Este texto vai responder à questão lembrando a obra de seu pai. Fernando Holiday, do Movimento Brasil Livre, também se pronuncia. Atenção! Quem primeiro chama o interlocutor de “merda” é o cantor; pior: fidalgo desde sempre, o filho de Sérgio Buarque exige credenciais de quem fala com ele. O pai diria que o comportamento de seu rebento é a cloaca moral do “homem cordial” de “Raízes do Brasil”
Reinaldo Azevedo - VEJA
Está a maior
onda na Internet por causa de um pequeno bate-boca — muito menos grave
do que gritaram os coelhinhos do Bambi — entre Chico Buarque,
acompanhado de alguns amigos bêbados, e um grupo de rapazes que decidiu
lhe fazer algumas cobranças políticas. Creio que todo mundo saiba já do
que falo. Se não souber, segue aqui.
Volto
Será que Chico Buarque é um merda?
Será que Chico Buarque é um merda?
Em primeiro
lugar, todos sabem, e o arquivo está aí, não endosso que pessoas sejam
abordadas em restaurantes, bares ou lojas em razão de sua posição
política — a menos que seja uma manifestação de simpatia, como vive
acontecendo comigo, o que me deixa muito feliz. Mais de uma vez, já
escrevi aqui e disse na rádio Jovem Pan que quem pretende cassar o
direito de o adversário se manifestar é o PT.
Em segundo
lugar, o tal “merda” que tanto barulho fez precisa ser devidamente
qualificado. Chico trata seus interlocutores com evidente menoscabo e,
num dado momento, a exemplo de alguns outros pinguços que estão com ele,
manda ver: “Você é um merda!”. Ao que o outro responde: “Eu queria
ouvir da sua boca: ‘Você é um merda’ E quem apoia o PT o que é que é?”. E
Chico responde: “Um petista!”. E ouve: “É um merda!”.
Embora eu
insista que esse tipo de abordagem, ainda que na rua, não me agrada, não
há agressividade na fala dos rapazes, mas indignação com as opiniões
políticas de um sujeito que usa a fama conquistada na música para fazer
política. Logo, se ele colhe reações políticas de seu discurso — não
consta que seus interlocutores estivessem ali para contestar os seus
trinados —, isso está absolutamente dentro do aceitável, desde que as
coisas sejam ditas e expressas de modo civilizado.
E
civilizada, convenham, a conversa estava, até que Chico rompe o padrão
para, segundo indica o vídeo, chamar o outro de “merda” (1min08s). Sim,
ele o fez primeiro.
O filhinho de papai
Em terceiro lugar, destaque-se a arrogância do fidalgo, que começou a vida sendo incensado porque, afinal, era filho de Sérgio Buarque de Holanda, o autor, entre outros, do clássico “Raízes do Brasil”. É nesse livro que Buarque de Holanda, o pai, explica Buarque de Holanda, o filho.
Em terceiro lugar, destaque-se a arrogância do fidalgo, que começou a vida sendo incensado porque, afinal, era filho de Sérgio Buarque de Holanda, o autor, entre outros, do clássico “Raízes do Brasil”. É nesse livro que Buarque de Holanda, o pai, explica Buarque de Holanda, o filho.
Segundo
Sérgio, um dos traços mais característicos da formação do Brasil é o
chamado “homem cordial”, aquele que não distingue o espaço público do
espaço privado; que usa da condição alcançada ou herdada na esfera
privada para impor a sua vontade no espaço público, de sorte que a lei
do compadrio se sobrepõe às instituições.
Vejam lá com
que sem-cerimônia Chico exige credenciais de seus interlocutores. Diz
um dos jovens, aludindo ao fato de que o cantor, de fato, passa a maior
parte do tempo em Paris: “Meu pai também está em Paris. É gostoso Paris,
né?”. E Chico, com a empáfia do patronato descrito por seu pai: “Rapaz,
engraçado, eu não tou te reconhecendo!”. Aí diz o outro: “Você é
famoso! Eu não sou!”. Indagado, o interlocutor revela seu sobrenome, e o
Chico do Sérgio o repete, com esgar de desprezo. O filho de Sérgio
Buarque exige credenciais de quem fala com ele. O pai diria que o
comportamento de seu rebento é a cloaca moral do “homem cordial” de
“Raízes do Brasil”.
E quer saber
a quais “nomes de família” ele dá a graça de suas bobagens. Sai
perguntando a cada um. Um barbudo, visivelmente alterado pela
consciência etílica, quer saber de “onde” é um dos que conversam com
ele. Ao ouvir um “não interessa”, o pançudo grita: “Interessa! De onde
cê é?”.
Há outras
coisas até divertidas no vídeo. Quando um dos rapazes lembra que Chico
mora a maior parte do tempo em Paris, o que é fato, ele diz, em tom de
acusação, que o outro é leitor da VEJA. Digamos que seja. Chico
certamente gosta da imprensa de nariz marrom que incensa tudo o que ele
produz e escreve, preste ou não.
Nota: ele já
fez músicas de alta qualidade, sim. Seus livros, no entanto, são um
lixo subliterário, e ele só parou de ganhar Jabutis em penca depois que
apontei a patuscada que fazia dele um vencedor que nem precisa disputar.
Ele me atacou num artigo. Demonstrei por que seus livros são ruins. Ele
enfiou o rabo entre as pernas. Fidalgo! Será que Chico é um merda?
Irresponsável
Chico Buarque, incensado pela imprensa também por suas ignorâncias, é um homem notavelmente autoritário. Sai por aí, se preciso, a espalhar as mentiras mais asquerosas em nome da ideologia. E, como se nota, não gosta de ser cobrado. Escrevi aqui, no dia 16 de setembro, um http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/as-mentiras-asquerosas-de-stedile-e-chico-buarque/ sobre um vídeo que ele gravou com João Pedro Stedile, o chefão do MST, em que ambos sustentam haver um plano de privatização da Petrobras. Vejam:
Chico Buarque, incensado pela imprensa também por suas ignorâncias, é um homem notavelmente autoritário. Sai por aí, se preciso, a espalhar as mentiras mais asquerosas em nome da ideologia. E, como se nota, não gosta de ser cobrado. Escrevi aqui, no dia 16 de setembro, um http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/as-mentiras-asquerosas-de-stedile-e-chico-buarque/ sobre um vídeo que ele gravou com João Pedro Stedile, o chefão do MST, em que ambos sustentam haver um plano de privatização da Petrobras. Vejam:
Fatos:
– Inexiste plano para privatizar a Petrobras — infelizmente!;
– o projeto a que se referem apenas permite que, caso a Petrobras não possa ser sócia de campos de exploração do pré-sal, abra mão dessa primazia;
– o projeto é vital para o pré-sal porque, pela lei atual, se a Petrobras não puder arcar com os 30% que lhe cabe na sociedade, nada se faz.
– Inexiste plano para privatizar a Petrobras — infelizmente!;
– o projeto a que se referem apenas permite que, caso a Petrobras não possa ser sócia de campos de exploração do pré-sal, abra mão dessa primazia;
– o projeto é vital para o pré-sal porque, pela lei atual, se a Petrobras não puder arcar com os 30% que lhe cabe na sociedade, nada se faz.
Mas Stedile e
Chico mentem a respeito com o desassombro de que só o esquerdismo e a
má-fé são capazes. Será que Chico é um merda?
Trono da empulhação
Chico Buarque quer defender as causas mais estúpidas, violentas e antipopulares, mas acha um absurdo que possa ser cobrado por isso — o que é repetido bovinamente por boa parte da imprensa. Vejam as barbaridades praticadas nas escolas públicas de São Paulo. Por mais que se possa censurar a Secretaria de Educação por não ter sabido expor direito as vantagens da reestruturação, esta era e é necessária. É mentira, pra começo de conversa, que haverá “fechamento” de escolas.
Chico Buarque quer defender as causas mais estúpidas, violentas e antipopulares, mas acha um absurdo que possa ser cobrado por isso — o que é repetido bovinamente por boa parte da imprensa. Vejam as barbaridades praticadas nas escolas públicas de São Paulo. Por mais que se possa censurar a Secretaria de Educação por não ter sabido expor direito as vantagens da reestruturação, esta era e é necessária. É mentira, pra começo de conversa, que haverá “fechamento” de escolas.
Não
obstante, um grupo de 18 ignorantes disfarçados de artistas, liderados
por Chico Buarque, produziu um vídeo hediondo, com uma letra idiota,
sobre uma causa estúpida. E tudo em defesa das invasões. O autor da
enormidade é um tal Dani Black, capaz de escrever barbaridades como:
“A vida deu os muitos anos de estrutura do humano
À procura do que Deus não respondeu
(…)
Ninguém tira o trono do estudar”.
“A vida deu os muitos anos de estrutura do humano
À procura do que Deus não respondeu
(…)
Ninguém tira o trono do estudar”.
Procurem no
arquivo deste blog. Tenho um “IPI” infalível. O que é o IPI? Índice de
Picaretagem Intelectual. Sei que estou diante de um picareta sempre que
ele transforma verbo em substantivo, um processo que a gramática chama
de “derivação imprópria”. Basta que alguém diga algo como “o estudar”,
“o brincar”, “o fazer”, “o reivindicar”, e eu logo me desinteresso e
olho para o vazio. É que não suporto “o empulhar”.
Sem contar
que Dani Black — quem é esse, caramba?! — acha que a busca de Deus nada
produziu de positivo para a cultura, talvez nem a “Suma Teológica”… E o
tal Dani e os outros 17 imbecis estão certos de que falam em nome da
cultura e da educação.
Como
prosador, Chico é uma lástima, mas ele já soube produzir boas letras,
até ser derrotado por uma “mulher sem orifício” — seja lá o que isso
signifique e que não possa eventualmente ser remediado com Citrato de
Sildenafila, Tadalafila, chá de catuaba ou reza braba. É claro que o
autor da bela música “Soneto” é capaz de reconhecer uma letra ruim —
embora seu soneto tenha se atrapalhado um pouco no ritmo, com a
irregularidade das tônicas: os versos ora são sáficos, ora são heroicos,
ora não são nada. Mas Chico é um letrista, não um poeta, como dizem.
Prepotentes
O dado mais encantador dos nossos artistas “progressistas” é sua alastrante ignorância. Acham que podem se posicionar sobre qualquer assunto que diga respeito à sociedade, expelir regras, posicionar-se, entrar na rinha política, mas se negam a ser cobrados. Quando isso acontece, agem como Chico Buarque: “Seu merda!”. Ou, pior ainda do que isso, apelam ao famoso “Sabem com quem está falando?”. Ou não foi isso o que Chico fez, mas de modo espelhado: “Quero saber com quem estou falando…”?
O dado mais encantador dos nossos artistas “progressistas” é sua alastrante ignorância. Acham que podem se posicionar sobre qualquer assunto que diga respeito à sociedade, expelir regras, posicionar-se, entrar na rinha política, mas se negam a ser cobrados. Quando isso acontece, agem como Chico Buarque: “Seu merda!”. Ou, pior ainda do que isso, apelam ao famoso “Sabem com quem está falando?”. Ou não foi isso o que Chico fez, mas de modo espelhado: “Quero saber com quem estou falando…”?
Todos sabem
que o movimento de invasão das escolas nada tinha a ver com estudantes.
Trata-se de uma inciativa liderada pelo PT — particularmente por uma de
suas milícias: o MTST, comandado por Guilherme Boulos — , com um claro
propósito político, partidário e ideológico. Será que Chico Buarque é um
merda?
Abaixo,
publico uma edição que o Movimento Brasil Livre fez do vídeo dos
ignorantes engajados, com comentário de Fernando Holiday, um dos
coordenadores. Volto depois.
Encerro
Holiday chama de “playboys” os que abordaram Chico. É o único pequeno trecho de sua abordagem de que discordo. Nem sei se são. E se forem? Quando “playboys” se opõem à roubalheira, seja a do PT, seja de qualquer outro, acho isso positivo. Prefiro esses aos playboys e, sobretudo, “playmen” que passaram a puxar o saco do PT para ter o privilégio do Bolsa Juros, do Bolsa Subsídio, do Bolsa Desoneração, do Bolsa BNDES, do Bolsa Rico…
Holiday chama de “playboys” os que abordaram Chico. É o único pequeno trecho de sua abordagem de que discordo. Nem sei se são. E se forem? Quando “playboys” se opõem à roubalheira, seja a do PT, seja de qualquer outro, acho isso positivo. Prefiro esses aos playboys e, sobretudo, “playmen” que passaram a puxar o saco do PT para ter o privilégio do Bolsa Juros, do Bolsa Subsídio, do Bolsa Desoneração, do Bolsa BNDES, do Bolsa Rico…
Chico
Buarque, que jamais fez uma mísera crítica a ditaduras de esquerda,
tornou-se uma das faces visíveis da justificação de um governo
criminoso. Do alto de sua sapiência, diz que, se seus interlocutores
acham o PT bandido, ele, Chico, acha “o PSDB bandido”. Tem o direito de
achar. Mas também tem o dever de apontar onde está ou esteve o
banditismo. Não duvido que haja ou tenha havido bandidos no PSDB e em
qualquer legenda. A questão está em definir quando a bandidagem se torna
um sistema de governo.
É possível
que ainda volte ao assunto. Dito isso tudo, acho que vocês já têm mais
elementos para responder: será que Chico Buarque é um merda?
Ele deixou claro, de modo arrogante, que nem sabia com quem estava falando. Mas nós sabemos muito bem com quem estamos falando.
Ademais, o
mais laureado, nem importa se justa ou injustamente, dos ditos “artistas
brasileiros” deveria é se envergonhar de apelar a coisas como a Lei
Rouanet para divulgar a sua obra. O subsídio — porque é disso que se
trata — à obra de Chico, ora vejam, poderia virar remédio ou leitos nos
hospitais do Rio — não na Zona Sul, onde ele solta seus trinados.
Chico, em suma, é o homem que seu pai lastimou em “Raízes do Brasil”.
Será que Chico Buarque é um merda?
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