Crise fiscal fará faltar mais que passaporte
Julianna Sofia - FSP
Apelando a eufemismos, a comandante do Tesouro Nacional, Ana Paula
Vescovi, tentou explicar o quão curto o cobertor está na Esplanada dos
Ministérios. "Todos os órgãos do governo estão sentindo o
contingenciamento e estão buscando se organizar."
A Polícia Federal avisou pelo menos nove vezes ao Ministério da Justiça e à área econômica que os recursos liberados para emissão de passaportes neste ano minguavam e que a prestação do serviço corria riscos. Faltou se organizar?
Pegou mal para o Palácio do Planalto e custou mais um ponto à cadavérica
popularidade do presidente Michel Temer as imagens de filas,
reclamações e desespero de cidadãos dispostos a desembolsar R$ 257,25
para ter acesso ao documento, sem sucesso.
Depois do estrago, Ministério do Planejamento e Planalto correram para
enviar ao Congresso um projeto para assegurar mais verba para a
atividade com o remanejamento de recursos de outros setores. Sugeriram
tirar dinheiro do Ministério da Educação, saqueando programas de apoio à
alfabetização de jovens e de fomento a ações de graduação,
pós-graduação, ensino e pesquisa. Outra opção: tungar convênios com
organismos internacionais.
O quadro de terra arrasada nas contas federais tende a piorar. A equipe
de Henrique Meirelles (Fazenda) precisa aprovar no Legislativo medidas
paliativas para fazer verter receita extra, como o resgate de
precatórios não sacados (R$ 8,6 bilhões) e o novo Refis (R$ 5 bilhões).
Com a arrecadação federal ladeira abaixo, pode ainda ser obrigada a
aumentar tributos que incidem sobre os combustíveis.
O governo de Michel Temer sabe que, se não houver um reforço ao caixa do
Tesouro e se não promover um alívio ao bloqueio de R$ 39 bilhões nas
despesas do Orçamento, a máquina administrativa pode parar a partir de
agosto. Vai faltar mais que passaporte.
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