Reinaldo Azevedo - VEJA
Outro
que, infelizmente, perdeu uma boa chance de ficar calado foi o advogado
Celso Antônio Bandeira de Mello, de 78 anos, amigo de Lula e entusiasta
do PT. Ele tem algumas críticas a fazer à operação Lava Jato. Também
tenho, como vocês sabem. Mas ele avançou por considerações absolutamente
inaceitáveis.
Vamos lá. Eu
acho, sim, que se está usando prisão preventiva como antecipação de
pena e como instrumento de pressão para obter delação premiada. E é
evidente que a prática me parece inaceitável. Mais: há uma crispação de
procuradores e do juiz Sergio Moro com a defesa que me parece
condenável. Mas vamos devagar! Há críticas que são inaceitáveis.
Leio na Folha algumas considerações de Bandeira de Mello que têm de merecer nosso repúdio.
Disse, por exemplo, o doutor sobre as prisões:
“O que tem sido noticiado é empresário sendo preso e submetido a condições muito insatisfatórias. Vamos ser realistas, se você viveu numa favela, sua condição de vida é uma. Se você está acostumado a um mínimo de privacidade e o colocam numa cela que só tem um buraco [sanitário] sem porta, você está sendo torturado. Colocar alguém nessas condições é submetê-lo a tortura psicológica.”
“O que tem sido noticiado é empresário sendo preso e submetido a condições muito insatisfatórias. Vamos ser realistas, se você viveu numa favela, sua condição de vida é uma. Se você está acostumado a um mínimo de privacidade e o colocam numa cela que só tem um buraco [sanitário] sem porta, você está sendo torturado. Colocar alguém nessas condições é submetê-lo a tortura psicológica.”
Isso não é
ser realista. Eu estou entre aqueles que lamentam a espetacularização de
certas operações e algumas abordagens absolutamente ressentidas sobre
os presos. Não é raro perceber um tanto de despeitado ao ver “os ricos”
submetidos aos rigores da prisão. Não é, em si, um bom sentimento. Isso é
fruto do pior lixo da cultura petista.
O doutor
está falando coisa muito distinta. Ele está a dizer que uma cadeia não
muita boa para um favelado é aceitável, mas que constitui tortura quando
se trata de um endinheirado. A ser como ele diz, o Estado deveria,
então, oferecer prisões distintas para ricos e pobres. Infelizmente e em
certa medida, isso já existe hoje, não é mesmo? Há, reitero, uma
diferença entre alguém vibrar porque um bilionário vai usar um banheiro
sem porta e advogar que isso é até aceitável se o preso veio da favela.
Diz ainda Bandeira de Mello:
“Com o apoio da imprensa, o país está caminhando, a passos largos, para o fascismo. Se a imprensa não montasse um palco para esse juiz, isso não aconteceria. Tanto é assim que na hora que aparecer algum assunto novo, como a Olimpíada, esse assunto todo vai morrer. Corrupção sempre existiu, mas a novidade é a imprensa tratar disso como um verdadeiro escândalo.”
“Com o apoio da imprensa, o país está caminhando, a passos largos, para o fascismo. Se a imprensa não montasse um palco para esse juiz, isso não aconteceria. Tanto é assim que na hora que aparecer algum assunto novo, como a Olimpíada, esse assunto todo vai morrer. Corrupção sempre existiu, mas a novidade é a imprensa tratar disso como um verdadeiro escândalo.”
Eu acho,
sim, que, a imprensa deixa de apontar exageros óbvios cometidos pela
Lava Jato, mas o petista Bandeira de Mello avalia que a imprensa é que
está flertando com o fascismo? Ora, doutor…
De resto,
ele está com uma visão absolutamente distorcida do novo Brasil. Será que
basta chegar a Olimpíada para que tudo seja esquecido? Caberia lembrar
ao advogado que a Copa América e a Copa do Mundo serviram para
incentivar protestos, turbinados pela presença maciça da imprensa
internacional no país.
As críticas de Bandeira de Mello não só não servem para corrigir vícios da Lava Jato como ainda podem aprofundá-los.
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