A indústria ainda fraca
O Estado de S.Paulo
Se depender da produção industrial, o crescimento
econômico será novamente muito fraco neste ano, segundo a sondagem
divulgada nesta quarta-feira pela Confederação Nacional da Indústria
(CNI). A produção voltou a cair em fevereiro, segundo as empresas
cobertas pela pesquisa, mas há pelo menos uma notícia positiva nas
primeiras linhas do comunicado: a queda foi menor que a de janeiro e a
de fevereiro do ano passado. Os indicadores desse levantamento variam de
zero a 100 pontos. Os números abaixo de 50 correspondem a avaliações
negativas. O contrário vale para aqueles acima dessa divisória. A
evolução da atividade em relação a janeiro ficou, na média, em 48,3
pontos, em território negativo, mas pouco melhor que o registrado no mês
anterior. Desde novembro os indicadores estão abaixo de 50 pontos.
A maior parte da indústria continua operando com folga, mas no mês
passado o uso da capacidade instalada aumentou ligeiramente, de 70% para
72%, e ficou mais próximo da usual. O nível de estoques em relação ao
desejado ficou praticamente estável, embora em nível ainda
insatisfatório. Esse dado parece combinar com as últimas pesquisas sobre
intenção de consumo. Os números têm oscilado, mas em geral apontam um
certo arrefecimento da disposição de comprar, depois de anos de forte
crescimento das vendas no varejo. O levantamento mais recente, divulgado
também na quarta-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou uma
elevação de 0,1% em março, depois de quedas de 2,1% em janeiro e 1,7% em
fevereiro. O índice de fevereiro, 107,2 pontos, ficou bem abaixo da
média histórica, 116,3 pontos. Isso também ocorreu nos 13 meses
anteriores. A CNI também produz um índice nacional de expectativa do
consumidor. O próximo deve ser divulgado hoje.
A sondagem industrial da CNI inclui, além de informações sobre os
níveis de atividade, de estoques e de utilização da capacidade
instalada, dados sobre expectativas em relação à demanda, volume de
exportações, compras de matérias-primas e número de empregados. As
expectativas de demanda, quantidade exportada e compra de material
permaneceram positivas e com indicadores iguais aos de janeiro.
Em relação ao número de empregados, o otimismo demonstrado foi um
pouco maior que o do mês anterior, porque o índice passou de 51,1 para
51,8 pontos. Mas é importante lembrar, quanto a este último indicador, a
redução do emprego industrial no ano passado. Embora tenham procurado
reter a mão de obra, especialmente a de maior qualificação, as empresas
do setor acabaram demitindo. Foi uma das consequências do baixo nível de
atividade nos últimos três anos, com retração em 2012 e modestíssima
recuperação em 2013.
A presidente Dilma Rousseff tem alardeado a abertura de postos de
trabalho nos últimos anos, mas tem omitido alguns detalhes muito
importantes para a avaliação do quadro atual e das perspectivas
econômicas do País. Os serviços têm sido a principal fonte de novos
empregos, em atividades pouco produtivas. Ocupações de qualidade muito
superior seriam criadas pela indústria, se o governo houvesse dado mais
atenção às condições de eficiência e de competitividade do setor.
O baixo poder de competição da indústria tem resultado na perda de
fatias tanto no mercado externo quanto no interno, como têm mostrado os
números oficiais do comércio e os levantamentos da CNI. A sondagem
recém-divulgada aponta algum otimismo em relação às exportações. Mas
esse otimismo, no conjunto, é ligeiramente menor que o registrado um ano
antes, no caso da indústria de transformação. Em março de 2013, o
indicador de expectativa em relação à quantidade exportada estava em
54,8 pontos. A nova sondagem apontou 53,3.
Uma taxa de câmbio mais desvalorizada poderá dar algum impulso às
exportações, mas o poder de competição da indústria depende de outros
fatores, alguns externos, como a logística, outros internos, como a
produtividade da mão de obra. Com o primeiro trimestre quase encerrado, é
difícil de apontar alguma melhora significativa no quadro.
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