O ano em que se confirmou o fim do modelo lulopetista
O Globo
Balanço de 2015
*Estimativa/PME **Janiero/novembro ***até novembro
Fonte: IBGE, Tesouro Nacional, Banco Central, IPEA, Boomberg e relatório Focus/BC
Historiadores não seguem o calendário gregoriano. Por método, dividem
os fatos em ciclos, por sobre a convenção de se limitar o ano a 12
meses. Getúlio, na primeira encarnação, por exemplo, perdurou sete anos,
de 1930 até o golpe do Estado Novo, e por aí segue.
Hoje, concluem-se os primeiros 12 meses do segundo mandato de Dilma.
São, portanto, cinco anos de Dilma no poder, e também 13 de PT no
Palácio do Planalto, todos com Dilma em postos proeminentes: ministra de
Minas e Energia, chefe da Casa Civil, presidente da República. Com o
detalhe de ter presidido o Conselho de Administração da Petrobras de
2003 até disputar as eleições presidenciais de 2010.
Dilma é o fio condutor pelo qual o lulopetismo põe em prática o
projeto dos sonhos: dirigista, concentrador de rendas da sociedade no
Estado, este aparelhado pelo partido, a fim de redistribuir o dinheiro
do contribuinte para fazer o “bem” ao pobres e aos empresários
escolhidos para ser futuros “campeões nacionais”.
Portanto, a seriíssima crise na qual Dilma 1 embalou o Brasil precisa
ser colocada numa contexto amplo. Esses 12 meses de 2015 são apenas a
menor parcela de um experimento catastrófico. Ele foi sinalizado a
partir do final do primeiro mandato de Lula, quando, afastado José
Dirceu da Casa Civil, Dilma, a substituta, rejeitou, por “rudimentar”, a
proposta que lhe foi apresentada pelos ministros da Fazenda e
Planejamento, Antonio Palocci e Paulo Bernardo, para impedir que as
despesas públicas crescessem mais que o PIB. A ideia, correta, sensata,
livraria o país desta que deve ser a mais grave crise desde a provocada
pela Grande Depressão americana, em 1929/30. Consta que Lula, sempre
ardiloso, ordenou a Dilma matar na origem aquela proposta, contrária ao
ideário do “Estado forte”.
Já a crise mundial iniciada em 2008, com a explosão da bolha
imobiliária-financeira americana, serviu de pretexto para o início de
implementação do “novo marco macroeconômico”, ainda com Lula no poder,
sob inspiração da ministra Dilma, coadjuvada por Guido Mantega, na
Fazenda. Que ela manteria no primeiro mandato, juntando-se aos dois o
secretário do Tesouro Arno Augustin, o mago da “contabilidade criativa”,
das pedaladas e outros truques. Gastos sem controle, descuido com a
inflação, manipulação do câmbio e de preços administrados se constituem a
fórmula básica que destruiu a Venezuela chavista e desestabilizou a
Argentina kirchnerista, aparecendo aos brasileiros mais distraídos
apenas neste ano. Antes sufocada por razões eleitoreiras, a crise
desabrochou: inflação em dois dígitos, déficits fiscais cavalares,
recessão grave e desemprego em alta rebaixam a nota de risco do país
para nível especulativo e elevam a cotação de papéis que servem como
seguro contra uma quebra do Brasil, os CDS (Credit Default Swap).
(gráficos)
Entra-se na fase final do ciclo da política econômica lulopetista.
Haverá pelo menos mais um capítulo, com o economista Nelson Barbosa,
transferido do Planejamento para a Fazenda, no lugar de Joaquim Levy.
Barbosa, próximo ao PT, fará o que a economista Dilma quiser. Também por
isso é dito que 2015 não acaba hoje. E ainda não é possível saber até
onde irá.
OS PONTOS-CHAVE
1
A fórmula do “novo marco macroeconômico”,
baseada do ativismo estatal, deflagrou a crise
2
Dilma, desde que assumiu a Casa Civil, no fim do primeiro mandato de Lula, trabalhou pelo modelo
3
Com Lula no Planalto, foi aproveitada a crise mundial, a partir de 2008, para a aplicação do “novo marco”
4
Bilionárias transferências do Tesouro, maquiadas
por artifícios contábeis, expandiram a dúvida pública
5
A mesma fórmula aplicada no Brasil desestabilizou a Argentina kirchnerista e destroçou a Venezuela chavista
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