Dirão alguns — generosos — que o partido se move com discrição não para trair, mas por um compromisso responsável com o Brasil. A agenda das reformas vai como desculpa
Carlos Andreazza - O Globo
A ser
verdade o que diz a imprensa, o PSDB — não sozinho — conspira contra o
governo que integra. É o que se lê — diariamente — nos jornais: reuniões
e mais reuniões em que se conchava sobre a sucessão de um presidente
que, publicamente, os tucanos dizem apoiar. Incontornável é que, até
aqui, o partido não negou — ao menos não com ênfase digna a um aliado —
que forneça linha a essa costura. Os encontros são inegáveis — o que
vende pano barato à capa da conspiração.
Dirão alguns — generosos — que o PSDB se move com discrição não para trair, mas por um compromisso responsável com o Brasil. A agenda das reformas vai como desculpa. Ciente de que é o fiel da balança da tal governabilidade, o partido — enquanto trama as amarras de uma sucessão presidencial controlada — permaneceria ao lado de Michel Temer para que o país não parasse de vez. É bonito discurso. Pode ser procedente. Mas prefiro a hipótese de que assim aja por não ter ainda um nome de consenso em função do qual desertar. Terá?
Seja como for, fato é que se ganha tempo também na dissimulação. Ao próprio presidente — que decerto não desconhece o que se alinhava — não interessa esticar essa corda agora. Melhor é se deixar enganar. Progressivamente enfraquecido junto ao empresariado, o que se terá agravado com a saída de Maria Silvia Bastos da presidência do BNDES, Temer precisa do PSDB; que, afinal, ainda não devolveu os ministérios e cargos que ocupa, a única medida real para ruptura em Brasília. Devolverá?
Sabe-se que o impeachment é uma impossibilidade. Rodrigo Maia não aceitará qualquer dos pedidos. É também sabido que a investigação contra o presidente no Supremo perdeu força, certamente credibilidade, minada pela imperícia do Ministério Público. De modo que toda a atividade política está hoje voltada ao julgamento da chapa Dilma/Temer no Tribunal Superior Eleitoral, marcado para o próximo dia 6. Segundo se fala abertamente, tão escancaradamente que até Marina Silva conseguiu se manifestar a favor, a cassação seria o melhor caminho, porque o mais rápido, para derrubar o presidente.
É o que o PSDB, em todos os sentidos do verbo, espera — e até onde, diz-se, o partido vai com o governo. Será? Se Temer perder, confia-se em que os tucanos não o acompanharão nos recursos — inclusive ao STF — a que tem direito. Fala-se muito, há dias, em que o presidente estaria isolado. É falso. Ele provavelmente estará — estará, PSDB? — caso vencido no TSE.
Temer sabe disso, daí porque outra coisa ora não faça do que trabalhar para sustentar os votos que julgava ter antes da delação dos Batista — e para conquistar outros. Ele diz que não renuncia. Mas fará cálculos até a véspera do julgamento. Se sua contabilidade se indicar insuficiente a que escape da cassação, ainda assim comprará a instabilidade de se pendurar, mais ou menos só, em recursos que lhe dariam — no máximo — seis meses de sobrevida?
Seis meses, no entanto, representam um semestre de governo a girar — ainda que mal e porcamente. Temer também sabe disso. Desembarcará o PSDB — integralmente, para valer — dessa máquina?
Não vi ainda um estadista — um Fernando Henrique Cardoso da vida — para apontar o indecoroso de se tratar como natural, como aceitável, que o Tribunal Superior Eleitoral, cujos julgamentos têm (ou deveriam ter) natureza técnica, encampe a condenação de alguém (Michel Temer, no caso) por algo, relativo a 2017, absolutamente estranho ao processo em questão, de 2014.
Ou não é isso o que se deseja? Ou não é para isso que se torce? Que se resolva logo, no abafa, esse troço — não é isso?
Vamos mesmo nos desdobrar nesse jeitinho oportunista apenas porque consiste na trilha mais curta para derrubar o presidente?
Em que grau de torpeza institucional este país investirá ao dar campo para que uma corte superior proceda como se seus ministros fossem políticos julgando — politicamente — um impeachment no Congresso?
É altamente representativo, aliás, que, na origem desse processo de cassação, esteja o PSDB. Sem muita expectativa de que a coisa prosperasse, o partido, lá em 2014, pretendia apenas atrapalhar a gestão de Dilma Rousseff. Ninguém pensava em Temer. O impeachment de Wanda-Janete-Iolanda, contudo, fez com que os tucanos, reembarcados no poder, se convertessem em vidraça para a atiradeira cujas pedras eles próprios haviam fornecido. Arrependeram-se. E disso muito já se falou.
Tucaníssima, porém, é esta última reviravolta, com a qual, apreensivos, os bicudos se equilibram na amurada: sustentáculo de Temer, com o corpo no governo e as intenções no próximo, o PSDB torce para que a pedrada que arremessou seja certeira, mas que não fira o partido a ponto de sangrar a foto do desembarque.
Dirão alguns — generosos — que o PSDB se move com discrição não para trair, mas por um compromisso responsável com o Brasil. A agenda das reformas vai como desculpa. Ciente de que é o fiel da balança da tal governabilidade, o partido — enquanto trama as amarras de uma sucessão presidencial controlada — permaneceria ao lado de Michel Temer para que o país não parasse de vez. É bonito discurso. Pode ser procedente. Mas prefiro a hipótese de que assim aja por não ter ainda um nome de consenso em função do qual desertar. Terá?
Seja como for, fato é que se ganha tempo também na dissimulação. Ao próprio presidente — que decerto não desconhece o que se alinhava — não interessa esticar essa corda agora. Melhor é se deixar enganar. Progressivamente enfraquecido junto ao empresariado, o que se terá agravado com a saída de Maria Silvia Bastos da presidência do BNDES, Temer precisa do PSDB; que, afinal, ainda não devolveu os ministérios e cargos que ocupa, a única medida real para ruptura em Brasília. Devolverá?
Sabe-se que o impeachment é uma impossibilidade. Rodrigo Maia não aceitará qualquer dos pedidos. É também sabido que a investigação contra o presidente no Supremo perdeu força, certamente credibilidade, minada pela imperícia do Ministério Público. De modo que toda a atividade política está hoje voltada ao julgamento da chapa Dilma/Temer no Tribunal Superior Eleitoral, marcado para o próximo dia 6. Segundo se fala abertamente, tão escancaradamente que até Marina Silva conseguiu se manifestar a favor, a cassação seria o melhor caminho, porque o mais rápido, para derrubar o presidente.
É o que o PSDB, em todos os sentidos do verbo, espera — e até onde, diz-se, o partido vai com o governo. Será? Se Temer perder, confia-se em que os tucanos não o acompanharão nos recursos — inclusive ao STF — a que tem direito. Fala-se muito, há dias, em que o presidente estaria isolado. É falso. Ele provavelmente estará — estará, PSDB? — caso vencido no TSE.
Temer sabe disso, daí porque outra coisa ora não faça do que trabalhar para sustentar os votos que julgava ter antes da delação dos Batista — e para conquistar outros. Ele diz que não renuncia. Mas fará cálculos até a véspera do julgamento. Se sua contabilidade se indicar insuficiente a que escape da cassação, ainda assim comprará a instabilidade de se pendurar, mais ou menos só, em recursos que lhe dariam — no máximo — seis meses de sobrevida?
Seis meses, no entanto, representam um semestre de governo a girar — ainda que mal e porcamente. Temer também sabe disso. Desembarcará o PSDB — integralmente, para valer — dessa máquina?
Não vi ainda um estadista — um Fernando Henrique Cardoso da vida — para apontar o indecoroso de se tratar como natural, como aceitável, que o Tribunal Superior Eleitoral, cujos julgamentos têm (ou deveriam ter) natureza técnica, encampe a condenação de alguém (Michel Temer, no caso) por algo, relativo a 2017, absolutamente estranho ao processo em questão, de 2014.
Ou não é isso o que se deseja? Ou não é para isso que se torce? Que se resolva logo, no abafa, esse troço — não é isso?
Vamos mesmo nos desdobrar nesse jeitinho oportunista apenas porque consiste na trilha mais curta para derrubar o presidente?
Em que grau de torpeza institucional este país investirá ao dar campo para que uma corte superior proceda como se seus ministros fossem políticos julgando — politicamente — um impeachment no Congresso?
É altamente representativo, aliás, que, na origem desse processo de cassação, esteja o PSDB. Sem muita expectativa de que a coisa prosperasse, o partido, lá em 2014, pretendia apenas atrapalhar a gestão de Dilma Rousseff. Ninguém pensava em Temer. O impeachment de Wanda-Janete-Iolanda, contudo, fez com que os tucanos, reembarcados no poder, se convertessem em vidraça para a atiradeira cujas pedras eles próprios haviam fornecido. Arrependeram-se. E disso muito já se falou.
Tucaníssima, porém, é esta última reviravolta, com a qual, apreensivos, os bicudos se equilibram na amurada: sustentáculo de Temer, com o corpo no governo e as intenções no próximo, o PSDB torce para que a pedrada que arremessou seja certeira, mas que não fira o partido a ponto de sangrar a foto do desembarque.
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