quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O problema da educação nos EUA é realmente apenas um problema dos professores?
 
sxc.hu
Para a maioria dos americanos, a seguinte declaração não é uma surpresa: em comparação às crianças de outros países ricos, o estudante americano médio não está se saindo muito bem, especialmente em matemática, apesar de os Estados Unidos gastarem mais dinheiro em educação do que a maioria dos outros países.
 A questão é o motivo. Trata-se dos próprios alunos –eles apenas precisam se esforçar mais em matemática? Ou é culpa dos professores? Os estudantes não estão aprendendo porque seus professores não são muito bons no seu trabalho? E se este é caso, o que deveria ser feito?
Essas são as perguntas no centro de um recente episódio de nosso podcast "Freakonomics Radio".
A qualidade dos professores passou a dominar o debate nacional sobre reforma da educação, e apesar de haver vários outros fatores envolvidos, parece claro que professores indevidamente treinados, não qualificados, têm ao menos parte da culpa pelo mau desempenho das escolas americanas. Não é particularmente difícil obter um grau de licenciatura nos Estados Unidos e não é difícil se tornar professor. Stephen Dubner falou com Joel Klein, o ex-reitor das escolas de Nova York e autor de "Lessons of Hope: How to Fix Our Schools", que disse que cada vez mais escolas americanas contratam professores que se formaram na metade inferior ou no terço inferior de suas turmas universitárias. Em comparação com a Finlândia, onde, segundo Amanda Ripley, a autora de "As Crianças Mais Inteligentes do Mundo e como elas chegaram lá", é tão difícil entrar em uma escola com boa educação quanto entrar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
O resultado final, segundo Dana Goldstein, autora de "The Teacher Wars: A History of America's Most Embattled Profession", é que os professores americanos estão "um pouco abaixo da média".
Ao mesmo tempo, nova pesquisa aponta para o impacto imenso que professores acima da média podem ter na vida das crianças. John Friedman, o economista de Harvard, mostrou que substituir um professor mediano em uma sala de aula por um professor considerado entre 5% melhores de sua profissão aumentará a renda total futura de seus alunos em quase US$ 1,5 milhão. "Mas não se trata apenas dos estudantes ganharem salários maiores", disse Friedman para Dubner. "Nós também vemos que aumenta a probabilidade deles cursarem uma faculdade, de não apenas conseguirem empregos mais bem remunerados, mas também empregos de alta qualidade, maior probabilidade de viverem em bairros de maior qualidade, e até mesmo vemos uma menor probabilidade das alunas terem filhos na adolescência."
Esses são benefícios grandes e palpáveis. Os professores têm a habilidade de mudar a trajetória de vidas inteiras, comunidades inteiras. Mas os Estados Unidos não pagam seus professores de uma forma que respeita essa habilidade. Segundo Goldstein, a renda média dos professores das escolas públicas americanas é de US$ 54 mil –que é semelhante ao que os professores de outros países desenvolvidos recebem. O problema é que há uma enorme disparidade entre o salário típico de um professor e os salários de outros profissionais com formação universitária nos Estados Unidos. Em países como a Coreia do Sul, por outro lado, um advogado ou engenheiro ganham em média muito menos em comparação ao salário médio de um professor.
Logo, talvez uma forma para os Estados Unidos recrutarem melhores professores seria simplesmente pagar mais. Para David Levin, um ex-professor que cofundou o programa Conhecimento é um Programa de Poder, ou KIPP (na sigla em inglês), uma rede nacional de escolas públicas, a questão é clara. "Nós temos que começar a pagar mais aos nossos professores e reconhecer que haverá profissões que pagam mais", ele disse a Dubner. Levin tem outras ideias para como a sociedade pode mostrar seu amor pelos professores: aqueles que permanecerem no emprego por mais de cinco anos podem ser isentos do pagamento de imposto de renda ou professores poderiam ser autorizados a embarcar primeiro nos voos comerciais, assim como os membros das forças armadas.
A questão maior, entretanto, é a educação –independe de quanto os Estados Unidos pagam aos seus professores, é preciso treiná-los melhor. Levin fala sem rodeios: "A forma como treinamos os professores está fundamentalmente quebrada neste país". Os motivos estão ligados, entre outras coisas, ao fato de o treinamento ser "baseado desproporcionalmente na teoria", o que significa que os professores aprendem muito sobre as teorias por trás do desenvolvimento da criança e ensino de matemática, sem aprender a dar de fato uma aula de matemática. E os professores não são treinados a tirar proveito da tecnologia na sala de aula ou a preparar seus alunos para as faculdades para as quais irão ou para os empregos que terão daqui décadas.
Uma terceira questão, mais fundamental, é a desconexão profunda entre a formação do professor e seu desempenho. Diferente dos médicos, que provavelmente perderão sua prática se não estiverem familiarizados com as mais recentes tecnologias médicas, os professores com frequência podem manter seus empregos independente de quão incompetentes forem. "É historicamente muito, muito difícil avaliar e afastar professores ineficazes", Levin disse para Dubner. "Como você é treinado e seu futuro desempenho são muito, muito desconectados. Recentemente há um grande esforço em torno da avaliação e prestação de contas do professor. Mas as pessoas ainda não estão conectando todo o ciclo entre o recrutamento, desenvolvimento e retenção dos professores."
Ligar esses pontos foi a principal inspiração por trás da Relay Graduate School of Education, cofundada por Levin em 2011 para promover uma abordagem mais prática, voltada a resultados, ao treinamento de professores. "O que pensamos é que você poderia criar uma união mais produtiva entre teoria e prática, e ter pessoas ensinando professores que ainda estão ligadas a alunos tanto na condição de professores quanto diretores", disse Levin. O site da Relay alega que ele é o primeiro programa de educação a exigir dos alunos que "demonstrem proficiência e realização em suas salas de aula enquanto lecionam para obterem um diploma". Antes de concluírem o programa de dois anos, os estudantes devem mostrar que seus alunos conseguiram de fato um ano de avanço acadêmico em um período de 12 meses.
Klein, o ex-presidente das escolas de Nova York, compartilha a crença de Levin na importância do ensino da prática e na elevação dos padrões de entrada na profissão de professor: "É preciso apoio a exigências rigorosas de entrada na profissão –seja o equivalente a alguma forma de exame nacional ou exame estadual– mas que realmente teste as pessoas sobre os diversas habilidades e talentos que precisam".
No final, entretanto, se resume a mais do que apenas qualificações –trata-se de compaixão. "Eu acho que há dois aspectos cruciais para o que faz nossos professores serem bem-sucedidos", Levin disse para Dubner, referindo-se aos seus professores KIPP. "Um é a combinação de cabeça e coração. O que quero dizer com isso é a habilidade de fornecer simultaneamente conteúdo rigoroso –considere isso a parte 'cabeça'– e ao mesmo tempo motivar e fazer com que as crianças se importem profundamente consigo mesmas, seu futuro e com o conteúdo que está sendo fornecido."

Tradutor: George El Khouri Andolfato

Nenhum comentário: