Procurador-geral pede o fatiamento do inquérito, e o relator aceita; é para tentar perturbar Temer por mais tempo e, possivelmente, para tentar pautar e constranger suca sucessora, a perseguida Raquel Dodge
Reinaldo Azevedo
O estoque de velhacarias de Rodrigo
Janot, com a qual condescende Edson Fachin, que segue atuando como
contínuo do Ministério Público Federal, impressiona. A decisão de
apresentar três denúncias distintas contra o presidente fala por si
mesma. E já deveria ser o limite da falta de, como chamarei?, decoro
processual. Mas quem disse não ser o ainda procurador-geral aquele tipo
de homem que, depois de chegar ao limite, dá mais um passo? Sim. Ele é.
Com a anuência de Fachin.
Qual foi a patranha do dia? Janot havia
pedido, e o ministro concedeu, a divisão do inquérito instaurado em maio
para investigar o presidente. Que importância isso tem e como a coisa
se encaixa da estratégia política — que nada tem de jurídica — de Janot?
Vamos ver.
Como o inquérito conta com um preso
(Rodrigo Loures), a PGR tinha prazo de cinco dias a partir da entrega do
relatório da PF para oferecer a denúncia. É o que determina o Código de
Processo Penal. Se Janot não tem, como evidencia a denúncia, provas de
corrupção passiva, tampouco as têm de organização criminosa ou obstrução
da investigação.
Ora, o que recomendaria o bom senso e a
decência? Que tudo fosse feito com mais vagar e cuidado — inclusive para
a produção de provas. Ocorre que era importante apresentar logo uma
denúncia contra Temer, dentro do esforço de fulminar o presidente. Como
falhou a Blitzkrieg, que incluiu o vazamento do que não está na
gravação, então foi preciso recorrer a essa tática.
Bem, se Fachin não aceita a divisão, fim de papo. Foi Janot que escolheu o caminho da ligeireza — em sentido amplo. Mas quê…
O ministro quebrou o galho do
procurador-geral (mais um): a denúncia que já existe contra Temer e
contra Loures ficará abrigada num inquérito com novo número. E o
anterior, agora sem prazo para oferecimento da denúncia, continua a
apurar se houve obstrução da investigação e participação em organização
criminosa. Daí poderão sair duas novas denúncias.
Quando? Não há “quando”!
Aí alguém poderia dizer: “Ah, mas a PF
concluiu só nesta semana o relatório final, com os indícios de obstrução
da investigação” ah, bem, isso é decorrência das escolhas feitas pelo
sr. procurador-geral, não? Seus alvos não podem ser punidos por suas
trapalhadas.
A verdade é que existe uma boa
possibilidade de Janot cozinhar o galo e largar a tarefa de “denunciar”
Temer à sua sucessora, Raquel Dodge. Ele sabe o que isso significaria:
ela só mostraria independência, aos olhos de certa patrulha, se o
fizesse — caso contrário, seria tratada como abduzida por Temer.
Acho que o golpe já foi para a o brejo. Mas os golpistas continuam tinhosos.
Ah, sim: não deixa de ser engraçado ler que, ao fatiar o inquérito,
Janot ficaria livre da suspeita de que vai tripartir da denúncia por
razões puramente técnicas. Trata-se de um elemento adicional a
evidenciar a tramoia. Que já é malsucedida.
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