Rodrigo Constantino - VEJA
Em um ensaio
publicado hoje no caderno Eu & Fim de Semana, do jornal Valor
Econômico, Joel Pinheiro, editor da excelente revista
Dicta&Contradicta, descreve um bom resumo das novidades que têm
ocorrido no âmbito cultural e político no país.
Joel divide a “nova direita” entre
libertários e conservadores. O ponto-chave é que esse movimento,
espontâneo, não vem das fontes tradicionais, como a academia, a grande
imprensa ou o meio artístico. É algo que nasce de baixo para cima,
usando bastante a internet, as redes sociais, os blogs, e que vem
ganhando corpo a cada dia.
O lado mais conservador, segundo Joel, é
marcado pelo ódio ao PT e pelo foco maior na guerra cultural, ou seja, a
ideia de que o marxismo cultural é o verdadeiro inimigo. Olavo de
Carvalho seria o grande mentor deste grupo.
Já a parte libertária não gosta de se
identificar com a direita tradicional, e alguns chegam a usar o termo
“esquerda libertária”. São pela legalização das drogas, do aborto, e
flertam com a anarquia, ao enxergar na existência do estado toda a
origem do mal.
Os liberais clássicos ficariam em algum lugar no meio do caminho. Joel inclusive me cita como exemplo:
O pouco de
liberalismo que o Brasil conheceu foi sempre visto como uma agenda
tecnocrática de economistas, gente que transita entre a teoria econômica
pura e o mercado financeiro. Justa ou injustamente, é tachado de
pensamento da elite. Além disso, sempre conviveu com o conservadorismo
cultural. Essa associação ainda é comum, como no caso de Rodrigo
Constantino, que iniciou sua carreira como liberal radical e vem cada
vez mais adotando o discurso conservador. O liberalismo brasileiro
clássico é, assim, facilmente classificável como direita.
Se é direita ou não, eu não saberia dizer
ao certo. Sem dúvida tem afinidade maior com a direita tradicional,
quando pensamos em Reagan e Thatcher, por exemplo. O foco na teoria
econômica pura é um fato presente no liberalismo brasileiro, o que
considero um equívoco. Justamente por isso ocorreu essa minha
aproximação maior com os conservadores. O liberalismo não sobrevive num
vácuo de valores morais, que são os pilares que sustentam a própria
liberdade.
Outro fator que tem me levado mais para
perto do conservadorismo da linha britânica é justamente a rejeição às
utopias revolucionárias. O próprio Joel destaca esse critério como
importante na distinção entre as duas correntes:
Conservadores
olham para o passado: querem conservar os valores da civilização
ocidental e as instituições vistas como suas principais representantes –
a igreja, a família, o Estado democrático de direito, os direitos
naturais. Podem ser até liberais em economia, mas seu coração não está
na liberdade enquanto tal. Já libertários olham para o futuro sem medo
de criar utopias e apostar nas mudanças revolucionárias que sua proposta
trará. O Estado é visto ou como uma barreira à criação do novo ou como
um definidor de caminhos fixos para a mudança, proibindo e barrando
caminhos alternativos.
As utopias revolucionárias raramente
entregam os resultados prometidos. Diria até que jamais o fazem, e por
isso são utopias. Revoluções começam repletas de boas intenções, mas
costumam terminar mal. A única louvável, a americana, não chegou a ser
bem uma revolução, pois muitos “pais fundadores” eram mais
conservadores, como John Adams, e lutavam justamente para preservar valores importantes herdados dos britânicos.
Fosse um movimento liderado apenas por
libertários mais radicais como Thomas Paine e Thomas Jefferson, não
sabemos dizer se o resultado teria sido o mesmo. A Constituição
americana não é, definitivamente, um documento libertário, mas sim
liberal clássico com cores conservadoras.
Enfim, há várias divergências entre
libertários, liberais clássicos e conservadores, sem dúvida. Mas o fato
novo é que todos, à sua maneira, lutam contra o status quo
intervencionista, a hegemonia de esquerda, política e cultural. E essa
“nova direita”, que seja, tem incomodado muito os verdadeiros
reacionários, a esquerda incrustada no poder e infiltrada na academia,
na imprensa, nas igrejas.
Essa hegemonia vai chegar ao fim. Ó abre alas que eu quero passar…
PS: A união voltada para as convergências
é, hoje, muito mais relevante do que as brigas calcadas nas
divergências. Afinal, não faz muito sentido discutir libertarianismo
contra conservadorismo sob um governo bolivariano como o venezuelano,
faz? Evitar tal destino é a prioridade número um, dois e três da “nova
direita”.
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