Felipe Moura Brasil - VEJA
Pedi ao leitor Gabriel Marini que traduzisse este artigo de 28 de julho do colunista americano-israelense Zev Chafets,
que está perfeitamente de acordo com a cobertura que venho fazendo
neste blog do conflito no Oriente Médio. Ao lançar foguetes contra
Israel de maneira deliberada, o Hamas unificou
o povo israelense, a ponto de 86,5% aprovarem a atual operação em Gaza.
Eles sabem que não há solução diplomática a tratar com terroristas que
pregam o seu extermínio, como mostrei aqui. Agora é preciso vencê-los, lutando até o fim. Segue o texto traduzido, com a minha revisão. O título é o mesmo do post. (FMB)
O jornal Jerusalém Post publicou na manhã de segunda-feira os resultados de uma pesquisa sobre os próximos passos de Israel. [No Globo, aqui.] Cerca de 10% do público disse que já bastava, e que era hora de um cessar-fogo. Outros 3% não tinham tanta certeza.
Entretanto, 86.5% dos israelenses judeus disseram que queriam continuar lutando.
Ninguém me perguntou, mas eu estou com a maioria.
Israel tentou duas vezes antes, em 2008 e 2012, pôr um fim à infiltração e ao disparo de mísseis por parte do Hamas através de ações militares limitadas. Ambos esses esforços terminaram com um cessar-fogo acompanhado por ameaças do governo de Israel ao Hamas, do tipo “não nos obriguem a voltar aqui novamente”.
Quando o Hamas abriu fogo, três semanas atrás, muitos israelenses esperavam que, desta vez, fosse diferente. Em vez disso, o primeiro-ministro Netanyahu e o seu gabinete adotaram um conjunto limitado de objetivos de guerra: destruir os túneis do Hamas que os levavam a Israel, enfraquecer sua estrutura de foguetes e melhorar as condições para o próximo cessar-fogo.
Desde então, Israel destruiu muitos túneis. Derrubou muitos mísseis e foguetes. E concordou com quatro ou cinco cessar-fogos. E, ainda assim, não conseguiu atingir nenhuma dessas finalidades limitadas. O Hamas continua atirando mísseis (nesta segunda matou seis em solo israelense), infiltrando unidades de comando via túneis supostamente destruídos (outro grupo foi interceptado na segunda), e violando cada um dos “cessar-fogos humanitários” (como fez na segunda). Em suma, o Hamas está lutando para valer. Ele vê esta guerra como uma guerra de verdade, uma batalha de vida ou morte.
Neste ponto, estou com o Hamas.
Esta é uma guerra de verdade. E o objetivo de uma guerra de verdade é a vitória.
O Hamas não será derrotado por meio da explosão de seus túneis. Se Israel bater em retirada após o próximo cessar-fogo temporário, eles construirão túneis melhores e mais profundos. O Hamas não será derrotado pelo esgotamento de seu arsenal de foguetes. Se Israel permitir que o Hamas permaneça de pé, ele conseguirá mais do Irã (que admite abertamente fornecê-los), ou os construirá com partes contrabandeadas. Se puder, preencherá esses novos foguetes com produtos químicos, o que tornará extremamente perigoso para Israel interceptá-los em áreas civis, que são os alvos do Hamas.
Não, o Hamas tem de ser derrotado à moda antiga. Isto começa com uma nova exigência – rendimento incondicional – e a disposição em fazer o que for necessário para atingi-lo.
As imagens televisivas terão impacto negativo na imagem de Israel? Depende de quem estiver assistindo. A esquerda europeia anti-Israel e os muçulmanos europeus anti-judeus ficarão indignados, mas isso eles já estão. Alguns rabinos liberais e celebridades judias, ruborizados, ecoarão Michel Corleone (“É minha família, Kay, não sou eu”). Editorialistas e colunistas menosprezarão a perda do “alto padrão moral “ de Israel. Experts que insistem que é ciência política indiscutível que o terror não pode ser derrotado militarmente recusar-se-ão a crer em seus próprios olhos.
Como eu sei isso? Eu já vi esse espetáculo antes.
Mas o universo televisivo é um lugar grande. Os governantes do Egito e da Arábia Saudita, que consideram o Hamas um inimigo terrorista, provavelmente apreciarão o show. Assim como os líderes de Rússia, China, Índia, Nigéria e outros países atualmente engajados em esforços para derrotar as insurreições fundamentalistas islâmicas.
Para Israel, os jihadistas são uma chave demográfica. Eles podem não gostar de ver Gaza em chamas e o Hamas derrotado, mas essas são cenas que concentrarão suas mentes. Os aiatolás iranianos, o Hezbollah, a Al Qaeda, as Crianças Assassinas do Califado do ISIL [da sigla em inglês para Estado Islâmico do Iraque e do Levante] e outros Saladinos dos tempos modernos aparecerão odiando Israel ainda mais do que eles odeiam agora? Talvez sim. Mas eles também terão uma visão mais realista do que eles podem fazer a respeito.
Como sempre, a audiência mais importante de todas está bem aqui, em casa. Com o passar dos anos, os israelenses ficaram habituados a um certo nível de violência do Hamas. Mísseis? Ah, eles nem matam tanta gente assim. Sequestros? Solte uns mil terroristas que você consegue o cara de volta. Substituir o Hamas? O que vier depois pode ser pior! Não podemos simplesmente fazer um acordo melhor desta vez, conseguir mais uns anos de relativa tranquilidade antes do próximo round?
A resposta é não. Não há acordo a ser feito com o Hamas, nem sucessor algum que Israel deva temer mais do que ele. Hamas é o diabo que Israel conhece e também o demônio que tem de matar. A quantidade de matança depende do quão rapidamente os hamasniks se renderão ou ⎯ aqui vai a possibilidade menos provável ⎯ da população em Gaza decidir que já sofreu o bastante e que é hora de se voltar contra eles.
Será que Bibi Netanyahu tem estômago para levar isso adiante? Será que ele quer? Eu não sei. Mas eu sei quem quer que ele tente – 86.5% do público judeu israelense.
* Zev Chafets é comentarista da FoxNews.com. O texto foi traduzido por Gabriel Marini, a pedido e com revisão do colunista da VEJA Felipe Moura Brasil.
O jornal Jerusalém Post publicou na manhã de segunda-feira os resultados de uma pesquisa sobre os próximos passos de Israel. [No Globo, aqui.] Cerca de 10% do público disse que já bastava, e que era hora de um cessar-fogo. Outros 3% não tinham tanta certeza.
Entretanto, 86.5% dos israelenses judeus disseram que queriam continuar lutando.
Ninguém me perguntou, mas eu estou com a maioria.
Israel tentou duas vezes antes, em 2008 e 2012, pôr um fim à infiltração e ao disparo de mísseis por parte do Hamas através de ações militares limitadas. Ambos esses esforços terminaram com um cessar-fogo acompanhado por ameaças do governo de Israel ao Hamas, do tipo “não nos obriguem a voltar aqui novamente”.
Quando o Hamas abriu fogo, três semanas atrás, muitos israelenses esperavam que, desta vez, fosse diferente. Em vez disso, o primeiro-ministro Netanyahu e o seu gabinete adotaram um conjunto limitado de objetivos de guerra: destruir os túneis do Hamas que os levavam a Israel, enfraquecer sua estrutura de foguetes e melhorar as condições para o próximo cessar-fogo.
Desde então, Israel destruiu muitos túneis. Derrubou muitos mísseis e foguetes. E concordou com quatro ou cinco cessar-fogos. E, ainda assim, não conseguiu atingir nenhuma dessas finalidades limitadas. O Hamas continua atirando mísseis (nesta segunda matou seis em solo israelense), infiltrando unidades de comando via túneis supostamente destruídos (outro grupo foi interceptado na segunda), e violando cada um dos “cessar-fogos humanitários” (como fez na segunda). Em suma, o Hamas está lutando para valer. Ele vê esta guerra como uma guerra de verdade, uma batalha de vida ou morte.
Neste ponto, estou com o Hamas.
Esta é uma guerra de verdade. E o objetivo de uma guerra de verdade é a vitória.
O Hamas não será derrotado por meio da explosão de seus túneis. Se Israel bater em retirada após o próximo cessar-fogo temporário, eles construirão túneis melhores e mais profundos. O Hamas não será derrotado pelo esgotamento de seu arsenal de foguetes. Se Israel permitir que o Hamas permaneça de pé, ele conseguirá mais do Irã (que admite abertamente fornecê-los), ou os construirá com partes contrabandeadas. Se puder, preencherá esses novos foguetes com produtos químicos, o que tornará extremamente perigoso para Israel interceptá-los em áreas civis, que são os alvos do Hamas.
Não, o Hamas tem de ser derrotado à moda antiga. Isto começa com uma nova exigência – rendimento incondicional – e a disposição em fazer o que for necessário para atingi-lo.
As imagens televisivas terão impacto negativo na imagem de Israel? Depende de quem estiver assistindo. A esquerda europeia anti-Israel e os muçulmanos europeus anti-judeus ficarão indignados, mas isso eles já estão. Alguns rabinos liberais e celebridades judias, ruborizados, ecoarão Michel Corleone (“É minha família, Kay, não sou eu”). Editorialistas e colunistas menosprezarão a perda do “alto padrão moral “ de Israel. Experts que insistem que é ciência política indiscutível que o terror não pode ser derrotado militarmente recusar-se-ão a crer em seus próprios olhos.
Como eu sei isso? Eu já vi esse espetáculo antes.
Mas o universo televisivo é um lugar grande. Os governantes do Egito e da Arábia Saudita, que consideram o Hamas um inimigo terrorista, provavelmente apreciarão o show. Assim como os líderes de Rússia, China, Índia, Nigéria e outros países atualmente engajados em esforços para derrotar as insurreições fundamentalistas islâmicas.
Para Israel, os jihadistas são uma chave demográfica. Eles podem não gostar de ver Gaza em chamas e o Hamas derrotado, mas essas são cenas que concentrarão suas mentes. Os aiatolás iranianos, o Hezbollah, a Al Qaeda, as Crianças Assassinas do Califado do ISIL [da sigla em inglês para Estado Islâmico do Iraque e do Levante] e outros Saladinos dos tempos modernos aparecerão odiando Israel ainda mais do que eles odeiam agora? Talvez sim. Mas eles também terão uma visão mais realista do que eles podem fazer a respeito.
Como sempre, a audiência mais importante de todas está bem aqui, em casa. Com o passar dos anos, os israelenses ficaram habituados a um certo nível de violência do Hamas. Mísseis? Ah, eles nem matam tanta gente assim. Sequestros? Solte uns mil terroristas que você consegue o cara de volta. Substituir o Hamas? O que vier depois pode ser pior! Não podemos simplesmente fazer um acordo melhor desta vez, conseguir mais uns anos de relativa tranquilidade antes do próximo round?
A resposta é não. Não há acordo a ser feito com o Hamas, nem sucessor algum que Israel deva temer mais do que ele. Hamas é o diabo que Israel conhece e também o demônio que tem de matar. A quantidade de matança depende do quão rapidamente os hamasniks se renderão ou ⎯ aqui vai a possibilidade menos provável ⎯ da população em Gaza decidir que já sofreu o bastante e que é hora de se voltar contra eles.
Será que Bibi Netanyahu tem estômago para levar isso adiante? Será que ele quer? Eu não sei. Mas eu sei quem quer que ele tente – 86.5% do público judeu israelense.
* Zev Chafets é comentarista da FoxNews.com. O texto foi traduzido por Gabriel Marini, a pedido e com revisão do colunista da VEJA Felipe Moura Brasil.
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