Problemas nas forças armadas alemãs provocam discussão sobre mais gastos em defesa
Alison Smale - NYT
Martin Schlicht/Reuters
Ministra da defesa alemã, Ursula von der Leyen (à esquerda) observa carregamento
de ajuda humanitária em avião das Forças Armadas na cidade de Hohn, na Alemanha
Em um espetáculo que um importante semanário comparou a um filme pastelão, as forças armadas alemãs, especialmente sua força aérea, se envolveram em repetidos fiascos nos últimos dias, enquanto tentavam expandir seu envolvimento internacional transportando pessoal e material para as forças que enfrentam os extremistas islâmicos no Iraque, e suprimentos de ajuda para a África, para aliviar a crise do ebola.
Na segunda-feira, quando o mais recente fracasso das capacidades aéreas
limitadas da Alemanha veio à tona, os políticos passaram a exigir
explicações de Ursula von der Leyen, a ministra da Defesa do país, e a
se perguntarem em voz alta sobre uma possível revisão de uma política há
muito tempo intocável: o aumento dos gastos militares.de ajuda humanitária em avião das Forças Armadas na cidade de Hohn, na Alemanha
Em um espetáculo que um importante semanário comparou a um filme pastelão, as forças armadas alemãs, especialmente sua força aérea, se envolveram em repetidos fiascos nos últimos dias, enquanto tentavam expandir seu envolvimento internacional transportando pessoal e material para as forças que enfrentam os extremistas islâmicos no Iraque, e suprimentos de ajuda para a África, para aliviar a crise do ebola.
Von der Leyen está entre os líderes alemães que passaram a defender nos últimos meses um papel mais ativo para o país nas crises internacionais. Um grande exemplo foi a decisão neste mês de envio de armas para as forças de segurança iraquianas e curdas, que quebrou um antigo tabu de envio pela Alemanha de armas para uma zona de conflito.
Mas as falhas começaram a aparecer na semana passada, quando um avião que levava seis soldados paraquedistas alemães ao Iraque --para ajudar a treinar as forças de segurança curdas no uso de armamentos no valor de quase US$ 900 milhões-- acabou retido na Bulgária por quase dois dias, sem autorização para entrar no Iraque.
Um dia após esse problema se tornar público, um avião que entregaria as primeiras armas da Alemanha --50 bazucas, 520 fuzis e 20 metralhadoras-- também não pôde decolar, provocando uma busca difícil por uma alternativa de transporte. Esse esforço atraiu atenção adicional para as dezenas de aviões e helicópteros militares parados para reparos ou por falta de peças sobressalentes.
Na segunda-feira, veio à tona que um avião militar alemão envolvido no transporte de ajuda humanitária para o Oeste da África precisou fazer um pouso de emergência nas Ilhas Canárias.
Com as limitações expostas, o Ministério da Defesa apresentou na semana passada um relatório sobre prontidão para combate ao Comitê de Defesa do Parlamento, onde os membros do comitê discutiam que as autoridades do ministério os enganaram sobre quão bem ou prontamente a Alemanha poderia cumprir seus compromissos da OTAN e outros.
O Ministério da Defesa tradicionalmente fica em posição difícil na Alemanha, onde a maioria das pessoas --criadas após a ditadura nazista-- evita o uso de força militar. Por décadas, a Alemanha, atualmente a maior exportadora do mundo e a quarta maior economia, esteve voltada para a reunificação de suas regiões ocidental e oriental e mais preocupada com questões domésticas que externas.
Neste ano, entretanto, os alemães sentiram um aumento da insegurança, particularmente a respeito da Ucrânia e por todo o Oriente Médio. Pela primeira vez em muitos anos, essas crises e o estado das forças armadas provocaram discussões sobre gastos militares, disse Thomas Wiegold, um especialista em defesa que apresenta relatórios sobre segurança.
Para este ano, a Alemanha conta com um orçamento militar de 32,8 bilhões de euros, que equivale a 1,3% do produto interno bruto, bem abaixo da meta de OTAN de 2%. Os Estados Unidos há muito se queixam de que muitos países europeus, notadamente a Alemanha, ficam aquém da meta.
Até recentemente, essas queixas eram ignoradas, "mas agora parece que se transformarão em um debate", disse Wiegold. "Eu venho dando muitas entrevistas para rádio, particularmente na semana passada. Agora estão me perguntando se deveríamos gastar mais dinheiro. Isso nunca aconteceu antes."
Ele e outros especialistas associaram muitos dos atuais problemas a uma reforma de 2010, que encorajou as forças armadas a manterem o máximo possível de sistemas em uso, mas reduzindo ao mesmo tempo a encomenda de peças sobressalentes. Isso deixou a força aérea, por exemplo, dependente dos aviões de transporte Transall que entraram em serviço há 50 anos. Os primeiros novos aviões de transporte deverão entrar em serviço até o final do ano.
Além disso, notou Wiegold, Von der Leyen considerou que prometer o transporte aéreo --para Mali, para a República Centro-Africana ou para a crise do ebola-- seria uma contribuição politicamente mais aceitável aos esforços internacionais do que, digamos, o envio de soldados. "Tem algo a ver com o sentimento político básico na Alemanha, de que se temos que participar internacionalmente, que seja então uma participação 'pacífica'", acrescentou Wiegold.
Von der Leyen também é criticada por alguns políticos, que dizem que ela tem avidez em divulgar as novas missões da Alemanha por meio de oportunidades para fotos –como as ocorridas na semana passada no Iraque– em vez de lidar com os problemas de seu ministério de sua mesa em Berlim. Mas a ministra da Defesa, às vezes vista como rival e possível sucessora da chanceler Angela Merkel, recebeu apoio robusto na segunda-feira do porta-voz de Merkel.
"Ela coloca as coisas na mesa e dá uma visão geral de como as coisas estão", disse o porta-voz, Steffen Seibert. "Esse é o primeiro passo para solução de problemas que se acumulam há anos."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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