Sobre Política Tributária
Essa
é a quinta parte da minha palestra no Conselho Federal de Economia
sobre os rumos do país. Agora a pergunta é sobre política tributária.
COFECON: A elevada carga tributária bruta do Brasil é um
fator que contribui para inibir o investimento, fazendo com que o País
tenha dificuldade em alcançar e manter taxas elevadas de crescimento do
Produto Interno Bruto. Ao mesmo tempo, o Brasil ainda apresenta
desigualdades relevantes de renda e riqueza em sua população, o que
requer gastos governamentais de vulto para reduzir tais desigualdades a
níveis compatíveis com as naturais diferenças interpessoais. Como
conciliar os dois objetivos acima, tendo presente que a sustentação do
processo de redução daquelas desigualdades requer um nível
suficientemente elevado de crescimento econômico?
R: A primeira coisa que devemos deixar claro é que não concordamos
com a segunda afirmação. Enquanto é evidente que o Brasil ainda
apresenta desigualdades relevantes de renda, simplesmente não é verdade
que os gastos governamentais são a melhor opção para reverter essa
desigualdade de renda. Na verdade, os países com melhor índice de
desenvolvimento humano são justamente aqueles com maior liberdade
econômica.
Os dez primeiros colocados no índice de desenvolvimento humano são
Noruega, Austrália, EUA, Holanda, Alemanha, Nova Zelândia, Irlanda,
Suécia, Suíça e Japão. Todos esses países são considerados de economia
livre pelo ranking da Heritage Foundation.
Não podemos nunca deixar de lembrar que o estado natural da
humanidade ao longo de 95% da sua história foi de extrema pobreza e
verdadeira desigualdade social, não apenas econômica, mas também
estamental. É a liberdade econômica que traz o estimulo para
que o homem saia da sua inércia e busque a poupança e o avanço
tecnológico, e somente instituições sociais sólidas, baseados em
postulados éticos como o direito de propriedade, a liberdade política e
de expressão, o direito de ir e vir, entre outros direitos individuais,
conseguiram efetivamente fazer uma sociedade romper seu estado de
subdesenvolvimento em busca de progresso sócio-econômico.
E a melhor maneira de se fazer esse progresso é através das trocas
livres e voluntárias. Dentro de um sistema econômico descentralizado e
concorrencial, a consequência natural será a descentralização de renda.
Dentro de um sistema interventor e centralizado, a centralização de
renda será também a consequência natural, pois os incentivos de
progresso não estarão mais em ter que prestar o melhor serviço e o
serviço mais barato para enriquecer, mas sim em ser o mais parasitário e
anti-produtivo possível. A distribuição de bens e serviços pelo mercado
trabalha com a lógica do respeito ao consumidor. A distribuição de bens
e serviços pelo Estado trabalha com a lógica do respeito ao grupo
politicamente mais organizado para sorver esses recursos.
É como bem disse uma vez a filósofa Ayn Rand: “”Quando você perceber
que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada;
quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens,
mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e
por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem
deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você;
quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se
converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar,
que sua sociedade está condenada”.
Estamos aqui para mostrar que a sociedade brasileira não precisa
estar condenada a um sistema de distribuição estatal de bens e serviços
baseados em lobbies.
Isso não significa, em absoluto, que nós não entendemos a função do
Estado em assistir a quem, por qualquer motivo, acabou não podendo
usufruir das benesses do livre-mercado. Vivemos em uma sociedade onde a
informação e o conhecimento estão dispersos, sendo muito difícil a sua
coleta perfeita para a otimização da distribuição de bens e serviços na
sociedade. Naturalmente, nem todos acabariam tendo acesso ao mínimo
existencial garantido pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Mas é
evidente também que esse conhecimento disperso é muito melhor
apreendido de maneira dispersa, pelo mercado, e não de maneira
centralizada, pelo Estado. Por isso, entendemos que é muito mais
eficiente o uso do dinheiro arrecadado pela tributação para a reinserção
de pobres no mercado e não se criando uma estrutura estatal.
Por incrível que pareça, dois programas do governo do PT foram
essenciais para mostrar ao povo brasileiro o acerto dessa visão: o
bolsa-família e o PROUNI.
O bolsa-família é um programa de vale, tal como estruturado pelo
grande economista Milton Friedman, que usa a lógica do mercado para
satisfazer a demanda social. É sabido que muitos brasileiros vivem
abaixo da linha da miséria, e o Estado, ao invés de criar toda uma nova
estrutura estatal para entregar vestuário e alimentos, decidiu
simplesmente entregar um cupom financeiro para que os pobres fossem ao
mercado e, dentro de uma estrutura concorrencial, escolhessem os bens e
serviços que melhor lhe aprouvessem. Podemos garantir aos senhores que,
se eu ao invés de entregar vales para os pobres, o Governo tivesse
criado uma “Alimentobras” ou uma “Vestuariobras”, o dinheiro não teria
chegado na população pobre, ou teria em quantidade muito inferior ao
desejado, com a grande parte dos recursos sendo escoada em negociatas
políticas, tais como vemos hoje, na Petrobras.
O PROUNI é uma espécie de vale-educação superior, custeado com
renúncia fiscal, que possibilitou aos jovens de todo o Brasil acesso ao
ensino superior. Em 2013 foram mais de 250.000 alunos atendidos a um
custo de 850 milhões de reais anuais de renúncia. Isso significa que
cada aluno custou ao Governo, por mês, a incrivelmente baixa mensalidade
de 274 reais. Por outro lado, o custo médio de um aluno universitário
custou na rede pública federal o equivalente a quase 3 mil reais por
mês. O que estamos esperando para aplicar esse programa vitorioso também
nos ensinos médio e fundamental?
O que pretendemos demonstrar com essa exposição é que a alta carga
tributária tem solução. E a solução tem a ver com liberdade econômica
também nos processos públicos, com o Estado se utilizando de
instrumentos de mercado para se atingir fins sociais, de maneira mais
eficiente e ampla. Dentro desse panorama de discussão de redução de
custos da máquina federal para se poder discutir a redução de tributação
para que sobre dinheiro para o investimento em longo prazo, não podemos
deixar de falar nas privatizações e na reforma dos dois maiores gastos
públicos da União: a dívida pública e a previdência social.
Sobre privatizações, elas são essenciais para que possamos acabar com
os péssimos incentivos governamentais para a gestão pública: falta de
meritocracia(onde as pessoas ganham independentemente da sua
produtividade), falta de plano de metas, estabilidade do servidor
público,e a terrível lógica da verba, onde quanto pior o serviço, maior a
pressão política por mais dinheiro e mais verbas são destinadas para o
serviço ruim, o que é uma lógica oposta à do lucro, onde a sociedade
destina dinheiro, em um ambiente concorrencial,apenas para o bom serviço
ou para o serviço mais barato, e na melhor das hipótese para o serviço
melhor e mais barato.
Além disso, o excesso de competências estatais tira totalmente o foco
do Estado da promoção de serviços públicos fundamentais, como educação,
saúde e segurança pública. Quem muito quer fazer, nada acaba por
fazer.Tempo e recursos são escassos e prioridades devem ser escolhidas.
Sobre a dívida pública, precisamos realmente fazer um esforço muito
grande para mantê-la em níveis aceitáveis. Não sabemos dizer até onde
irá a alavancagem que todos os países do mundo fazem sobre a sua dívida,
mas isso vai ter um fim. Se nos adiantarmos e fizermos um grande
esforço fiscal de planejamento de pagamento de longo prazo, com a
extensão do pagamento e garantia constitucional de não mais nos
endividarmos, vamos estar um passo à frente do resto do mundo no momento
em que o jogo do endividamento acabar, passando a ser alvo de grandes
investimentos privados.
E quanto ao sistema previdenciário, outro grande ralo de dinheiro
público, precisamos estudar a viabilidade de mudarmos o sistema de
repartição para um sistema de capitalização, tal como acontece no Chile,
de forma que a Previdência deixe de ser um destruidor de poupança
nacional, e passe a ser um produtor de poupança nacional, garantindo uma
aposentadoria verdadeiramente sustentável e sem a necessidade de fator
previdenciário. E isso é algo que precisa ser deixado claro: só há a
necessidade desse nojento fator previdenciário porque o sistema
previdenciário brasileiro é baseado em um pacto intergeracional que não
mais se sustenta em virtude da nossa mudança demográfica, com
envelhecimento social. Ou mudamos isso agora ou corremos o risco de a
previdência criar verdadeira insustentabilidade orçamentária.
Em suma, resolvidos os problemas dos gastos, o problema da diminuição
de impostos é resolvível, bem como o do investimento para crescimento
em longo prazo.
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