quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Oposição diz que Cristina mergulhou em 'fase delirante'
Em discurso, presidente argentina disse que, se algo acontecer a ela ou seu governo, argentinos devem 'olhar para o norte', em referência aos EUA
VEJA
A presidente argentina Cristina Kirchner
A presidente argentina Cristina Kirchner (Enrique Marcarian/Reuters/VEJA)
Políticos de oposição na Argentina reagiram ao discurso confuso e paranoico da presidente Cristina Kirchner proferido na noite de terça-feira. Ela afirmou, entre outros absurdos, que os Estados Unidos podem estar por trás de um complô para derrubá-la ou até mesmo matá-la. Mais sensatos, os opositores dizem que a mandatária "perdeu a noção da realidade".
"Como ela não aguenta a realidade, com desemprego, inflação galopante, dólar nas alturas, ela resolve falar que não é mais o EI que quer matá-la, mas os EUA", disse Elisa Carrió, pré-candidata presidencial da coalizão oposicionista Unen, em declaração reproduzida pelo jornal The Guardian.
A deputada Laura Alonso, da Unión PRO, disse que a presidente “entrou numa fase delirante, o que é grave em termos políticos e institucionais". Acrescentou que, nesse ritmo, o delírio de Cristina pode chegar ao de Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela que também aponta para o inimigo externo, os Estados Unidos, em uma tentativa de desviar o foco dos problemas internos. 
Os opositores relacionaram a fala da presidente aos embates da Argentina com Justiça americana sobre o não pagamento da dívida. As divergências sobre os chamados ‘fundos abutres’ levou o governo argentino a ficar perto de expulsar o embaixador americano Kevin Sullivan depois de ele dizer a um jornal local que era importante para a Argentina resolver o default.
No discurso de ontem, que foi transmitido em rede nacional, Cristina disse: “Se algo acontecer comigo, não olhem para o Oriente Médio, olhem para o norte", relacionando ao suposto complô banqueiros e empresários que contam com ajuda externa. Em outro momento, provocou ao dizer que “talvez decidam prendê-la da próxima vez que for a Nova York”. Antes do discurso, ela havia afirmado que recebeu ameaças dos terroristas do Estado Islâmico devido à sua amizade com o papa Francisco. Depois do discurso, a hashtag 'se algo me acontecer' passou a ser usada por argentinos nas redes sociais como fonte de piadas.
Em 2010, a então secretária de Estado Hillary Clinton questionou a saúde mental da presidente argentina. Telegramas vazados pelo Wikileaks revelaram que Hillary perguntou se a presidente "estava tomando medicação" e se a capacidade de julgamento da mandatária estaria sendo afetada pelo estresse.
As Malvinas tornaram-se uma das questões centrais para Cristina Kirchner a partir do aniversário de 30 anos da Guerra iniciada em 1982. Para muitos, questionar a soberania sobre o arquipélago administrado pela Grã-Bretanha desde 1833 é uma forma de desviar a atenção para problemas mais graves do país.
Em março, os kelpers, como são chamados os habitantes das ilhas, aprovaram em referendo a manutenção do status de território ultramarino britânico. A derrota não enfraqueceu o ânimo da presidente argentina, que volta e meia aborda o tema. Muitas vezes em condições totalmente impróprias, como em seu primeiro encontro com o papa Francisco. Oportunista, ela pediu que o pontífice intermediasse um diálogo sobre a questão – tentando arrastá-lo para um tema político que não está em sua esfera de atuação.
Depois do referendo, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, reforçou pedido para que a Argentina respeite o desejo dos kelpers. Ignorando o resultado da consulta popular, o chanceler Héctor Timerman dá sequência à cruzada argentina reclamando a soberania na ONU.

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