segunda-feira, 29 de maio de 2017

Temer ofendeu sua biografia e seu estilo ao chamar a tropa
Elio Gaspari - FSP
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, teve toda razão quando disse que havia uma "baderna" na Esplanada dos Ministérios, com a vandalização de prédios públicos. Infelizmente, não era a única. Era a mais visível e predatória, mas nem era mais perigosa.
A baderna de um governo sitiado foi pior, indicando que o palácio de Temer começa a funcionar com a lógica do bunker. Isso aconteceu com o de Dilma e deu no que deu. O maior bunker de todos os tempos foi o de Hitler. Em maio de 1945, com os russos a poucos quarteirões, a cúpula nazista lutava pelo poder, até que Martin Bormann triunfou, recebeu o testamento do Führer e foi para a rua. Andou um pouco e tomou um tiro.
Na tarde de quarta-feira (24), o presidente Michel Temer assinou um decreto autorizando o uso das Forças Armadas para manter a ordem na capital. Jungmann disse que a medida havia sido pedida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Falso, retrucou Maia. Ele pedira o uso da Força Nacional de Segurança. Baderna nº 1, o Legislativo pede uma coisa e o Executivo entrega outra.
Jungmann explicou que chamara a tropa do Exército porque só havia 150 homens da Força Nacional em Brasília. Baderna nº 2, não havia a tropa especifica na capital, apesar da tensão em que estava o país. Jungmann disse que botou a tropa na rua porque a Polícia Militar de Brasília perdeu o controle da situação diante da ação de mascarados. Eram 250. Baderna nº 3, pois o efetivo da PM é de 13 mil homens, a capital tem um dos melhores índices de policiamento, a Esplanada dos Ministérios é a vitrine da cidade e o governador não foi consultado. No dia seguinte, o decreto foi revogado.
Em março de 2016, quando o deputado Raul Jungmann estava na oposição a Dilma Rousseff e integrava o "estado-maior informal do impeachment", ele comentou as informações de que havia conversas de militares com políticos, advertindo que "se a política não resolver a crise, a crise vai resolver a política". Sabe-se lá o que isso queria dizer.
Sempre que se mexe com tropa, vale a pena lembrar o que disse o marechal Castello Branco em agosto de 1964. Ele reclamava dos civis a quem chamava de "vivandeiras alvoroçadas [que] vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar".
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BRANCOS E NEGROS
É fato sabido que 60% da população carcerária brasileira é composta por negros. Em 2012, para cada grupo de 100 mil brancos havia 191 encarcerados. Para cada 100 mil negros havia 292 trancados. O Brasil mudou.
A Lava Jato não prendeu um único negro. Mais: trancou brancos de sobrenomes poderosos. No século passado, a política mineira girava em torno de dois patriarcas, Tancredo Neves e José de Magalhães Pinto. A Lava Jato pegou seus netos ilustres.
SEM GRAMPO
Para quem quer se proteger dos grampos, aqui vão duas lições. Nursultan Nazarbayev, presidente do Cazaquistão, a terra de Borat, conversa coisa importante com dignitário estrangeiro na sauna. Fez isso nos anos 90 com o secretário de Estado americano.
O doutor tem 76 anos e está no poder desde 1984, quando se tornou dono do partido comunista. Sua base de apoio quer trocar o nome da capital (Astana), batizando-a com seu nome. No Brasil, conta a lenda que no século passado o governador de Mato Grosso, Julio Campos, recebeu na piscina uma ex-namorada do senador Roberto Campos. Ela de biquíni e ele de calção, teriam conversado dentro d'água.
CADÊ?
Em dezembro passado, depois que o ministro Geddel Vieira Lima foi abatido por um grampo, Temer anunciou que instalaria equipamentos capazes de de evitar que as conversas em seu gabinete fossem gravadas. Informou-se que dois sistemas estavam sendo testados e nunca mais se falou no assunto. Nenhuma geringonça eletrônica salvaria Temer de Joesley Batista, porque ele o recebeu no escurinho do Jaburu.
CASOS PARA A OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil, que se mete em tudo, poderia ser mais ágil diante das malfeitorias dos seus associados. No acervo da colaboração da JBS está o depoimento de Ricardo Saud, o caixeiro da empresa. Descrevendo o metabolismo das propinas, ele informou: "No final, nós vamos ter tratado com mais de cem escritórios de advocacia, todas notas falsas".
Essa modalidade de disfarce para os capilés vem do século passado, mas Saud listou e documentou transações com dezenas de escritórios. Num caso, mencionou um mimo de R$ 1,2 milhão lavado com notas frias do escritório Erick Pereira Advogados.
Erick Wilson Pereira esteve na lista tríplice de candidatos ao Superior Tribunal de Justiça e até a última quinta-feira seu escritório tinha página na rede, com direito a foto colorida do ex-ministro do STF Cezar Peluso intitulando-o "consultor". Crocodilagem.
6 DE JUNHO
O início do julgamento da cassação da chapa de Dilma e Temer para o dia 6 de junho foi marcado pelas almas dos velhos anarquistas e socialistas do movimento operário de São Paulo.
No dia 6 de junho de 1917, começou uma greve no Cotonificio Crespi. Ninguém dava nada por ela e em poucas semanas parou 40 mil trabalhadores. Há cem anos, uma das reivindicações dos grevistas era o fim das contribuições compulsórias para um Comitê Pró-Patria, da colônia italiana.
Um século depois, os trabalhadores e empresários brasileiros sustentam compulsoriamente o Sistema S (R$ 16 bilhões em 2016) e a máquina dos sindicatos (R$ 3,5 bilhões).

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