segunda-feira, 29 de junho de 2015

Correção de provas padronizadas não requer professores nos EUA
Motoko Rich - NYT
Ilana Panich-Linsman/The New York Times19.jun.2015 - Rose Rodriguez-Rabin (esq) e Valerie Gomm (dir) corrigem provas em um escritório da Pearson em San Antonio, no Texas (EUA) 19.jun.2015 - Rose Rodriguez-Rabin (esq) e Valerie Gomm (dir) corrigem provas em um escritório da Pearson em San Antonio, no Texas (EUA)
O novo currículo escolar norte-americano conhecido como Common Core [algo como Núcleo Comum] enfatiza o pensamento crítico, a resolução de problemas e as habilidades de escrita, e coloca menos ênfase na aprendizagem mecânica e na memorização.
Por isso, as provas padronizadas aplicadas na maioria dos Estados este ano tiveram menos perguntas de múltipla escolha e muito mais redação sobre temas como este, apresentado aos alunos do ensino fundamental: leia uma passagem de um romance escrito em primeira pessoa e um poema escrito na terceira pessoa, e descreva como o poema poderia mudar se tivesse sido escrito na primeira pessoa.
Mas os resultados não são necessariamente julgados por professores.
Na sexta-feira, em um conjunto de escritórios discreto a nordeste do centro de San Antonio, cerca de 100 funcionários temporários da gigante de provas Pearson trabalhavam em silêncio dando notas para milhares de ensaios curtos escritos por alunos de terceiro e quinto anos de todo o país.
Entre eles havia uma ex-planejadora de casamentos, um técnico médico aposentado e uma ex-vendedora da Pearson com mestrado em terapia conjugal.
Para conseguir o trabalho, assim como outros examinadores de todo o país, eles precisam ter um diploma universitário de um curso de quatro anos, com trabalhos acadêmicos relevantes, mas nenhuma experiência de ensino. Eles ganham de US$ 12 a US$ 14 por hora, com a possibilidade de bônus quando atingem metas diárias de qualidade e volume.
Funcionários da Pearson e da PARCC, um consórcio sem fins lucrativos que vem coordenado o desenvolvimento das novas provas do Common Core, dizem que o treinamento e os protocolos de notas rigorosos são projetados para garantir a coerência, não importa quem está avaliando os testes.
Às vezes, o processo de pontuação pode lembrar a forma como uma rede de lanchonetes monitora o trabalho de seus funcionários e a qualidade de seus produtos.
"Do ponto de vista de comparar-nos à Starbucks ou ao McDonalds, são lugares aonde você vai e sabe exatamente o que esperar", disse Bob Sanders, vice-presidente de conteúdo e pontuação da Pearson North America, quando questionado se a analogia era válida.
"O McDonald tem um processo para garantir que colocam dois hambúrgueres no Big Mac", ele continuou. "Nós fazemos exatamente a mesma coisa. Temos processos para supervisionar os nossos processos, e para garantir que eles estão sendo seguidos."
Mesmo assim, educadores como Lindsey Siemens, professora de educação especial na Edgebrook Elementary School em Chicago, veem um problema quando as provas não são avaliadas principalmente por professores.
"Mesmo como professores, ainda estamos aprendendo o que o currículo do Common Core está pedindo", diz Siemens. "Então pegar alguém que não é da área e pedir para que ele avalie o progresso ou o sucesso dos alunos parece um pouco arriscado."
Cerca de 12 milhões de alunos de todo o país, do terceiro ano ao ensino médio, fizeram as novas provas este ano.
A Parcc, formalmente conhecida como Parceria para Avaliação de Prontidão para a Faculdade e Carreiras, e  o Consórcio Smarter Balanced Assessment, outro grupo de desenvolvimento de provas, juntamente com outras empresas como a Pearson, trabalharam com professores e funcionários estaduais da educação para desenvolver as questões e definir critérios detalhados para dar notas às respostas dos alunos.
Alguns Estados, entre eles Nova York, desenvolveram provas para o Common Core sem o envolvimento de nenhum consórcio.
A Pearson, que coordena 21 centros de avaliação em todo o país, contratou 14.500 examinadores temporários durante toda a temporada de avaliação, que começou em abril e continuará até julho.
Cerca de três quartos dos examinadores trabalham em casa. A Pearson os recrutou através de seu próprio site, referências pessoais, feiras de emprego, motores de busca de emprego na internet, anúncios classificados em jornais locais e até mesmo pela Craigslist e Facebook. Cerca de metade das pessoas que passam pelo treinamento não são contratadas no final.
A Parcc disse que mais de três quartos dos examinadores têm pelo menos um ano de experiência de ensino, mas não tem dados sobre quantos estão trabalhando como professores na sala de aula. Alguns são professores aposentados com vasta experiência em sala de aula, mas um examinador de San Antonio, por exemplo, teve apenas um ano de experiência de ensino há 45 anos.
Para provas como o Advanced Placement, aplicadas pelo College Board, os examinadores devem ser professores universitários ou de ensino médio atuantes, que tenham pelo menos três anos de experiência de ensino no tema que estão avaliando.
"Ter professores envolvidos na avaliação é uma grande oportunidade", disse Tony Alpert, diretor executivo da Smarter Balanced. "Mas não queremos fazer isso à custa do verdadeiro trabalho deles, que é ensinar os alunos."
O fator mais importante na avaliação, dizem os especialistas em provas, é definir diretrizes claras o bastante para que dois examinadores diferentes cheguem ao mesmo resultado de forma consistente.
Durante as sessões de treinamento que levam  de dois a cinco dias para as provas da Parcc, os possíveis examinadores estudam exemplos de ensaios de alunos que foram avaliados por professores e pelo critério de pontuação.
Para monitorar a avaliação dos funcionários, a Pearson coloca questões previamente avaliadas nos computadores dos examinadores para ver se as notas deles batem com as que já foram dadas pelos supervisores. Os examinadores que cujas notas não correspondem a esses documentos de validação são dispensados.
Alguns professores questionam se os examinadores podem avaliar de forma justa sem saber se um aluno tem dificuldades de aprendizado ou tem o inglês como segunda língua. A Pearson diz que algumas provas de matemática são avaliadas em espanhol. Os examinadores não vêem nenhuma característica de identificação dos alunos.
Professores experientes também dizem que alguns alunos se expressam de forma que podem ser difíceis para quem não é educador decifrar.
"Às vezes, os alunos dizem coisas como alunos que, como professor, você precisa interpretar o que eles de fato estão dizendo", disse Meghann Seril, professora do terceiro ano na Broadway Elementary School, em Venice, Califórnia, cujos alunos fizeram a prova da Smarter Balanced este ano.
"Essa é uma habilidade que um professor precisa desenvolver ao longo do tempo, e acho que o examinador também precisa ter isso."
Mas especialistas dizem que as provas padronizadas são projetadas para avaliar o trabalho dos alunos por adultos que não conhecem a criança.
"Eles não sabem como seu filho se comportou na sala de aula ontem", disse Catherine McClellan, ex-diretora de pesquisa do Educational Testing Service e atualmente consultora independente para distritos escolares, agências estaduais de educação e fundações.
"E isso é na verdade uma coisa boa, porque eles vão julgar de forma neutra, imparcial", com base nas diretrizes de pontuação e treinamento.

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