Operação Cadeia Velha pode representar fim do ciclo do PMDB no poder do Rio
Força-tarefa pretende avançar por etapas e fazer ações ostensivas
Chico Otavio, Daniel Biasetto, Miguel Caballero e Juliana Castro - O Globo
A Operação Cadeia Velha, desencadeada nesta terça-feira no Rio, pode
representar o fim de um ciclo de poder na política fluminense. Depois
das prisões do ex-governador Sergio Cabral e do ex-presidente da Câmara
Eduardo Cunha, a investigação alcançou o presidente da Assembleia do
Rio, Jorge Picciani, e seu colega Paulo Melo, os dois mais influentes
representantes do Parlamento do Rio. Em comum, todos os políticos
investigados compuseram o núcleo do comando do PMDB fluminense na última
década.
De acordo com os investigadores, Cabral não era o único chefe do
esquema. Picciani e Paulo Melo também faziam parte do comando
“horizontal”, formando uma verdadeira “confraria” do crime.
No MPF e na PF, os investigadores estão convencidos de que a Alerj é o
epicentro do esquema de corrupção mantido pelo PMDB fluminense. Foi de
lá que saiu Sergio Cabral para o Senado e, depois, para o governo do
Estado. Também passou por lá o ex-deputado Eduardo Cunha.
A força-tarefa pretende avançar por etapas e fazer ações ostensivas, como prisões e apreensões.
A cena do presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, sendo
conduzido até uma viatura policial no Aeroporto Santos Dumont, na manhã
de ontem, enquanto seu filho, Felipe, era preso em Minas Gerais,
espalhou incertezas nos corredores da Casa. Velhos aliados já duvidam da
capacidade dos chefes políticos de protegê-los.
Um dos temores está na prisão de Jorge Luiz Ribeiro, empresário
acusado de operar a propina destinada a Picciani. Na Assembleia, ele era
conhecido como o homem da mala, que só aparecia em anos eleitorais para
cevar de dinheiro a campanha dos aliados do presidente. Jorge não virá
mais. Pior: por ser um personagem lateral, é potencialmente candidato à
delação premiada.
O Ministério Público Federal sustenta que a propina foi paga por
empreiteiros e empresários ligados à Federação das Empresas de
Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).
Picciani também é acusado de operar como intermediário na distribuição
do dinheiro a outros parlamentares e de atuar como agente de lavagem de
dinheiro. Melo também foi conduzido coercitivamente.
O MPF pediu ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) que
determine a prisão de Picciani, Melo e do líder do governo Edson
Albertassi (PMDB), por cometerem crimes em flagrante. Os procuradores
sustentam que o flagrante existe porque o trio age até hoje, cometendo o
crime continuado de lavagem de dinheiro. Este pedido será submetido
pelo relator do caso, desembargador Abel Gomes, ao colegiado da Seção
Criminal do TRF-2, formada pelos seis desembargadores das turmas de
Direito Penal, em sessão especial que deve ocorrer amanhã.
O delegado Ramagem Rodrigues afirmou ontem que “o conluio criminoso
se traduzia em excessivos benefícios fiscais em favor de determinadas
empresas e empreiteiras, que levaram a que o estado deixasse de
arrecadar em um período de cinco anos mais de R$ 183 bilhões,
ocasionando o atual colapso nas finanças do estado”.
Em delação decisiva para os investigadores, o empresário Marcelo
Traça Gonçalves, ex-vice do conselho de administração da Fetranspor,
detalhou como os empresários do setor se organizaram para corromper
deputados estaduais durante quase três décadas.
O doleiro Álvaro José Novis, dono da corretora Hoya, contou que
intermediou, na condição de agente financeiro, a propina da Fetranspor
entregue regularmente a Picciani. Já o ex-presidente do Tribunal de
Contas do Estado (TCE) Jonas Lopes de Carvalho, em depoimento dado no
âmbito da Operação “Quinto do Ouro”, apresentou Picciani como
intermediário da negociação de propina entre a federação e os
conselheiros do TCE-RJ.
Nenhum comentário:
Postar um comentário