Lembram-se? O nobre procurador-geral pediu a prisão preventiva do trio alegando ter havido obstrução da Justiça; fui voz isolada na contestação. Prefiro errar sozinho a errar em grupo; imaginem, então, quando se trata de acertar sozinho...
Reinaldo Azevedo
Janot: mais uma patuscada do procurador-geral é desmoralizada. Ele sente o cheiro de carne queimada
Pois é…
E a Polícia Federal concluiu que,
naquelas famosas conversas de Sérgio Machado — um dos grandes heróis
eleitos pelo Ministério Público; um dos primeiros a se tornar um
ex-canalha, depois da unção de Rodrigo Janot — com os senadores Romero
Jucá (PMDB-RR), então ministro do Planejamento, e Renan Calheiros
(PMDB-AL), então presidente do Senado, e com o ex-presidente José
Sarney, não houve obstrução da Justiça coisa nenhuma. Na verdade, o
certo seria falar em “obstrução da investigação”, já que a outra nem
tipo penal é.
Pois é… A coisa estourou no fim de maio
do ano passado. Em junho, o destrambelhado Rodrigo Janot pediu nada
menos do que cadeia para os dois senadores e para o ex-presidente —
nesse caso, em razão da idade, a preventiva seria convertida em prisão
domiciliar com tornozeleira. Teori Zavascki não deu. O rechonchudo
procurador se tornou ainda mais ambicioso. Tentou, mais tarde, depor o
próprio presidente.
Machado, ex-bandido, ex-sacripanta,
ex-canalha e ex-ladrão, resolveu gravar seus parceiros de partido,
induzindo conversas para que estes confessassem o que a PGR queria
ouvir; estariam todos tentando obstruir a Lava Jato. Quem montou essa
operação para Janot foi Marcelo Miller, aquele procurador que deixou o
MPF e, três dias depois, estava negociando o acordo de leniência da
J&F. Notem que o “modus operandi”, para todos os efeitos, é o mesmo.
A exemplo de Joesley Batista, também ex-bandido, ex-sacripanta,
ex-canalha e ex-ladrão, a versão oficial é que Machado não combinou nada
previamente com o MPF. Primeiro ele teria gravado; só depois, então,
teria ido em busca do acordo.
Estamos vivendo sob os auspícios de um regime de exceção. Vamos lembrar mais.
A fala que causou mais reboliço foi a de
Jucá. Vamos ver o contexto. Machado, um ex-pulha que aceitou devolver
R$ 75 milhões (!!!) aos cofres públicos, telefona para o senador nestes
termos:
“O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. […] Ele acha que eu sou o caixa de vocês”.
E o ex-bandido premiado diz, então, que pode ser enviado para Curitiba para fazer delação. E vem a ameaça:
“Aí fodeu. Aí fodeu para todo
mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu ‘desça’? Se eu
‘descer’… (…) Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A
gente tem que encontrar uma saída”.
Jucá diz a frase que acabou resultando na sua demissão e que levou Janot a pedir, imaginem!, sua prisão preventiva:
“Se é político (o caso), como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”.
O que escrevi, o que escreveram e o que diz agora a PF
Sei bem o que escrevi a respeito e o que disse na rádio e em todo lugar. Relembro: “Venham cá, amiguinhos! Vocês acham que, a esta altura do campeonato, dá para deter a Lava-Jato, para controlá-la, para botá-la sob uma gerência? Acredito que, se fosse possível, o governo anterior teria encontrado os meios, não é mesmo?
Mais: para que se realizasse tal intento, seria preciso combinar com os russos. Teriam de participar da conspiração os procuradores de Curitiba, Rodrigo Janot, o juiz Sergio Moro e toda a fatia da Polícia Federal envolvida na investigação. Até o Lula teria de conspirar com toda essa turma. Sabe-se que isso não vai acontecer.
Assim, de saída, que fique claro: NINGUÉM CONTROLA A LAVA-JATO. Quem disser que pode fazê-lo está contando uma lorota. No que concerne ao governo Michel Temer, a decisão essencial já foi tomada. E em favor da independência da operação: o ministro Alexandre de Moraes (Justiça) convidou Leandro Daiello, diretor-geral da Polícia Federal, a continuar no cargo. Quem queria substituí-lo era Eugênio Aragão, último ministro da Justiça de Dilma.”
Sei bem o que escrevi a respeito e o que disse na rádio e em todo lugar. Relembro: “Venham cá, amiguinhos! Vocês acham que, a esta altura do campeonato, dá para deter a Lava-Jato, para controlá-la, para botá-la sob uma gerência? Acredito que, se fosse possível, o governo anterior teria encontrado os meios, não é mesmo?
Mais: para que se realizasse tal intento, seria preciso combinar com os russos. Teriam de participar da conspiração os procuradores de Curitiba, Rodrigo Janot, o juiz Sergio Moro e toda a fatia da Polícia Federal envolvida na investigação. Até o Lula teria de conspirar com toda essa turma. Sabe-se que isso não vai acontecer.
Assim, de saída, que fique claro: NINGUÉM CONTROLA A LAVA-JATO. Quem disser que pode fazê-lo está contando uma lorota. No que concerne ao governo Michel Temer, a decisão essencial já foi tomada. E em favor da independência da operação: o ministro Alexandre de Moraes (Justiça) convidou Leandro Daiello, diretor-geral da Polícia Federal, a continuar no cargo. Quem queria substituí-lo era Eugênio Aragão, último ministro da Justiça de Dilma.”
Enquanto a vagabundice lava-jateira saía
gritando “cadeia, cadeia, cortem-lhes a cabeça”, eu estava, neste blog,
a dizer que aquela fala não queria dizer rigorosamente nada e que não
se tratava de obstrução. Mas reconheci, sim, a gravidade do caso, tanto
que deixei claro que Romero Jucá teria de deixar o governo. Mas eu o fiz
nestes termos:
“Quem ler os diálogos vai
perceber que há certo tom de ameaça na fala de Machado. Ele sugere que,
se cair, pode levar um monte de gente junto. É bem provável que Jucá
estivesse falando apenas para acalmá-lo.
Acontece que, em política, a versão do fato é mais importante do que o próprio. Do ponto de vista, digamos, penal, a fala de Jucá e Machado é irrelevante. Do ponto de vista político, é grave, sim. E Jucá faria um bem a Temer se deixasse o governo. Embora, com efeito, ele nada possa contra a operação.”
Acontece que, em política, a versão do fato é mais importante do que o próprio. Do ponto de vista, digamos, penal, a fala de Jucá e Machado é irrelevante. Do ponto de vista político, é grave, sim. E Jucá faria um bem a Temer se deixasse o governo. Embora, com efeito, ele nada possa contra a operação.”
Eu me orgulho de não vender gato por lebre aos meus leitores.
Nunca houve, naquele caso, obstrução de investigação.
Agora a PF
Em seu relatório, a delegada Graziela Machado da Costa e Silva vai além de negar o crime de obstrução e sugere que deixem de vigorar os benefícios da delação premiada a Machado — por enquanto, um ex-assaltante de cofres públicos, né…
Em seu relatório, a delegada Graziela Machado da Costa e Silva vai além de negar o crime de obstrução e sugere que deixem de vigorar os benefícios da delação premiada a Machado — por enquanto, um ex-assaltante de cofres públicos, né…
“Ah, mas a delegada só está dando uma
opinião, Reinaldo?” Não! Ela investigou. Afirmou: “As conversas
estabelecidas entre Sérgio Machado e seus interlocutores limitaram-se à
esfera pré-executória, ou seja, não passaram de meras cogitações (…). As
condutas evidenciadas não atingem, numa concepção exclusivamente
criminal, o estágio [de se provar] o delito em questão”. Ela aponta
ainda uma coisa para a qual chamei a atenção desde o primeiro dia: “Não
são poucas as vezes em que ele próprio, Sérgio Machado, instiga a adoção
do procedimento que ora delata e ao qual foi atribuído viés criminal”.
Perfeito! Vou procurar ler a íntegra.
Por enquanto, ela já é minha candidata a diretora-geral da Polícia
Federal. “Por quê? Só porque produziu um conclusão afinada com a sua,
Reinaldo?” Não. Porque parece que ela entende o funcionamento de uma
sociedade democrática. Veremos em outro post.
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