Tensões e ajustes
Autoridades precisam mostrar que aprenderam com os erros recentes e agir para proteger o país da crescente turbulência global
FSP
Não tem cabimento esperar que governos expressem opiniões pessimistas a
respeito do ambiente econômico, doméstico ou global. Poderiam parecer
quase anódinas, por esse motivo, as recentes manifestações de
autoridades brasileiras em relação aos efeitos que a turbulência
financeira internacional terá no Brasil.
Em resumo, integrantes graduados do governo Dilma Rousseff (PT) têm dito
que o país não foi engolfado pela "crise dos emergentes".
Não obstante serem verdadeiras as afirmações de que o Brasil dispõe de
defesas, tais como grande volume de reservas internacionais em moeda
forte, e de que indicadores econômicos fundamentais não estão em estado
crítico, teme-se que a demonstração de tranquilidade possa traduzir uma
predisposição para novas negligências.
O governo corre o risco de subestimar o problema da finança
internacional. Pode ser que nem venha a ocorrer uma "crise" propriamente
dita, com desfechos dramáticos para as tensões que abalam países
emergentes, como o Brasil. Mas tais tensões já causam efeitos muito
concretos.
Economias relevantes fora do mundo desenvolvido elevaram os juros a fim
de se protegerem de desvalorizações extremas de suas moedas e de fugas
de capital. Como resultado, devem crescer menos.
O crescimento mais lento de China e demais emergentes reduz pressões
inflacionárias no mundo inteiro. Essa aparente boa notícia, porém, tem
potencial para afetar a Europa, que enfrenta risco oposto, o de
deflação. Na prática, isso se traduziria numa alta da taxa de juros num
continente que mal saiu da recessão.
Os problemas do momento são fruto, de resto, de um processo que mal teve
início --o ajuste da política monetária americana (redução de estímulos
e alta de juros) e a redução do ritmo chinês de crescimento. Novas
rodadas de tensão e ajuste ocorrerão. Nesse ambiente, podem ocorrer
acidentes financeiros, em parte devido ao comportamento de manada dos
mercados financeiros.
O Brasil nada pode fazer a respeito dessa reconfiguração financeira, a
não ser reforçar os alicerces de sua economia, fragilizados no último
triênio. Países com deficit, inflação e desequilíbrios negativos nas
transações com o exterior ficarão especialmente expostos a riscos de
reveses nessa transição.
Muito mais do que palavras tranquilizadoras, as autoridades precisam
demonstrar que aprenderam com os erros recentes e agir de modo a
proteger o país da turbulência. O primeiro passo é evitar incertezas na
gestão do Orçamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário