Nada leva a se acreditar num ajuste real
O corte pífio de cargos comissionados feito
por Dilma, apenas 11% do anunciado, reforça a dúvida na efetiva
capacidade de o governo consertar a economia
O Globo
O pessimismo de agências internacionais de risco, de consumidores, de
empresários e de quem mais seja com a capacidade de Dilma 2 enfrentar a
grave crise fiscal se fundamenta em percepções fundadas no perfil
político-ideológico da presidente, confirmadas por fatos concretos.
O GLOBO de ontem, por exemplo, revelou que dos 3 mil cargos
comissionados que Dilma se comprometeu em outubro a cortar, só 11% foram
realmente eliminados. Minguados 346. Sendo que só no posto mais alto
desses cargos preenchidos sem concurso, conhecidos pela sigla DAS
(Direção e Assessoramento Superior), há, aproximadamente, 22 mil
felizardos. Muitos até servidores concursados, mas embolsando um
adicional, pago pelo contribuinte, devido ao bom relacionamento com
poderosos do PT e legendas aliadas.
Em outubro, o corte, entre outros, foi anunciado por Dilma, para
ajudar a cobrir um buraco de R$ 30,5 bilhões nas contas públicas
estimado naquele mês para 2016.
Pode até ser que a presidente Dilma tivesse acreditado naquele corte
de cargos comissionados, mesmo tendo uma ideia de Estado avessa à
redução de despesas. Se confiou no atingimento da meta, esqueceu-se que
qualquer projeto de cortes efetivos de despesas colide de frente com uma
armação de poder assentada no fisiologismo. Não sem motivo, os poucos
cortes efetuados o foram apenas em áreas técnicas (Planejamento). Nos
ministérios montados no toma lá dá cá, a grande maioria, nada ou quase
nada. Sequer prosperaram, como anunciadas, fusões de secretarias. E
assim sempre será. Tanto que mesmo Joaquim Levy, no Ministério da
Fazenda, passou a apoiar a ressurreição da CPMF, certamente por se
convencer da impossibilidade de redução efetiva de gastos.
No lulopetismo, a velha tradição brasileira de fazer ajuste pelo
aumento de impostos se tornou imperativo dogmático. Mesmo que a carga
tributária já tenha chegado aos píncaros dos 36%, 37% do PIB, antes da
recessão.
Há, ainda, a resistência obtusa dos tais movimentos sociais a
qualquer ajuste. Primeiro, por questão de sobrevivência, pois são
cevados com o dinheiro do contribuinte. Depois, por miopia ideológica.
Não querem saber que um partido de extrema-esquerda assumiu na Grécia
a fim de se contrapor a qualquer ajuste e precisou voltar atrás para
evitar o caos. E teve de convencer os eleitores do contrário. Não é por
acaso que hoje no Brasil já se vivem aqui e acolá cenas gregas — falta
de medicamentos e insumos em hospitais e emergências da rede pública,
atrasos no pagamento de salários do funcionalismo etc.
Vai-se consolidando a ideia de que é muito difícil um governo que,
por fé religiosa sectária no estatismo — também por esperteza, para
ganhar eleição —, tenha bombado o desregramento fiscal e que ele mesmo,
reeleito, consiga consertar a política econômica ruinosa de autoria
própria.
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