foro principal para a discussão econômica.
Afinal, a cúpula 2017 se dá "em um momento em que a recuperação econômica global está progredindo", como diz o comunicado da mais recente reunião dos técnicos, ocorrida em março.
O texto reconhece que "o ritmo de crescimento ainda é mais fraco do que o desejável". A situação hoje, entretanto, é imensamente mais tranquila do que quando o G20 fez sua primeira cúpula, na esteira da grande crise de 2008.
O problema agora não é a economia, mas Donald Trump.
A anfitriã da cúpula, Angela Merkel, é cristalinamente clara: "Nossas diferenças com os Estados Unidos são claras. Eu seria desonesta se as escondesse".
A principal diferença se dá em torno do Acordo de Paris, o mais ambicioso tratado para enfrentar a mudança climática jamais alcançado.
Trump já anunciou que os Estados Unidos, o segundo maior poluidor do planeta, atrás apenas da China, sairão do acordo a menos que seja renegociado.
Merkel, ao contrário, diz que Paris "é irreversível e inegociável". Aqui entra a falta que fará uma voz autorizada a falar pelo Brasil. O país foi especialmente importante em todas as discussões sobre o tema, até que se chegasse ao entendimento assinado na capital francesa.
Se houvesse um presidente internacionalmente respeitado, seria mais uma voz a se juntar, por exemplo, aos europeus para tentar convencer Trump de que o aquecimento global é uma ameaça existencial.
Em vez disso, uma cadeira vazia, todo um símbolo do Brasil de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário