quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Argentina vive dia conturbado com renúncia de chefe do BC e processo contra vice-presidente
Em meio a votação de reforma no Código Civil, presidente do Banco Central deixa o cargo após receber duras críticas, em cadeia nacional, de Cristina Kirchner
Aline Gatto Boueri e Felipe Amorim - OM
A quarta-feira foi movimentada no cenário político argentino. Após receber em cadeia nacional duras críticas da presidente Cristina Kirchner sobre a condução do Banco Central argentino, Juan Carlos Fábrega renunciou hoje (01/10) à direção da entidade. Além disso, a Justiça confirmou a validade do processo judicial em que o vice-presidente do país, Amado Boudou, é acusado de falsificar documentos públicos de um automóvel de sua propriedade. Em paralelo aos dois acontecimentos, a Câmara dos Deputados argentina aprovou a reforma do Código Civil e Comercial do país.
Agência Efe

Em cadeia nacional, Cristina Kirchner acusou BC de filtrar informações e favorecer banqueiros; em meio a pressão, Fábregas renunciou
A renúncia de Fábrega chegou um dia depois de a presidente Cristina Kirchner acusar publicamente o Banco Central de filtrar informações privilegiadas a banqueiros quando, no início de setembro, a instituição obrigou os bancos a se desprenderem de dólares para aumentar a oferta de moeda estrangeira. Em seu discurso, Cristina Kirchner afirmou que, no dia anterior ao anúncio, houve bancos que "vendiam dólares, enquanto todos compravam".
Com o então presidente do Banco Central nas primeiras filas do salão de onde deu seu discurso, a presidente argentina ainda afirmou que "no Banco Central existem mais de 80 mil expedientes, alguns dos anos 80, sobre infrações à lei penal cambial, de exportadores, de bancos, de financeiras, que não são tratados. Bilhões de dólares que foram subtraídos, para usar o termo adequado, ao país".
Fábrega, considerado um homem próximo aos banqueiros, estava no comando do órgão desde novembro de 2013. A partir de maio deste ano, houve vários indícios de que o titular do BCRA enfrentava resistências dentro da equipe econômica do governo, principalmente por parte do atual ministro de Economia, Axel Kicillof. Em seu lugar, assume o atual presidente da CNV (Comissão Nacional de Valores), Alejandro Vanoli.
Um dos grandes momentos de tensão foi quando a Argentina fracassou em negociação com os chamados "fundos abutre", em julho, e uma tentativa de acordo paralelo por parte de banqueiros nacionais foi desautorizada em coletiva de imprensa por Kicillof, que acusou os bancos de tentar negociar com dinheiro do Estado. 
Vice acusado de fraude
Em votação unânime, a Sala II da Câmara Federal de Buenos Aires rechaçou o recurso apresentado pelo vice-presidente e ex-ministro da Economia da Argentina, Amado Boudou. Dessa forma, o político fica muito próximo de ter que passar por um julgamento oral e público.
No início do mês de agosto, Boudou foi processado pelo juiz Claudio Bonadío por supostamente ter transferido um automóvel da marca Honda para seu nome utilizando-se de documentação falsa.
De acordo com o auto do processo, "foi comprovado que Boudou inscreveu em seu nome o veículo com um formulário falso que contém cópias de seu documento nacional de identidade". Junto com os papéis, foi anexado outro formulário com sua "assinatura verdadeira" e um endereço residencial que não era o dele.
Além de Boudou, também são rés no processo sua ex-mulher, Agostiniana Seguin, indiciada como cúmplice por também utilizar o veículo, e a funcionária titular do cartório em que o documento adulterado foi recebido María Graciela Taboada de Piñero.
Reforma do Código Civil
A Câmara de Deputados votou nesta noite a reforma do Código Civil e Comercial, que obteve meia sanção no Senado em novembro de 2013. Pela manhã, deputados opositores tentaram impedir a votação e apresentaram uma queixa à Justiça contra o líder da Câmara, o kirchnerista Julián Domínguez, que acusam de "abuso de autoridade" e "incumprimento de deveres".
A oposição alegou que o texto havia perdido o prazo para tratamento e, sob protestos, se retirou da sessão. O bloco kirchnerista, majoritário, começou o debate com o quórum apertado: 131 deputados, dos 129 exigidos para a validez da sessão. Ao final, o texto foi aprovado por 134 votos a favor, nenhum contra.

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