Sufoco no metrô
O Estado de S.Paulo
Pegar o metrô, outrora o meio de transporte público mais
confiável de São Paulo, tornou-se nos últimos tempos um tormento
rotineiro. As frequentes falhas que retardam seu funcionamento se aliam à
superlotação para transformar em um drama imprevisível uma viagem que
deveria ser rápida e tranquila, inclusive aos finais de semana. Quase
não há mais horário em que o volume de passageiros não esteja próximo ou
além da capacidade dos trens e das plataformas, fazendo da disputa
pelos espaços uma verdadeira guerra diária. Para resumir a crise do
sistema, o Sindicato dos Metroviários informa que atualmente ocorre no
sistema metroviário uma pane de grandes dimensões a cada três dias - em
2009, a proporção era de uma falha a cada seis dias.
O crescimento desses incidentes - que levam ao menos seis minutos
para serem contornados, levando à interrupção do serviço - é resultado
da superlotação e do estado das composições. Especialistas observam que,
como os vagões viajam cada vez mais cheios, é natural que os
passageiros impeçam com mais frequência o fechamento das portas, o que
retarda a partida do trem.
Segundo o sindicato, registraram-se 113 falhas "notáveis" em 2013,
contra 55 em 2009. O levantamento indica que houve aumento constante ano
a ano, enquanto o período anterior registrou estabilidade e até queda
no total de incidentes. O Metrô contesta os números, afirmando que houve
71 falhas "notáveis" no ano passado, mesmo número de 2012. O sindicato
argumenta que o Metrô ignorou, em sua estatística, parte dos incidentes
"notáveis" provocados pela interação dos passageiros com o sistema -
justamente o tipo de ocorrência que aumentou nos últimos anos em razão
do excesso de usuários.
Seja como for, o Metrô admite que as falhas são resultado direto da
saturação do sistema, pois elas são proporcionais ao número de viagens e
de passageiros transportados. "Há mais de 4.500 viagens realizadas, 74
mil quilômetros percorridos e 3 milhões de ciclos de abertura e
fechamento de portas", declarou a empresa para justificar os problemas,
dizendo que "todos os sistemas de metrô do mundo estão sujeitos a
falhas".
A situação tende a piorar nos próximos anos, pois a malha ferroviária
paulistana, incluindo-se a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
(CPTM), não cresce para absorver o acréscimo de passageiros - atraídos
pelas novas estações, pela facilidade do Bilhete Único e pela velocidade
desse meio de transporte na comparação com o trânsito cronicamente
engarrafado.
O excesso de passageiros é tamanho que o Metrô parece ter atingido
seu limite. Em 2013, pela primeira vez em dez anos, houve queda na média
de passageiros em dias úteis, de 3,750 milhões para 3,743 milhões, o
que, para especialistas, prova que não há mais como absorver a demanda.
O projeto original do Metrô, de 1968, previa 75 estações - hoje,
quatro décadas depois, há apenas 58. As quatro linhas planejadas
inicialmente deveriam ter sido totalmente concluídas em 1987, com 66,2
quilômetros. Essa extensão, contudo, só foi atingida em 2007. Hoje, o
sistema tem 74,3 quilômetros, modesto em relação ao de cidades muito
menores, como Santiago do Chile, que tem 103 quilômetros.
Considerando-se que nos anos 60 o governo prometia construir uma malha
de 360 quilômetros até 1990, percebe-se que o atraso tem sido a marca da
expansão desse sistema de transporte.
Como a procura pelo Metrô só tende a aumentar, conforme indicam as
estatísticas, é provável que todo o esforço do governo estadual para
ampliar o serviço - há hoje quatro frentes de trabalho simultâneas -
seja suficiente apenas para atenuar brevemente a sensação de falência do
sistema, que não tem como acompanhar a demanda.
Assim, por mais que o Metrô tente relativizar os problemas
enfrentados pelos usuários, é certo que o sofrimento dos passageiros com
as seguidas panes vai continuar - e provavelmente aumentar - nos
próximos anos, com prejuízo ao conforto e riscos à segurança.
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