Falta muita coisa no SUS
O Estado de S.Paulo
Faltam leitos, faltam profissionais de saúde, faltam
medicamentos e insumos hospitalares, faltam equipamentos - e, quando há,
podem estar obsoletos ou sem manutenção -, a estrutura física muitas
vezes é inadequada e os recursos de tecnologia de informação são
insuficientes. Estes são alguns dos "problemas graves, complexos e
recorrentes" detectados por uma auditoria inédita do Tribunal de Contas
da União (TCU) sobre a assistência hospitalar no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS). Os brasileiros que precisaram recorrer aos serviços do
SUS conhecem alguns desses problemas, mas o levantamento feito por
auditores do TCU mostra com precisão numérica a real situação desses
hospitais.
Em 2013, ano em que foi feito o levantamento, existiam 5.208
hospitais gerais e 417 prontos-socorros gerais ligados ao SUS. A
pesquisa abrangeu 116 unidades (2% do total), distribuídas por todos os
Estados e pelo Distrito Federal. Como a pesquisa foi concentrada nos
hospitais maiores, o número de leitos da amostra (27.614) corresponde a
8,6% do total disponível no SUS (321.340 leitos).
A redução do número de leitos por habitante vem ocorrendo em boa
parte do mundo. Esse fenômeno está sendo registrado também no SUS. Mas,
ao contrário do que ocorre nos países industrializados, onde a redução
não resulta em piora do atendimento da população, aqui ela torna piores
os índices que já eram ruins.
Em 1995, o Brasil tinha, em média, 3,22 leitos hospitalares por 1.000
habitantes, mas em 2010 o índice tinha caído para 2,63. Também o índice
médio dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) vem caindo (de 5,4 em 2000 para 4,6 em 2010). Na OCDE,
porém, a redução se deveu em parte ao avanço da tecnologia, que permitiu
o aumento do número de procedimentos que não necessitam de internação.
A consequência mais óbvia da redução do número de leitos no Brasil é a
superlotação de boa parte dos hospitais, especialmente do setor de
emergências. Dirigentes de 64% dos hospitais avaliados pelo TCU
informaram que há superlotação nas emergências. Pacientes atendidos ou
internados em corredores, em macas, em cadeiras e em bancos não são
cenas raras nesses hospitais.
A falta de articulação entre os programas públicos de saúde e a
provável ineficácia de alguns deles acabam empurrando mais pacientes
para a área de emergência, tornando mais grave o problema da
superlotação. Com dificuldade de acesso aos serviços de atenção básica,
que não cobrem todo o País, parte da população procura os serviços de
emergência. Dirigentes de 58% dos hospitais informaram que mais da
metade dos pacientes atendidos na emergência apresenta problemas de
baixa gravidade ou urgência.
Mais da metade dos estabelecimentos apresentou, em 2012, taxas de
ocupação superiores a 85%, fato que se repetiu no primeiro semestre do
ano passado. É um índice superior ao considerado desejável pelo
Ministério da Saúde (de 80% a 85%), o que pode indicar superlotação. Das
116 instituições fiscalizadas, 94 (ou mais de 80%) não tinham o quadro
profissional completo. A falta de pessoal resulta na não realização de
procedimentos necessários, ou sua realização em padrões inferiores, e
até no bloqueio de leitos, que já são escassos.
A falta de medicamentos e insumos foi apontada como problema por 25
hospitais avaliados. Mas não é improvável, segundo os auditores do TCU,
que outros hospitais venham utilizando medidas paliativas, como a
substituição de materiais por outros menos adequados para determinados
procedimentos ou tratamentos.
Quanto a equipamentos, 89 hospitais careciam de algum aparelho. Por
falta de equipamentos mínimos para seu funcionamento, 251 leitos estavam
bloqueados. Quanto à estrutura física, 85 hospitais disseram que é
inadequada, por causa do mau estado de conservação, projeto
arquitetônico ruim ou defasado e utilização de imóvel projetado para
outras finalidades. Em plena era do computador, 11% dos hospitais
visitados disseram não possuir sistema informatizado.
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