Paes, Pezão e Cabral atuaram para direcionar licitações, diz marqueteiro
FÁBIO FABRINI/LETÍCIA CASADO/REYNALDO TUROLLO JR. - FSP
Nos depoimentos prestados à PGR (Procuradoria-Geral da República), ele
relatou reuniões e conversas com os três peemedebistas para combinar
fraudes nos processos de concorrência.
Pereira disse que, em 2015, foi aberto um novo edital para selecionar as agências prestadoras de serviço para o governo do Rio.
"Indiquei diretamente a Fernando Pezão
as agências Propeg e Nacional, que se sagraram vencedoras, juntamente
com a Prole e outras três, após direcionamento do certame", contou.
Pezão teria solicitado que um de seus subordinados, na Secretaria de
Comunicação, fosse avisado do "acerto". Como parte da negociação,
segundo ele, a Propeg repassaria à Prole parte de seus ganhos com o
contrato.
Trechos da delação foram antecipados pelo jornal "O Globo". Na terça
(14), o STF (Supremo Tribunal Federal) levantou o sigilo do caso.
Pereira explicou que as fraudes começaram logo que Cabral chegou ao Palácio da Guanabara, em 2007.
Naquela ocasião, o então governador, atualmente preso pela Lava Jato,
teria indicado já na primeira concorrência as agências que ganhariam
contas oficiais, entre elas a Prole. "Tal procedimento licitatório foi
direcionado e as cinco agências vencedoras foram previamente escolhidas
pelo próprio governador", disse Pereira.
Ele afirmou que as agências, uma vez contratadas, precisavam que os
órgãos encomendassem campanhas. Por isso, era necessário fazer uma
espécie de "leilão de propinas" para que as autoridades responsáveis
efetivamente demandassem os serviços.
Pereira disse que Cabral determinava até o montante a ser repassado a
veículos de mídia, com base em interesses políticos. Assim, emissoras de
TV vinculadas a políticos poderiam, por exemplo, receber verbas
desproporcionais à sua audiência.
O colaborador também implicou Paes nas supostas negociatas. Num dos
depoimentos, contou que, em 2015, reuniu-se com ele para convencê-lo a
dar um contrato de acompanhamento das Olimpíadas à FSB Comunicação.
"Marquei um encontro com Eduardo Paes na prefeitura e o convenci sobre a
pertinência de selecionar a FSB. Minha argumentação foi acatada e o
procedimento foi direcionado em favor da FSB."
Segundo ele, a partir disso, o então prefeito entrou em contato com um
de seus subordinados, que teria passado a dirimir dúvidas ou solicitar
informações. Um outro contrato da FSB, para atuar em mídias digitais,
também teria sido direcionado.
OUTRO LADO
A Nacional negou envolvimento em qualquer acerto de licitação. A Propeg
informou que as "supostas acusações" são "irresponsáveis, sem fundamento
e que jamais negociou qualquer acordo com a Prole". A agência
acrescentou que "todas as licitações das quais participa" são em
conformidade com a lei.
A FSB disse, em nota, que são "absolutamente inverídicas" as afirmações
de Pereira. Informou que as duas concorrências da prefeitura do Rio
foram fiscalizadas pelos "órgãos de controle e jamais foram objeto de
qualquer questionamento". Afirmou também que, caso a Prole tivesse o
poder de "direcionar" contrato, "faria mais sentido que ela própria
disputasse a licitação", o que não ocorreu.
"Pautamos nossa atuação por um código de conduta e ética baseado em
normas de compliance. Por tudo isso, estamos permanentemente à
disposição para prestar esclarecimentos sobre nossa atuação",
acrescentou a FSB.
Paes respondeu que "a Prefeitura do Rio realizou a licitação para
publicidade obedecendo às regras da lei, em processo aprovado por órgãos
de controle interno e externo do município, como Procuradoria Geral do
Município, Controladoria Geral do Município e Tribunal de Contas do
Município".
"Certamente a comissão de licitação e o próprio procedimento licitatório
poderão esclarecer que não houve qualquer interferência minha (Eduardo
Paes) na escolha de qualquer empresa."
A Folha não localizou nesta quarta (15) as assessorias de Pezão e Cabral.
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