Líderes latinos na rede
Mac Margolis - O Estado de S.Paulo
Eleita com folga no segundo turno de 2010, Dilma
Rousseff estreou confiante no Palácio do Planalto. Com um país a tocar,
deixou a imagem de seu governo por conta dos profissionais, o
marqueteiro João Santana, exímio comunicador, e seu padrinho, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tão atarefada ou confiante que estava, Dilma até esnobou o Twitter,
deixando dormente sua conta na badalada plataforma de mídia social. Pode
ter sido um erro grave. Essa é a tônica de uma nova pesquisa da
consultoria Llorente e Cuenca sobre a reputação dos líderes na América
Latina. Quando finalmente Brasília mudou de ideia, três anos depois, já
era tarde.
Estávamos em meados de 2013 e o Brasil atravessava um momento
conturbado, com manifestantes aos milhares nas ruas. Claro, a fúria da
multidão estava desfocada e a sua pauta, difusa. No entanto, para quem
andava de chapa branca, o recado era cristalino. O mal humor com o poder
público estava não só em toda parte, como também turbinado pela mídia
social. Justamente aquele que o governo abandonara.
Pode soar exagero. Ninguém governa pelo smartphone. Entretanto, de
acordo com a avaliação dos mandatários de 20 países latino-americanos,
tuíta quem pode e ignora a rede quem não tem juízo.
Pode parecer óbvio. As mídias sociais tornaram-se ferramentas
inseparáveis da democracia, ora mobilizando multidões, ora globalizando
notícias na velocidade de um clique Em 2008, o presidente dos EUA,
Barack Obama, ganhou a Casa Branca graças à militância jovem,
enviando-lhes torpedos endereçados à palma de cada mão, e cada um desses
se incumbiu de multiplicar o milagre. Alguns latino-americanos emularam
o feito. Destaque para o colombiano Juan Manuel Santos, candidato
estreante que, em 2010, virou as pesquisas de ponta cabeça com a ajuda
do mago do marketing virtual Ravi Singh.
No entanto, há uma diferença entre importar um guru e abraçar a
identidade digital. Para entender quem melhor dominou a jogada da web,
os estudiosos da Llorente e Cuenca mediram a presença online dos líderes
latino-americanos nos principais pontos de encontro da rede: Google,
Facebook, YouTube e Twitter.
Na lupa, olharam quesitos básicos, como liderança, influência, gestão
e responsabilidade. Para elencar os resultados, esmiuçaram os primeiros
cem registros com mais acessos em cada um das mais importantes
comunidades virtuais.
Alguns de seus resultados são intuitivos. Quanto mais visto é o líder
nacional, mais forte é sua "marca". O jovem presidente mexicano,
Enrique Peña Nieto, com sua tina de administrador moderno, pinta de galã
de telenovela e dedicação à comunicação digital, é o mais reconhecido
na rede entre os mandatários latinos.
Há surpresas também. Quem se saiu melhor na foto, com o maior índice
de menções positivas na mídia social, foi o equatoriano Rafael Correa.
Claro, boa parte do aplauso para o polêmico caudilho de Quito, notório
pelo cerco que promove à imprensa e pela intimidação dos críticos, pode
ser autofabricado, garantido por militantes incumbidos de saturar a rede
com mensagens oficiais e não deixar nenhuma crítica sem resposta.
Entretanto, em tempos digitais, o jogo é jogado. E quem ignora o
campo virtual, perde a batalha da imagem. Quem parece ter absorvido a
lição foi a própria Dilma. Após o tombo de junho e de julho do ano
passado, ela reavivou seu perfil no Twitter e encorpou o Facebook.
Loquaz na web, a presidente brasileira viu melhorar sua aprovação.
Dos 20 líderes latino-americanos, é dela a melhor avaliação de ações
sociais, marca registrada do governo desde os tempos de Lula.
Contudo, há limites evidentes para a estratégia digital. Não há
superexposição virtual que possa compensar um governo ruim. Ao
contrário, veja o venezuelano Nicolás Maduro, que mantém um perfil
agressivo nas redes sociais, mas cuja gestão trôpega conduz o país
lentamente à paralisia. Talvez por isso seja avaliado na pesquisa como
uma das piores influências entre os líderes latino-americanos. Ou seja,
para quem quer construir uma identidade política, é urgente ocupar a
rede, mas desde que não se esqueça do resto.
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