sábado, 1 de fevereiro de 2014

A nova direita vem aí. Ou: Abre alas que eu quero passar
Rodrigo Constantino - VEJA


Fonte: Valor
Em um ensaio publicado hoje no caderno Eu & Fim de Semana, do jornal Valor Econômico, Joel Pinheiro, editor da excelente revista Dicta&Contradicta, descreve um bom resumo das novidades que têm ocorrido no âmbito cultural e político no país.
Joel divide a “nova direita” entre libertários e conservadores. O ponto-chave é que esse movimento, espontâneo, não vem das fontes tradicionais, como a academia, a grande imprensa ou o meio artístico. É algo que nasce de baixo para cima, usando bastante a internet, as redes sociais, os blogs, e que vem ganhando corpo a cada dia.
O lado mais conservador, segundo Joel, é marcado pelo ódio ao PT e pelo foco maior na guerra cultural, ou seja, a ideia de que o marxismo cultural é o verdadeiro inimigo. Olavo de Carvalho seria o grande mentor deste grupo.
Já a parte libertária não gosta de se identificar com a direita tradicional, e alguns chegam a usar o termo “esquerda libertária”. São pela legalização das drogas, do aborto, e flertam com a anarquia, ao enxergar na existência do estado toda a origem do mal.
Os liberais clássicos ficariam em algum lugar no meio do caminho. Joel inclusive me cita como exemplo:
O pouco de liberalismo que o Brasil conheceu foi sempre visto como uma agenda tecnocrática de economistas, gente que transita entre a teoria econômica pura e o mercado financeiro. Justa ou injustamente, é tachado de pensamento da elite. Além disso, sempre conviveu com o conservadorismo cultural. Essa associação ainda é comum, como no caso de Rodrigo Constantino, que iniciou sua carreira como liberal radical e vem cada vez mais adotando o discurso conservador. O liberalismo brasileiro clássico é, assim, facilmente classificável como direita. 
Se é direita ou não, eu não saberia dizer ao certo. Sem dúvida tem afinidade maior com a direita tradicional, quando pensamos em Reagan e Thatcher, por exemplo. O foco na teoria econômica pura é um fato presente no liberalismo brasileiro, o que considero um equívoco. Justamente por isso ocorreu essa minha aproximação maior com os conservadores. O liberalismo não sobrevive num vácuo de valores morais, que são os pilares que sustentam a própria liberdade.
Outro fator que tem me levado mais para perto do conservadorismo da linha britânica é justamente a rejeição às utopias revolucionárias. O próprio Joel destaca esse critério como importante na distinção entre as duas correntes: 
Conservadores olham para o passado: querem conservar os valores da civilização ocidental e as instituições vistas como suas principais representantes – a igreja, a família, o Estado democrático de direito, os direitos naturais. Podem ser até liberais em economia, mas seu coração não está na liberdade enquanto tal. Já libertários olham para o futuro sem medo de criar utopias e apostar nas mudanças revolucionárias que sua proposta trará. O Estado é visto ou como uma barreira à criação do novo ou como um definidor de caminhos fixos para a mudança, proibindo e barrando caminhos alternativos. 
As utopias revolucionárias raramente entregam os resultados prometidos. Diria até que jamais o fazem, e por isso são utopias. Revoluções começam repletas de boas intenções, mas costumam terminar mal. A única louvável, a americana, não chegou a ser bem uma revolução, pois muitos “pais fundadores” eram mais conservadores, como John Adams, e lutavam justamente para preservar valores importantes herdados dos britânicos.
Fosse um movimento liderado apenas por libertários mais radicais como Thomas Paine e Thomas Jefferson, não sabemos dizer se o resultado teria sido o mesmo. A Constituição americana não é, definitivamente, um documento libertário, mas sim liberal clássico com cores conservadoras.
Enfim, há várias divergências entre libertários, liberais clássicos e conservadores, sem dúvida. Mas o fato novo é que todos, à sua maneira, lutam contra o status quo intervencionista, a hegemonia de esquerda, política e cultural. E essa “nova direita”, que seja, tem incomodado muito os verdadeiros reacionários, a esquerda incrustada no poder e infiltrada na academia, na imprensa, nas igrejas.
Essa hegemonia vai chegar ao fim. Ó abre alas que eu quero passar…
PS: A união voltada para as convergências é, hoje, muito mais relevante do que as brigas calcadas nas divergências. Afinal, não faz muito sentido discutir libertarianismo contra conservadorismo sob um governo bolivariano como o venezuelano, faz? Evitar tal destino é a prioridade número um, dois e três da “nova direita”.

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