O PMDB do B
Interessante a estratégia do grupo do senador Aécio
Neves para não caracterizar a saída de Bruno Araujo do ministério de
Temer como um protesto. Ele se antecipou a seus colegas, e foi anunciado
que coordenará a campanha do governador Marconi Perillo à presidência
do partido.
Ao mesmo tempo, abre caminho para uma reorganização ministerial,
deixando Temer com o cobiçado ministério das Cidades livre para
negociações. Com a decisão do governador de Goiás de não aceitar uma
candidatura de consenso para a presidência do PSDB, insistindo em
permanecer na disputa, fica claro que a candidatura do governador
paulista à presidência da República não é consensual.
A disputa pela presidência do partido será um divisor de águas, e se o
grupo do senador Aécio Neves demonstrar que ainda controla as bases
partidárias, provavelmente, aliado ao governo Temer, apresentará outro
candidato, que poderá ser o prefeito João Dória ou o próprio Perillo,
que há muito tem o sonho de se candidatar à presidência da República.
Ou se aliar a uma candidatura que represente uma eventual retomada
econômica, como a do ministro da Fazenda Henrique Meirelles, filiado ao
PSD de Kassab. Que, aliás, poderia apoiar também seu velho aliado, o
senador José Serra, que pretende disputar o governo de São Paulo.
O centro da disputa passou a ser o futuro do PSDB visto pelas lentes
do grupo do senador Aécio Neves, que já anunciou que pretende se
candidatar a um cargo majoritário nas próximas eleições, governador de
Minas ou senador.
Mesmo tendo o controle da maior base eleitoral do partido, o
governador Geraldo Alckmin não tem influência importante nas demais
máquinas estaduais, o que aparentemente o senador Aécio Neves mantém,
apesar dos percalços por que vem passando. Se a opção desse grupo for
mesmo por um candidato paulista como Dória em oposição a Alckmin, não
restará ao governador outra saída que ir para o PSB, uma alternativa que
estava em cogitação já desde que escolheu Marcio França para seu vice.
O PSB ganhará de qualquer maneira um governador de São Paulo, em
troca de apoio a Alckmin numa coligação ou, no limite extremo,
lançando-o à presidência da República. A montagem prevista por Fernando
Henrique, com a indicação de Alckmin como candidato de consenso à
presidência do PSDB, levaria a uma decisão antecipada do candidato do
partido à presidência, e a um ambiente mais pacificado.
A resistência até o momento de Marconi Perillo, e agora o anúncio de
que a saída de Bruno Araujo não significa o início da debandada tucana,
mas o reforço de uma candidatura a presidente do PSDB com o apoio do
Palácio do Planalto, demonstra que a estratégia do grupo de Aécio Neves é
mais ampla.
Controlando o partido no ano da eleição, esse grupo poderá impor as
soluções que lhe convierem. A destituição do presidente interino,
senador Tasso Jereissati, combinada com o próprio presidente Michel
Temer, faz parte de um acordo que certamente coloca o PMDB mais uma vez
em uma coligação eleitoral que, se será prejudicada pela baixa
popularidade governista e pela imagem fisiológica do partido, terá
recompensas com o tempo de televisão e a máquina governamental.
Além da esperança de que a economia estará em melhores condições em
2018, beneficiando os aliados do governo. Resta saber se os mecanismos
da velha política ainda serão úteis em um país que está polarizado entre
posições radicalizadas à esquerda e à direita, e ansiando pelo novo,
que tenta surgir, apesar do ambiente adverso.
O PSDB, que já representou o novo na política, corre o risco de um
triste fim, novamente se aliando ao PMDB velho de guerra,
transformando-se numa espécie de PMDB do B.
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