A era do petróleo
Joana Petiz - DN
Da
mesma forma que a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras, não
será por nos faltar o petróleo que vamos deixar de usar combustíveis
fósseis. A frase do xeque saudita Ahmed Yamani completava-se com a
certeza de que, com os preços acima dos 30 dólares por barril, como
vinha acontecendo antes do virar do século, a tecnologia faria o seu
caminho no sentido de encontrar e tornar comercialmente viáveis soluções
energéticas alternativas. O que o xeque saudita não previu, há 15 anos,
foi que as sucessivas alternativas avançariam a ritmo lento - mesmo
depois de o petróleo passar e se manter bem acima dos cem dólares por
barril. Como não imaginou que a esses preços se tornaria rentável a
descoberta e exploração de novas reservas e que a tecnologia ligada ao
crude, essa sim, se desenvolveria continuamente para permitir sacar até à
última gota dessas reservas, mesmo que fossem muito longe da costa,
mesmo que estivessem dentro de pedras ou muitos quilómetros abaixo da
superfície do mar e precisassem de ser submetidas a complexas formas de
filtragem. A tecnologia que o xeque saudita apontava como o maior
inimigo dos produtores de petróleo tornou-se um aliado. Agora, porém,
que o petróleo voltou a cair a pique - em 16 meses passou a custar um
quarto do que valia no verão do ano passado -, o que Ahmed Yamani
vaticinou pode realmente começar. Se os preços baixos potenciam o
consumo e contribuem para que se adie outras formas de produção
energética, também tornam inviável a exploração das novas jazidas - o
investimento necessário não compensa o que se pode ganhar com a venda. E
o acordo a que se chegou em Paris para reduzir brutalmente as emissões
de gases poluentes vão dar uma ajuda. Mas pode bem acontecer que seja a
OPEP a tornar-se a sua principal inimiga: ao manter os preços em queda
por recusar prescindir da sua quota de produção - numa altura em que a
procura está a cair - inviabiliza a exploração de petróleo noutras
partes do mundo. Sobretudo nos países pobres, que agora têm um incentivo
real (também sob a forma de financiamento) para produzir energia limpa.
E que podem descobrir rapidamente que há muito mais vantagens nessas
fontes energéticas. Quando se entrar finalmente neste caminho,
dificilmente poderá voltar-se atrás.
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