Análise: Ação de Gilmar atenta contra pilares fundamentais da Lava-Jato
Ministro do STF quer rever prisão em 2ª instância e que delação da JBS seja homologada pelo plenário
Alan Gripp - O Globo
Pode-se (e deve-se) discutir todas as polêmicas que acompanham as
delações premiadas. O número de acordos é exagerado? Alguns são
excessivamente benevolentes com os delatores? Acusações infundadas não
levaram ao cancelamento de colaborações infrutíferas?
Há problemas no uso do instituto jurídico, mas é inegável que a
Lava-Jato não seria o que é hoje sem informações dos delatores. Elas
produziram provas contundentes que levaram a prisões incontestáveis,
como as de Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e José Dirceu, para ser
econômico. O saldo é, sem dúvida, vantajoso para a sociedade.
Parte do sucesso das delações se dá em razão de uma mudança
significativa na lei. Por determinação do STF, em julgamento recente
feito pelo conjunto de seus ministros, réus condenados em segunda
instância devem passar a cumprir pena imediatamente, salvo em situações
de baixa periculosidade para a segurança de vítimas ou de investigações.
A
mudança na lei reduziu a sensação de impunidade e estimulou novas
colaborações. Sem ter mais a oportunidade de adiar a pena até que o
crime prescrevesse, os delatores se deram conta de que ou colaboravam ou
enfrentavam uma perspectiva real de ir para a cadeia. É, portanto,
também, fundamental para o sucesso da Lava-Jato.
Em menos de 24 horas, o ministro Gilmar Mendes, do STF, atacou tanto
as delações quanto o cumprimento da pena em segunda instância - que,
registre-se, ajudou a aprovar.
Mendes quer submeter o acordo de
Joesley Batista, da JBS, já homologado por Edson Fachin, ao plenário do
Supremo. Se isso ocorrer, criará um ambiente de insegurança e
desestímulo para futuras colaborações. Também passou a defender a
revisão da regra para o cumprimento de penas, contrariando sua própria
posição em duas votações anteriores, em fevereiro e outubro do ano
passado. Ou seja, há apenas sete meses. O que mudou de lá para cá?
Ainda que haja argumentos de debate em ambos os casos, é importante
pontuar que as iniciativas de Gilmar Mendes atentam contra dois pilares
fundamentais da Lava-Jato.
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