Ex-bombeira tenta provar que câncer foi causado por incêndios

Marisa Lagos - TNYTNS
Denise Elarms combateu incêndios em San Francisco por 12 anos, até que foi diagnosticada com câncer de mama em 2011. Desde então, ela não só vem lutando por sua vida - mas também por uma indenização.

O trabalho de Elarms no combate ao fogo a expôs a produtos químicos tóxicos, carcinogênicos que ela acredita - e uma quantidade crescente de provas indica - causaram seu câncer de mama estágio 4, deixando-a incapaz de trabalhar.
Mas quando ela entrou com pedido de indenização há três anos, e novamente quando decidiu se aposentar no início deste ano, Elarms se viu na defensiva, essencialmente tendo que provar que sua doença é relacionada ao trabalho.
Um projeto de lei que está sendo redigido pelo presidente do Comitê de Supervisão David Chiu pode mudar isso e colocar a cidade na companhia de 19 estados, entre eles a Califórnia, que já concederam a bombeiros a conclusão válida até que se prove o contrário de que incapacitações por doenças como o câncer ou doenças cardíacas são causadas pelo trabalho.
Essas leis permitem que eles tenham acesso mais facilmente a indenizações e benefícios de aposentadoria precoce, bem como pensões para a família no caso de morte.
Hoje, um bombeiro de San Francisco que se aposenta cedo por causa de câncer só pode receber seu salário completo depois de atingir a idade para a aposentadoria, disse Tom O'Connor, chefe do sindicato dos bombeiros. E Elarms não está sozinha em sua doença: pelo menos 230 bombeiros de San Francisco morreram de câncer na última década.
O'Connor disse que as taxas de câncer de pulmão entre as mulheres do departamento em San Francisco são seis vezes maiores do que a média nacional.
"Não posso mais fazer meu trabalho, e eu de fato não sou mais capaz de fazer muita coisa", disse Elarms, uma mulher de fala branda que sofreu perda de memória e neuropatia por causa da quimioterapia e agora anda com uma bengala.
Elarms disse que a batalha corrente por seus benefícios a deixou muito deprimida e com dificuldade de pagar suas contas.
"Eu tenho uma casa e tenho contas, uma hipoteca - essas são coisas que minha carreira me permitiu ter", disse ela.
"Eu não queria perder isso, mas teve uma época em que eu estava passando por quimioterapia a cada uma ou duas semanas (...) e antes de ter de voltar para uma nova rodada, eles me mandavam esses formulários, dizendo, preencha isso, preencha aquilo. Eu não conseguia nem pensar - eu estava doente, deitada na cama.
Alguém me perguntou: 'Como é estar doente?' É como estar no inferno", disse ela.
"Perguntaram se eu poderia passar por isso de novo. Acho que não conseguiria. Eu preferiria morrer."
A legislação é apenas uma parte de uma campanha por parte dos bombeiros em todo o país para informar as pessoas sobre os riscos de câncer que eles enfrentam e implementar políticas que mitiguem esses perigos ou ajudem os que já estão doentes.
O sindicato dos bombeiros de San Francisco teve um papel importante, criando uma organização sem fins lucrativos chamada Fundação de Prevenção ao Câncer dos Bombeiros de San Francisco, que auxilia na detecção precoce do câncer, defende os bombeiros doentes e trabalha para prevenir a exposição desnecessária a químicos prejudiciais, incluindo retardadores de chamas.
A fundação fez pressão para a realização de um estudo federal de 2009 realizado pelo Instituto Nacinal de Segurança e Saúde Ocupacionais que examinou a saúde a longo prazo de 30 mil bombeiros em San Francisco, Chicago e Philadelphia.
O estudo encontrou entre os bombeiros grande incidência de câncer respiratório, digestivo e urinário, e duas vezes mais casos de mesotelioma do que entre a população em geral, que é causado por asbestos.
A amostra para o câncer de mama não foi grande o suficiente no estudo de 2009 para ligá-lo definitivamente aos bombeiros, mas O'Connor disse que o número dobrou nos últimos dois anos, e os autores estão no processo de atualizar o estudo para incluir câncer de mama como um risco.
O'Connor disse que o projeto de lei proposto, que o sindicato levou para Chiu, é um passo importante para ajudar os servidores públicos doentes, em grande parte porque permitirá que pessoas como Elarms recebam pensão completa se tiverem que se aposentar mais cedo.
Mas mesmo com essa conclusão prévia, O'Connor reconheceu que os bombeiros muitas vezes ainda precisam convencer os advogados do governo que suas doenças são relacionadas ao trabalho, como Elarms teve de fazer em seu pedido de indenização profissional.
O processo parece estar melhorando à medida que a consciência sobre os riscos do combate ao fogo aumenta.
"Sabemos que se você desenvolve um câncer ocupacional e começa a fazer tratamento, seu pedido provavelmente será rejeitado de primeira", disse ele. "Mesmo havendo uma conclusão prévia (de acordo com a lei), você continua sendo considerado culpado até provar sua inocência."
O'Connor disse que o projeto de lei ajudará a tornar o processo ainda mais fácil. "Ninguém que oferece a sua saúde e bem-estar para San Francisco deveria implorar para sobreviver depois que a saúde lhe é tirada", disse ele.
"O projeto de lei permitirá que os bombeiros que estão incapacitados a ponto de não conseguirem mais trabalhar se aposentem com dignidade e sejam capazes de se sustentar."
Chiu, que continua trabalhando com advogados municipais para redigir a lei, disse que ficou surpreso com o fato de a lei municipal não incluir esta conclusão prévia. "Acho que é muito simples: precisamos garantir aos nossos bombeiros que se eles tiverem câncer por causa de seu trabalho, serão cuidados", disse ele.
"A prova da ligação entre o câncer e os bombeiros está se tornando mais séria e espero que todos compreendam como isso é importante."
Tradutor: Eloise De Vylder