A partidarização das agências
O Estado de S.Paulo
A atitude do Senado de só examinar a proposta de
recondução de Jorge Luiz Macedo Bastos ao cargo de diretor da Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) depois de terminado o mandato
que ele exercia é a mais recente demonstração de como a briga por cargos
entre os partidos governistas ameaça a atuação das agências
reguladoras.
No ano em que, como promete o governo Dilma, as concessões para
investidores privados de rodovias, ferrovias e portos ganharão a
velocidade necessária para reduzir os riscos de novos gargalos na área
de infraestrutura, as agências reguladoras encarregadas de definir o
modelo dessas concessões e administrar o processo estavam ameaçadas de
paralisia por falta de comando. Sem a recondução de Bastos, a ANTT,
responsável pelas concessões de rodovias e ferrovias, ficaria sem quórum
para tomar decisões. O problema persiste na Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (Antaq), responsável pelas concessões
portuárias.
Quando, há um ano, a presidente Dilma Rousseff afirmou que as
agências reguladoras "devem atuar de forma técnica, de forma sempre que
possível preventiva, para assegurar níveis de qualidade para os serviços
que regulam", parecia que, afinal, o governo petista havia entendido o
papel desses órgãos. "É fundamental que as agências sejam
profissionalizadas cada vez mais, que elas tenham menos interferência
política", disse Dilma, após a cerimônia em que anunciou medidas de
proteção ao consumidor.
Em março de 2012, por causa de divergências com o Palácio do
Planalto, partidos da base governista no Senado impuseram uma grave
derrota à presidente, ao rejeitar a indicação de Bernardo Figueiredo
para a ANTT. A declaração em favor do que poderia ser chamado de
"despolitização" das agências, feita por Dilma um ano depois desse
episódio, parecia destinada a recolocar em termos técnicos uma questão
que, para benefício dos cidadãos, nunca deveria ter deixado de ser
técnica.
Desde então, porém, nada mudou no relacionamento do governo com as
agências nem, muito menos, arrefeceu o apetite dos partidos da base por
cargos e influência nos órgãos reguladores.
Persiste o sistema de "toma lá dá cá" nas negociações entre os dois
maiores partidos da base, o PT e o PMDB, como mostrou o episódio da
escolha, em agosto, dos novos diretores da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS). A aprovação do nome indicado por um dos partidos para uma das
agências foi condicionada à aprovação do nome indicado pelo outro para a
segunda agência.
O caso da ANTT parece sintetizar as mazelas desse sistema de trocas
quando não se chega a um acordo que interesse aos partidos envolvidos.
Desde a rejeição da indicação de Figueiredo, o governo Dilma não havia
submetido ao Senado nenhuma indicação de diretores. Só um dos cinco
diretores da agência tinha sido sabatinado e aprovado pelo Senado.
Trata-se justamente de Jorge Bastos, cujo mandato expirou na terça-feira
(18/2). Embora não tivesse sido aprovado para o cargo de diretor-geral
da ANTT, Bastos vinha exercendo a função porque os três demais diretores
em atividade (há um quinto cargo não preenchido) foram nomeados em
caráter interino pelo governo, para evitar a paralisação da agência. A
recondução de Bastos foi proposta pelo governo em novembro do ano
passado, mas só agora o Senado a examinou.
Também expirou o mandato do diretor-geral da Antaq, o ex-ministro dos
Portos Pedro Brito, que é o único diretor sabatinado e aprovado pelo
Senado. Ainda não há indicação de nome para substituí-lo.
Se em condições estruturais mais adequadas as agências já enfrentavam
dificuldades técnicas para definir os modelos de concessão nas áreas de
sua responsabilidade - como mostram as frequentes objeções do Tribunal
de Contas da União a critérios e exigências por elas sugeridos para
leilões realizados recentemente e outros programados para os próximos
meses -, sem um comando estável sua capacidade de ação ficará ainda mais
prejudicada.
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