Michael R. Gordon - NYT
AP
Em foto de 31 de janeiro de 2014, membros do grupo Estado Islâmico (à esquerda) distribuem vestes negras e véus, que deixam apenas os olhos visíveis, para mulheres iraquianas em Mosul, norte do Iraque. Em áreas controladas pelo grupo Estado Islâmico no Iraque e na Síria, as mulheres não precisam andar todas cobertas, mas são obrigadas a se vestirem de preto, com sapatos sem salto; para os homens, roupas ou estilos de cabelo ocidentais - mesmo gel de cabelo - não são recomendados
Era uma ideia arrojada: o exército dos EUA tinha confiscado uma quantidade enorme de documentos inimigos escondidos, entre eles registros detalhados do alto comando de Saddam Hussein no Iraque e registros da Al Qaeda no Afeganistão. Com o peso do apoio de Robert M. Gates, então secretário de Defesa, o plano era criar um centro onde os documentos e até gravações de áudio ficariam disponíveis para estudiosos de fora do governo.
Algumas das mentes mais brilhantes do mundo poderiam fornecer insights sobre o funcionamento interno dos inimigos dos Estados Unidos. À medida que o centro crescesse, poderia até se expandir para incluir registros inimigos de outros conflitos, como a invasão do Panamá em 1989 ou guerras futuras.
AP
Em foto de 31 de janeiro de 2014, membros do grupo Estado Islâmico (à esquerda) distribuem vestes negras e véus, que deixam apenas os olhos visíveis, para mulheres iraquianas em Mosul, norte do Iraque. Em áreas controladas pelo grupo Estado Islâmico no Iraque e na Síria, as mulheres não precisam andar todas cobertas, mas são obrigadas a se vestirem de preto, com sapatos sem salto; para os homens, roupas ou estilos de cabelo ocidentais - mesmo gel de cabelo - não são recomendados
Era uma ideia arrojada: o exército dos EUA tinha confiscado uma quantidade enorme de documentos inimigos escondidos, entre eles registros detalhados do alto comando de Saddam Hussein no Iraque e registros da Al Qaeda no Afeganistão. Com o peso do apoio de Robert M. Gates, então secretário de Defesa, o plano era criar um centro onde os documentos e até gravações de áudio ficariam disponíveis para estudiosos de fora do governo.
Algumas das mentes mais brilhantes do mundo poderiam fornecer insights sobre o funcionamento interno dos inimigos dos Estados Unidos. À medida que o centro crescesse, poderia até se expandir para incluir registros inimigos de outros conflitos, como a invasão do Panamá em 1989 ou guerras futuras.
O resultado foi o
Centro de Pesquisa sobre Registros de Conflito, que foi criado em
algumas salas sem janela da Universidade de Defesa Nacional em 2010.
Agora, no momento em que um número pequeno porém cada vez maior de conselheiros norte-americanos estão voltando para o Iraque, o centro ficou sem financiamento do Pentágono. Correndo contra o relógio, pesquisadores de lugares como Israel e Noruega analisam os últimos documentos confidenciais abertos pelo centro antes que ele feche suas portas na sexta-feira.
"Foi extremamente útil", disse Amatzia Baram, um acadêmico israelense que vem estudando o Iraque há três décadas.
Em um esforço para manter a coleção à disposição dos estudiosos, autoridades do Pentágono disseram que estão planejando transferir o arquivo para uma instituição civil, que assumiria a responsabilidade por mantê-la financeiramente.
"Já identificamos um candidato muito forte", disse Patrick G. Buchan, funcionário do Departamento de Defesa. Autoridades do Pentágono esperam que o centro possa ser reaberto antes do final do ano.
Embora Buchan tenha se recusado a identificar o possível novo lar dos arquivos, o principal candidato é a Hover Institution, na Universidade de Stanford, que já abriga os registros do Partido Baath do Iraque.
Ainda assim, críticos dizem que o fechamento do centro do Pentágono, e os problemas de financiamento crônicos, falta de equipe e fechamentos temporários pelos quais ele passou nos últimos anos é um caso clássico de economizar centavos enquanto se desperdiça milhões. Com um orçamento de apenas US$ 1 milhão este ano, os gastos do centro são apenas um trocado para o Pentágono, cujo orçamento requisitado para o próximo ano fiscal é de cerca de US$ 600 bilhões.
A saída de alguns apoiadores do centro do Congresso, como o ex-senador Joseph I. Lieberman, bem como a mudança de pessoal no Pentágono, deixou o centro sem defensores poderosos.
"Depois de Gates, acho que não tem ninguém na liderança, muito menos entre os funcionários do Pentágono, que se sinta dono daquilo", disse Thomas G. Mahnken, professor da Universidade Johns Hopkins e ex-funcionário do Departamento de Defesa. "Em uma época de instituições que são grandes demais para falir, meu medo é que, no fim, o CRRC seja pequeno demais para sobreviver e prosperar."
O fechamento também vem num momento em que o governo Obama prometeu derrotar o Estado Islâmico, uma organização terrorista que tem suas origens na Al Qaeda do Iraque –-cujos registros também estão entre os documentos do centro.
"É lamentável e, mais do que isso, um pouco irônico que o CRRC, que fornece informações valiosas sobre os terroristas filiados à Al Qaeda e os baathistas do Iraque, tenha perdido seu financiamento enquanto as forças dos EUA estão lutando contra uma mistura de extremistas islâmicos e ex-baathistas no Iraque", disse David Palkki, ex-vice-diretor do centro, que é membro da Texas A&M University.
Michael Brill, estudante de graduação da Universidade de Georgetown, que passou bastante tempo trabalhando no centro, disse que ficou surpreso ao ler a transcrição de uma reunião de 1991 entre Saddam e Hassan al-Turabi, um líder sudanês da Irmandade Muçulmana. Al-Turabi incitou o ditador iraquiano a abraçar o Islã publicamente para conseguir o apoio muçulmano do exterior para seu governo.
"Os arquivos iraquianos oferecem uma visão das alianças estrangeiras mais importantes e menos conhecidas de Saddam", disse Brill.
Baram lembrou de uma gravação fascinante que ouviu sobre uma reunião de Saddam com seus principais auxiliares, em setembro de 1980, sobre se deveriam ou não invadir o Irã.
"Foi como estar sentado no círculo mais íntimo de Saddam e seus assessores, ouvindo uma das decisões mais importantes já tomadas na história", disse Baram, que usou o material em seu livro mais recente.
Tradutor: Eloise De Vylder
Agora, no momento em que um número pequeno porém cada vez maior de conselheiros norte-americanos estão voltando para o Iraque, o centro ficou sem financiamento do Pentágono. Correndo contra o relógio, pesquisadores de lugares como Israel e Noruega analisam os últimos documentos confidenciais abertos pelo centro antes que ele feche suas portas na sexta-feira.
"Foi extremamente útil", disse Amatzia Baram, um acadêmico israelense que vem estudando o Iraque há três décadas.
Em um esforço para manter a coleção à disposição dos estudiosos, autoridades do Pentágono disseram que estão planejando transferir o arquivo para uma instituição civil, que assumiria a responsabilidade por mantê-la financeiramente.
"Já identificamos um candidato muito forte", disse Patrick G. Buchan, funcionário do Departamento de Defesa. Autoridades do Pentágono esperam que o centro possa ser reaberto antes do final do ano.
Embora Buchan tenha se recusado a identificar o possível novo lar dos arquivos, o principal candidato é a Hover Institution, na Universidade de Stanford, que já abriga os registros do Partido Baath do Iraque.
Ainda assim, críticos dizem que o fechamento do centro do Pentágono, e os problemas de financiamento crônicos, falta de equipe e fechamentos temporários pelos quais ele passou nos últimos anos é um caso clássico de economizar centavos enquanto se desperdiça milhões. Com um orçamento de apenas US$ 1 milhão este ano, os gastos do centro são apenas um trocado para o Pentágono, cujo orçamento requisitado para o próximo ano fiscal é de cerca de US$ 600 bilhões.
A saída de alguns apoiadores do centro do Congresso, como o ex-senador Joseph I. Lieberman, bem como a mudança de pessoal no Pentágono, deixou o centro sem defensores poderosos.
"Depois de Gates, acho que não tem ninguém na liderança, muito menos entre os funcionários do Pentágono, que se sinta dono daquilo", disse Thomas G. Mahnken, professor da Universidade Johns Hopkins e ex-funcionário do Departamento de Defesa. "Em uma época de instituições que são grandes demais para falir, meu medo é que, no fim, o CRRC seja pequeno demais para sobreviver e prosperar."
O fechamento também vem num momento em que o governo Obama prometeu derrotar o Estado Islâmico, uma organização terrorista que tem suas origens na Al Qaeda do Iraque –-cujos registros também estão entre os documentos do centro.
"É lamentável e, mais do que isso, um pouco irônico que o CRRC, que fornece informações valiosas sobre os terroristas filiados à Al Qaeda e os baathistas do Iraque, tenha perdido seu financiamento enquanto as forças dos EUA estão lutando contra uma mistura de extremistas islâmicos e ex-baathistas no Iraque", disse David Palkki, ex-vice-diretor do centro, que é membro da Texas A&M University.
Michael Brill, estudante de graduação da Universidade de Georgetown, que passou bastante tempo trabalhando no centro, disse que ficou surpreso ao ler a transcrição de uma reunião de 1991 entre Saddam e Hassan al-Turabi, um líder sudanês da Irmandade Muçulmana. Al-Turabi incitou o ditador iraquiano a abraçar o Islã publicamente para conseguir o apoio muçulmano do exterior para seu governo.
"Os arquivos iraquianos oferecem uma visão das alianças estrangeiras mais importantes e menos conhecidas de Saddam", disse Brill.
Baram lembrou de uma gravação fascinante que ouviu sobre uma reunião de Saddam com seus principais auxiliares, em setembro de 1980, sobre se deveriam ou não invadir o Irã.
"Foi como estar sentado no círculo mais íntimo de Saddam e seus assessores, ouvindo uma das decisões mais importantes já tomadas na história", disse Baram, que usou o material em seu livro mais recente.
Tradutor: Eloise De Vylder
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