Lula não precisa de seu partido vivo para concorrer em 2018 — ou para plantar um novo poste no segundo turno. Precisa apenas do palanque que o PT pode lhe oferecer
Carlos Andreazza - O Globo
Sim: PT e
PSDB estão em ruínas. Mas é decisivo considerar, para efeito
político-eleitoral, a altura, o corpo, do palanque que se pode erguer
sobre tamanho volume de escombros. Isso, sobretudo, se também
considerarmos que depauperados igualmente estão os outros grandes
partidos. Uma reflexão se impõe: se são hoje, pois, todos destroços, e
se não é possível concorrer sem um deles, como não ponderar sobre a
hipótese de que em vantagem — para 2018 — estejam aqueles cujo entulho
ocupe maior espaço?
O brasileiro não vota em partido — não em percentual representativo. Mas em indivíduos. Não há novidade nisso. Entre nós, eleição sempre é fulanizada, daí por que também dependa, essencialmente, de palanque. Eleição, aqui, é palanque — e não importa sobre o que tal se monte, desde que firme e alto. Não importa — quero ser explícito — se sobre a bosta da corrupção: palanque se pode armar, palanque sólido se armará, e não faltarão engenheiros para mostrar, com razão, que, se a atividade política se encontra cuspida ao esgoto, se todos os políticos são igualmente imundos, em melhor condição competitiva afinal estará aquele que tiver mais cocô sobre o qual subir e aparecer.
O leitor duvida?
No Brasil, eleição é capacidade de ocupar superfície. Não interessará o que vai por baixo. É falar — poder falar — mais alto e longe. Para isso — como metragem de vitrine — serve um partido aqui. Erro grave, portanto, é confundir absolutamente Lula e PT. Porque o primeiro independe da vitalidade do segundo — sem o qual sobreviveria competitivo. Diga que o Partido dos Trabalhadores se esgotou como fenômeno político — e terá a minha concordância. Mas não se iluda com a ideia de que esse fim também seja de Lula. Não é. O ex-presidente não precisa de seu partido vivo para concorrer em 2018 — ou para plantar um novo poste no segundo turno. Precisa apenas do palanque que o PT — ainda que no caixão (sabemos que não é um problema para ele) — pode lhe oferecer Brasil adentro. Caixão parrudo ou montanha no lixão, tanto faz. Pois plataforma é. Alta. E o homem sobe. Só o volume interessa. O volume a partir do qual se projetar. Isso, esse volume, também significa dinheiro para campanha — mais dinheiro. E tempo de TV — mais tempo.
Convém lembrar a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. A Lava-Jato já existia — o PT era então o principal, senão único, atingido — e o país militava, desde 2013, em não raro violentas manifestações de rua contra os políticos. Ainda assim, o establishment se impôs e fez prevalecer os mesmos velhos, publicamente já podres, palanques de sempre — os que, mesmo que levantados sobre merda, alcançavam as maiores altitudes.
Que o leitor, por favor, não subestime a força do que se pode nomear recall eleitoral. Ou desprezaremos o apelo da memória para o fato de que, desde 1994, eleição presidencial no Brasil é — objetivamente — entre PT e PSDB? Que o leitor, por favor, não superestime a capacidade crítica do eleitor médio brasileiro — porque foi o voto desse eleitor-padrão que cindiu o mapa eleitoral brasileiro, quase que à metade, seguramente desde 2006, entre eleitores do PT e do PSDB. E sim, sim: não sou imune ao argumento de que a maioria desses votos jamais foi do PSDB, mas de um concreto antipetismo. É verdade. O que, porém, não desfaz a materialidade de que os votos foram — por circunstâncias derivadas da falta de opções — repetidamente dados ao PSDB. E é isso que conta para efeito de recall.
Falei em circunstâncias derivadas da falta de opções como razão para que o PSDB polarizasse com o PT — o que exige que se trate do fator novo para 2018, elemento que se apresenta como capaz de quebrar essa dobradinha: Jair Bolsonaro. Sua candidatura precisa ser levada a sério. Ele é um player real no tabuleiro — e as pesquisas indicam que parcela significativa do eleitorado que se acomodara com o PSDB se deslocou para o deputado. A pergunta, contudo, é: até quando? Mais: essa base — de 15% — é mesmo integralmente de Bolsonaro, terreno consolidado a servir de piso para que vá além, ou, instável, poderá ser fraturada, ao menos em alguma parte, pelo recall tucano quando a campanha começar a valer? Devemos dar como certo que o eleitor ora declarado do deputado está fechado com ele como estão seus seguidores nas redes sociais? E se os ventos da economia continuarem a soprar favoravelmente? E se chegarmos a 2018 de forma que essa recuperação seja palpável no bolso — no humor — do brasileiro? O voto do ora “insatisfeito com tudo o que está aí” será ainda de Bolsonaro?
Será mesmo um absurdo analisar e apostar na probabilidade de que a candidatura do deputado — que disputará a eleição sem estrutura partidária — desidrate a partir do momento em que confrontada, à vera, com a pujança milionária e onipresente do sistema?
Isso serve, parcialmente, também para Luciano Huck — para quem, claro, não faltaria dinheiro. Mas: e partido, palanque, tempo na TV? Não nos iludamos com a possibilidade de o DEM não formar com o PSDB. De modo que ao outsider sobraria, como chão, algo como o PPS, um partido — o ex-PCB que se tornou linha-auxiliar tucana — sem caráter e alcance nacional. E aí? Vai chafurdar?
A eleição presidencial de 2018 será para — de — profissionais. E o recall, desde a lama, para porco graúdo.
O brasileiro não vota em partido — não em percentual representativo. Mas em indivíduos. Não há novidade nisso. Entre nós, eleição sempre é fulanizada, daí por que também dependa, essencialmente, de palanque. Eleição, aqui, é palanque — e não importa sobre o que tal se monte, desde que firme e alto. Não importa — quero ser explícito — se sobre a bosta da corrupção: palanque se pode armar, palanque sólido se armará, e não faltarão engenheiros para mostrar, com razão, que, se a atividade política se encontra cuspida ao esgoto, se todos os políticos são igualmente imundos, em melhor condição competitiva afinal estará aquele que tiver mais cocô sobre o qual subir e aparecer.
O leitor duvida?
No Brasil, eleição é capacidade de ocupar superfície. Não interessará o que vai por baixo. É falar — poder falar — mais alto e longe. Para isso — como metragem de vitrine — serve um partido aqui. Erro grave, portanto, é confundir absolutamente Lula e PT. Porque o primeiro independe da vitalidade do segundo — sem o qual sobreviveria competitivo. Diga que o Partido dos Trabalhadores se esgotou como fenômeno político — e terá a minha concordância. Mas não se iluda com a ideia de que esse fim também seja de Lula. Não é. O ex-presidente não precisa de seu partido vivo para concorrer em 2018 — ou para plantar um novo poste no segundo turno. Precisa apenas do palanque que o PT — ainda que no caixão (sabemos que não é um problema para ele) — pode lhe oferecer Brasil adentro. Caixão parrudo ou montanha no lixão, tanto faz. Pois plataforma é. Alta. E o homem sobe. Só o volume interessa. O volume a partir do qual se projetar. Isso, esse volume, também significa dinheiro para campanha — mais dinheiro. E tempo de TV — mais tempo.
Convém lembrar a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. A Lava-Jato já existia — o PT era então o principal, senão único, atingido — e o país militava, desde 2013, em não raro violentas manifestações de rua contra os políticos. Ainda assim, o establishment se impôs e fez prevalecer os mesmos velhos, publicamente já podres, palanques de sempre — os que, mesmo que levantados sobre merda, alcançavam as maiores altitudes.
Que o leitor, por favor, não subestime a força do que se pode nomear recall eleitoral. Ou desprezaremos o apelo da memória para o fato de que, desde 1994, eleição presidencial no Brasil é — objetivamente — entre PT e PSDB? Que o leitor, por favor, não superestime a capacidade crítica do eleitor médio brasileiro — porque foi o voto desse eleitor-padrão que cindiu o mapa eleitoral brasileiro, quase que à metade, seguramente desde 2006, entre eleitores do PT e do PSDB. E sim, sim: não sou imune ao argumento de que a maioria desses votos jamais foi do PSDB, mas de um concreto antipetismo. É verdade. O que, porém, não desfaz a materialidade de que os votos foram — por circunstâncias derivadas da falta de opções — repetidamente dados ao PSDB. E é isso que conta para efeito de recall.
Falei em circunstâncias derivadas da falta de opções como razão para que o PSDB polarizasse com o PT — o que exige que se trate do fator novo para 2018, elemento que se apresenta como capaz de quebrar essa dobradinha: Jair Bolsonaro. Sua candidatura precisa ser levada a sério. Ele é um player real no tabuleiro — e as pesquisas indicam que parcela significativa do eleitorado que se acomodara com o PSDB se deslocou para o deputado. A pergunta, contudo, é: até quando? Mais: essa base — de 15% — é mesmo integralmente de Bolsonaro, terreno consolidado a servir de piso para que vá além, ou, instável, poderá ser fraturada, ao menos em alguma parte, pelo recall tucano quando a campanha começar a valer? Devemos dar como certo que o eleitor ora declarado do deputado está fechado com ele como estão seus seguidores nas redes sociais? E se os ventos da economia continuarem a soprar favoravelmente? E se chegarmos a 2018 de forma que essa recuperação seja palpável no bolso — no humor — do brasileiro? O voto do ora “insatisfeito com tudo o que está aí” será ainda de Bolsonaro?
Será mesmo um absurdo analisar e apostar na probabilidade de que a candidatura do deputado — que disputará a eleição sem estrutura partidária — desidrate a partir do momento em que confrontada, à vera, com a pujança milionária e onipresente do sistema?
Isso serve, parcialmente, também para Luciano Huck — para quem, claro, não faltaria dinheiro. Mas: e partido, palanque, tempo na TV? Não nos iludamos com a possibilidade de o DEM não formar com o PSDB. De modo que ao outsider sobraria, como chão, algo como o PPS, um partido — o ex-PCB que se tornou linha-auxiliar tucana — sem caráter e alcance nacional. E aí? Vai chafurdar?
A eleição presidencial de 2018 será para — de — profissionais. E o recall, desde a lama, para porco graúdo.
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