Voto de protesto
O Estado de S.Paulo
Na segunda-feira, primeiro dia útil depois da
divulgação da pesquisa do Datafolha, que não apenas consignava que a
presidente Dilma Rousseff abriu vantagem de 13 pontos sobre a rival
Marina Silva, mas trazia de volta a hipótese de reeleição da petista já
no primeiro turno, o Ibovespa caiu 4,52%, o maior tombo em um único
pregão dos últimos três anos, e o dólar fechou a R$ 2,451, a mais alta
cotação desde dezembro de 2008, no auge da crise internacional. Trata-se
de uma reação impressionante pela intensidade e racional pelo que a
motivou. É um enfático voto de protesto da comunidade econômica,
depositado na urna dos mercados financeiros, diante da perspectiva,
agora mais nítida, de que os próximos quatro anos podem ser um replay
destes que estão para terminar (ver, abaixo, o editorial Desastre nas
contas públicas).
O cenário de mais do mesmo não
resulta, como quer fazer crer a presidente, de um patológico pessimismo
dos agentes econômicos nem tampouco denota uma inclinação perversa pelo
quanto pior, melhor - o jogo jogado pelo PT nos anos 1990 quando o País
do Plano Real mudava, aí sim, para melhor. O pessimismo com o sombrio
quadro presente e com o que muito provavelmente está por vir deriva de
fatos insuscetíveis de controvérsia: a coleção de desastres de um
governo que, desde o seu advento, carrega a duvidosa distinção de não
ter feito outra coisa a não ser meter os pés pelas mãos. E que
maliciosamente transfere para a retração do nível de atividade das
grandes potências econômicas a responsabilidade pelo atolamento da
economia nacional. Como se o mundo exterior - e não ela própria, com a
sua combinação tóxica de soberba e incompetência - a tivesse conduzido
ao charco.Olhem-se pelo ângulo que se queira os resultados
da "política econômica" dilmista e o que se enxerga é um país
despencando ribanceira abaixo. Praticamente a cada dia pioram os
prognósticos - entre os quais do próprio Ministério do Planejamento -
sobre os números do PIB deste ano. O mais recente deles, do Banco
Central (BC), rebaixou de 1,6% para 0,7% a taxa de expansão da economia
em 2014. Trata-se de um desempenho de envergonhar, mesmo perante os
nossos vizinhos. E não periga melhorar, dado outro indicador alarmante: a
taxa de investimento em bens de capital e obras de infraestrutura
deverá encolher 6,5% até dezembro. E o que dizer da indústria sucateada,
com um retrocesso previsto de 1,6% em comparação com 2013? Já a
inflação anual, na melhor das hipóteses, ficará em 6,3% - ou 1,8 ponto
porcentual acima do centro da meta, que já é alto.Não
venha o governo jogar areia nos olhos do público, gabando-se do que
seria o pleno-emprego obtido graças à clarividência da presidente. Os
números oficiais escamoteiam que, nos últimos tempos, a taxa de ocupação
não aumentou, mas, sim, o contingente de brasileiros que deixaram de
procurar trabalho, excluindo-se da população economicamente ativa e,
portanto, das estatísticas. Além disso, com as contratações se
concentrando no setor público e no de serviços, cresce a proporção de
empregos de baixa qualidade: os de alta qualidade sumiram porque o seu
provedor natural, a indústria, se tornou um morto-vivo. Nenhum agente
econômico que se preze pode ignorar essa realidade - e o seu
prolongamento por mais quatro anos se as urnas confirmarem as últimas
pesquisas. Quem se encarrega de fundamentar as piores previsões é a
presidente em pessoa.
Diante do desmazelo das finanças
públicas, por obra da gastança erigida em política de Estado, Dilma
deixa explícito que dela não se espere, no segundo mandato, o choque
fiscal imprescindível para resgatar a economia do buraco. Nesse ponto,
uma comparação se impõe: em 2002, quando o favoritismo de Lula nas
sondagens levava o dólar à estratosfera, bons conselheiros o induziram a
acalmar os agentes econômicos garantindo numa Carta aos Brasileiros que
o seu governo não faria aventuras. Lula tinha a seu lado interlocutores
capazes como Antonio Palocci e Henrique Meirelles. Mas a interlocução
só foi possível porque Lula era pragmático. Já Dilma é ideológica e
onisciente. Diante disso, ninguém vê na anunciada demissão do titular da
Fazenda, Guido Mantega, um sinal de mudança. O comportamento do mercado
comprova o ceticismo.
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