Tempestade perfeita
João Bosco Rabello - O Estado de S.Paulo
Antes uma possibilidade, com o sentido de alerta aos
gestores, a tempestade perfeita - a conjugação de erros na gestão
econômica interna com fatores externos de influência negativa - parece
ter chegado para o governo Dilma Rousseff, acrescida de sua versão
política.
O ex-ministro Delfim Neto considerava, tempos atrás, que a tempestade
perfeita ocorreria no Brasil se a deterioração da economia resultasse
no rebaixamento da nota de crédito do país, sinalizando para risco maior
aos investidores, já distanciados pela desconfiança com o governo.
O rebaixamento acaba de ocorrer em um cenário de aumento dos gastos
públicos, inflação em alta, contas maquiadas e ajustes fiscais adiados
por conveniência eleitoral. Outro dado que, por si só, bastaria para
deflagrar a crise, se junta agora ao contexto: a depreciação do capital
político e econômico da Petrobrás.
Depois de ocupar a 12.ª posição entre as empresas de maior valor de
mercado no planeta, a Petrobrás caiu para a 120.ª - nada menos que 100
posições. E viu sua imagem de maior símbolo nacional, que a fez
carro-chefe da propaganda política de todos os governos, inclusive o
atual, abalada por evidências de corrupção produzidas no âmbito de sua
diretoria.
O estopim da crise foi a própria presidente da República, ao se dizer
ludibriada pela diretoria da empresa, materializando uma denúncia de
fraude que pôs sob suspeita de corrupção a operação comercial de compra
da refinaria de Pasadena, no Texas. Nenhum mérito, pois, à oposição,
nessa grave revelação sobre a Petrobrás.
É onde começa a tempestade política com a junção de um escândalo de
corrupção, gerador de uma CPI a sete meses da eleição, a uma
insatisfação crescente espalhada pelas áreas de educação, saúde,
segurança, meio ambiente e desemprego, entre outras registradas pela
última pesquisa como fatores da queda de aprovação do governo de 43%
para 36%.
O quadro ainda não retira à presidente a condição de favorita, como
mostra a permanência de seu índice de 43% na corrida presidencial, mas o
consolida como teto, diante das dificuldades de reversão dos fatores
adversos que construiu.
O índice sempre foi de risco para quem tenta a reeleição, agravado
pela constatação de que o governo começa a perder a corrida contra o
relógio, síntese para a estratégia adotada de adiar as consequências da
gestão temerária da economia, contaminada pela campanha eleitoral
antecipada.
A crise deu à oposição uma CPI que o governo tenta inviabilizar
ampliando a investigação para além da Petrobrás, velho recurso para
reduzir danos, que não lhe poupa, contudo, do ônus de confessar que tem o
que esconder.
Alvoroço. A confirmação da candidatura de
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) ao governo do Rio Grande do Norte
antecipou a disputa pela sua sucessão. O mais assanhado é o petista
Marco Maia, antecessor de Henrique Alves no cargo, que, por ora, negocia
no âmbito de seu partido. Por fora, sem admitir ainda, corre o líder do
PMDB, Eduardo Cunha (RJ).
Em famílias. Para fazer do irmão Ciro, senador, o
governador do Ceará, Cid Gomes, deverá renunciar e apoiar o senador
Eunício Oliveira (PMDB), líder nas pesquisas, à sua sucessão. A operação
irrita o PT que pretendia o Senado para o deputado José Guimarães,
irmão de José Genoino, e quis fazer Eunício ministro para tirá-lo do
páreo.
Blog. Aécio forma comissão para escolher candidato tucano no DF.
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