quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Uso excessivo do cheque especial é preocupante
O Estado de S.Paulo
Um dos piores instrumentos de crédito disponíveis tanto para empresas como para pessoas físicas, o cheque especial tem sido usado excessivamente, mostrou reportagem do Estado (22/9). Segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), há 103 milhões de contas correntes abertas no País e, destas, segundo o site GuiaBolso, 26% apresentam saldo negativo todo fim de mês. Ou seja, cerca de 27 milhões de clientes são devedores em operações de cheque especial, número que caracteriza uma distorção econômica, em razão do custo desses empréstimos.
Nos cálculos do Banco Central, os tomadores desses recursos pagaram, em agosto, 172,8% ao ano de juros, alta de 33,9 pontos porcentuais em relação a agosto de 2013. As pessoas jurídicas pagavam ligeiramente menos: 166% ao ano, 19,3 pontos porcentuais acima do custo de 12 meses antes. Nos levantamentos da Anefac, diferentes dos elaborados pelo Banco Central, o custo do cheque especial, em agosto, foi de 8,44% ao mês ou 164,41% ao ano, para as pessoas físicas. Mas, nos dois casos, os devedores habituais da modalidade cheque especial estão sujeitos a custo ruinoso.
A reportagem simula os custos de um empréstimo de R$ 1 mil, nas modalidades mais comuns: no crédito consignado, a dívida em dois anos vai a R$ 1.571,02; no crédito não consignado, chega a R$ 4.048,93; e no cheque especial, a R$ 7.404,73.Por que alguém tomaria empréstimo pagando tão caro? A coordenadora do Programa de Apoio ao Superendividado do Procon, Vera Remedi, acredita que quem usa o cheque especial já tem mais de 70% da renda comprometida com outros empréstimos e tem de "bancar gastos até com alimentação". Miguel de Oliveira, diretor da Anefac, destaca a facilidade de acesso propiciada pela modalidade. E Luiz Rabi, da Serasa Experian, nota que o ideal é não usar, "mas, se for mesmo necessário, que seja por curtíssimo prazo".
O uso frequente do cheque especial mostra mais: dezenas de milhões de clientes têm graves deficiências em educação financeira. É a razão mais provável para que engrossem a lista dos superendividados, como sugeriu Vera Remedi.
Entre as consequências desse uso está a redução do consumo. Das famílias com renda de até 5 salários mínimos, 55,3% estão endividadas, calcula a Confederação Nacional do Comércio, e, sujeitas aos juros absurdos do cheque especial, têm reduzida sua capacidade de consumir.

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