Governichos e badernaços
Percival Puggina - MSM
Qual a diferença entre um governo petista e um badernaço promovido por
militantes de esquerda? É só a extensão do estrago. Praticamente uma
questão contábil.
No episódio do diálogo informal e reservado entre Michel Temer e
Joesley Batista, é impossível não perceber que a repercussão
institucional e a reação da mídia, especialmente daqueles veículos que
pretenderam andar mais rápido do que os fatos, supera, em muito, a
reação social. O motivo é simples: o país, sua imagem e o conceito que
nós brasileiros firmamos de nós mesmos foram soterrados por verdadeira
maré de lama, inibindo sensibilidades. O famoso encontro é apenas mais
um escândalo encenado em nossa Broadway de maus espetáculos políticos.
Exagero? Ora, não conseguimos, agora mesmo, realizar a proeza de
denunciar um escândalo, mediante acordo de delação cujas condições são,
por si mesmas, escandalosas? Não concedeu a justiça brasileira aos
Batista brothers, carimbada e selada, a certificação de um crime tão
gigantesco quanto perfeito?
Qualquer análise política dos fatos em curso que ignore esses dois
vetores – saturação da opinião pública e a intensidade do risco PT –
corre o risco de enfrentar problemas de comunicação e compreensão. O
prestígio do presidente é tão pouco diferente de zero que pode, para
efeitos práticos, ser considerado nulo. Mas a alternativa… Ah! Quem
confia nos atores que se alvoroçam para assumir o papel? O simples fato
de pretenderem desempenhá-lo já os descredencia porque os mecanismos que
os poderiam beneficiar são os mesmos que interromperiam o processo de
recuperação econômica e ampliariam o dano aos setores mais carentes do
país. Os desempregados, os subempregados, os sem qualquer esperança, não
entendem muito de política. São a massa facilmente ludibriável, mas
reconhecem as notícias ruins, que vão, logo ali, alcançar seu bolso, sua
mesa e suas famílias.
Isso já ficou muito claro para quem, observando as atuais
manifestações de rua, nota que elas se restringem aos militantes de
sempre, divididos em dois grupos distintos: o grupo daqueles cuja
esperança tem preço e o daqueles que preferem receber pouco, mas à
vista.
O presidencialismo brasileiro, em situação normal, é um desastre
sempre pronto para acontecer. A cada dia que passa, o que está em curso
tem o dom de estampar sorrisos em fisionomias que prefiro de cenho
ferrado e vociferantes. Não nos surpreendamos, então, se o Fora Temer
acabar reconsolidando a base e dando suporte à sua presidência. Afinal,
dirão muitos, o mal menor não tem presidido tantas decisões políticas e
eleitorais em nosso país? Tal fato será mais uma conseqüência do
desastre ético que foram os treze anos do governo PT/PMDB. Terceirizamos
a moralidade pública para a Lava Jato e nos tornamos ainda mais
escandalosamente tolerantes.
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