Análise: Expulsão do governo seria derrota para o PSDB
Partido perderia chance de reencontrar discurso ético com vista às eleições de 2018
Silvia Amorim - O Globo
Se há algo em que cabeças brancas e pretas estão de acordo no PSDB é que uma expulsão do partido do governo Temer
seria o pior dos cenários hoje para o tucanato. Ela não deixaria
vencedores e vencidos, mas apenas derrotados — tanto os que pregam o
desembarque quanto os que sempre defenderam a permanência.
A explicação é simples. A razão maior do movimento de tucanos pelo
afastamento do PSDB do governo Temer é recuperar a credibilidade do
partido para a próxima eleição. A ruptura com "os caras" do Planalto
daria ao PSDB a chance de se reencontrar com o discurso ético, perdido
desde que o então presidente nacional da sigla, Aécio Neves, foi
flagrado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista. É isso com
que sonham todos os tucanos que enfrentarão as urnas em 2018, como o
governador Geraldo Alckmin, principal nome do PSDB à Presidência da
República.
O problema é que um pé na bunda público vindo de Temer neste momento
bagunçaria todo esse enredo e, portanto, não interessa nem aos que tanto
desejam estar longe do PMDB. Afinal, o objetivo primordial de tanto
barulho no tucanato — resgatar a narrativa eternizada por Franco Montoro
na fundação do partido "Longe das benesses do poder e perto do pulsar
das ruas" — se tornaria fumaça.
"Humilhação"
é a palavra mais dita hoje por tucanos quando incitados a calcular os
efeitos para a imagem do partido de uma saída pela porta dos fundos,
para usar a expressão mais corrente hoje no tucanato para referir-se a
um desembarque pelas mãos de Temer.
— Tem uma grande diferença entre pedir demissão e ser demitido,
certo? É a mesma coisa com a situação do PSDB — resumiu uma liderança do
partido em São Paulo.
Por motivos óbvios, a alternativa "ser saído" também não faria
vencedores na turma dos que sempre defenderam ficar no governo. A
retirada, independentemente da forma como se daria, representaria o
afastamento desse grupo político da máquina pública e, consequentemente,
o fim de todos os benefícios que ela oferece.
Quem viu os resultados da pesquisa sobre a imagem do partido
concluída há poucas semanas diz que a situação do PSDB é de doente
terminal, cuja única alternativa é uma terapia de choque. É preciso
convencer seu eleitorado, hoje em litígio com a legenda, que uma
refundação devolveria valores abandonados pelo caminho, como a
moralização da política e o compromisso com o interesse público. Há quem
avalie ainda que, sem uma punição a Aécio, não haveria ganhos
significativos de imagem.
O discurso do senador mineiro na convenção do PSDB em Minas Gerais,
no sábado passado, deixou claro que a saída do PSDB do governo Temer é
questão de tempo. A dúvida que fica é se, quando ela acontecer, ainda
servirá para alguma coisa ou não ao partido.
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