A retomada anunciada foi sem nunca ter sido e o que há na economia, depois da crise política, é o atraso da chegada à estagnação
José Paulo Kupfer - O Globo
Entre as consequências da intensa crise institucional que emergiu das delações de Joesley Batista, do grupo J&F, está uma drástica revisão das expectativas dos economistas até então aliados do governo de Michel Temer em relação ao desempenho futuro da economia. Analistas que andavam puxando a economia para cima, na base de um otimismo sem clara sustentação na realidade, começaram a fazer “hedge” da posição em que se encontravam — estavam “comprados” em uma recuperação da atividade mais forte do que a situação econômica recomendaria projetar.
Um
resumo dessa posição incluiria destacar que a economia começava a
“entrar nos eixos”, com a inflação sob forte recuo, uma “tímida”, mas
“evidente”, tendência de retomada do crescimento. Resultado positivo do
IBC-Br, do Banco Central, no primeiro trimestre, depois de dois anos de
números negativos, e saldo positivo de 60 mil novas vagas no mercado
formal de trabalho em abril, depois de meses e meses de destruição de
postos, eram a cereja do bolo dessas evidências.
Por trás dos indicadores positivos listados, o motivo alegado para a inflexão rumo à recuperação era a confiança na aprovação das reformas pelo Congresso. Assim, bastou o roteiro das reformas sofrer um atropelamento, na sequência dos impactos imediatos da conversa comprometedora fora de hora e lugar do presidente Michel Temer com o empresário, para que as análises risonhas fossem substituídas por avaliações sisudas e sombrias.
A recuperação que estava ali na soleira da porta deu lugar a projeções de novos e dramáticos repiques recessivos. Trata-se também de um provável exagero — um overshooting, agora negativo, igualmente sem muita base na realidade. Parecem ter esquecido que a economia brasileira não é um barquinho que balança ao sabor do vento, mas um imenso transatlântico — e com engrenagens não muito bem azeitadas —, cuja eventual mudança de direção, a partir de uma virada no leme, leva tempo e às vezes nem se completa.
Estimativas de uma recuperação mais rápida e firme tinham origem na expectativa de que isso ocorreria na esteira de cortes mais intensos nas taxas de juros, colaborando para reduzir o desemprego — não só de pessoas, mas também de insumos e equipamentos. A esperança era a de que, com a economia em marcha, as reformas encaminhadas pelo governo, até aqui rejeitadas pela maioria da população nas pesquisas, acabassem aceitas com menos resistências. Indicadores econômicos aparentemente favoráveis captados no primeiro trimestre juntaram a fome de bons resultados com a vontade de encontrá-los.
Eventos únicos e excepcionais, que concorreram para distorcer resultados, não foram devidamente relativizados na decretação interessada de uma “recuperação Porcina” — aquela que foi sem nunca ter sido. Primeiro, uma ótima safra de grãos, num momento de alta nas cotações internacionais, que impulsionou as exportações e ajudou a explicar o saldo positivo do emprego formal em abril, quase todo obtido em áreas de influência da agropecuária. Depois, problemas técnicos com as pesquisas mensais do IBGE sobre o comportamento do comércio e dos serviços resultaram em altas notáveis em janeiro e fevereiro, frustradas nos meses seguintes. O presidente do órgão, Paulo Rabello de Castro, nega a acusação de ter promovido alteração metodológica nas pesquisas sem o devido ajuste à série histórica, mas reconhece que elas foram afetadas por um inesperado baixo volume de respostas aos questionários e a coincidências pontuais.
A moral verdadeira da história é que, se um bom número de indicadores relevantes para a determinação do comportamento futuro da economia está deixando de piorar, ele ainda não tem tração para tirá-la do fundo do poço e promover uma recuperação digna do nome. Também não há dúvida de que a crise política, ao atingir o coração do governo, tumultuou o andamento das reformas e as expectativas positivas que elas ensejavam. A conclusão, em uma frase, é que deve atrasar a chegada da economia à estagnação para a qual já se dirigia.
Por trás dos indicadores positivos listados, o motivo alegado para a inflexão rumo à recuperação era a confiança na aprovação das reformas pelo Congresso. Assim, bastou o roteiro das reformas sofrer um atropelamento, na sequência dos impactos imediatos da conversa comprometedora fora de hora e lugar do presidente Michel Temer com o empresário, para que as análises risonhas fossem substituídas por avaliações sisudas e sombrias.
A recuperação que estava ali na soleira da porta deu lugar a projeções de novos e dramáticos repiques recessivos. Trata-se também de um provável exagero — um overshooting, agora negativo, igualmente sem muita base na realidade. Parecem ter esquecido que a economia brasileira não é um barquinho que balança ao sabor do vento, mas um imenso transatlântico — e com engrenagens não muito bem azeitadas —, cuja eventual mudança de direção, a partir de uma virada no leme, leva tempo e às vezes nem se completa.
Estimativas de uma recuperação mais rápida e firme tinham origem na expectativa de que isso ocorreria na esteira de cortes mais intensos nas taxas de juros, colaborando para reduzir o desemprego — não só de pessoas, mas também de insumos e equipamentos. A esperança era a de que, com a economia em marcha, as reformas encaminhadas pelo governo, até aqui rejeitadas pela maioria da população nas pesquisas, acabassem aceitas com menos resistências. Indicadores econômicos aparentemente favoráveis captados no primeiro trimestre juntaram a fome de bons resultados com a vontade de encontrá-los.
Eventos únicos e excepcionais, que concorreram para distorcer resultados, não foram devidamente relativizados na decretação interessada de uma “recuperação Porcina” — aquela que foi sem nunca ter sido. Primeiro, uma ótima safra de grãos, num momento de alta nas cotações internacionais, que impulsionou as exportações e ajudou a explicar o saldo positivo do emprego formal em abril, quase todo obtido em áreas de influência da agropecuária. Depois, problemas técnicos com as pesquisas mensais do IBGE sobre o comportamento do comércio e dos serviços resultaram em altas notáveis em janeiro e fevereiro, frustradas nos meses seguintes. O presidente do órgão, Paulo Rabello de Castro, nega a acusação de ter promovido alteração metodológica nas pesquisas sem o devido ajuste à série histórica, mas reconhece que elas foram afetadas por um inesperado baixo volume de respostas aos questionários e a coincidências pontuais.
A moral verdadeira da história é que, se um bom número de indicadores relevantes para a determinação do comportamento futuro da economia está deixando de piorar, ele ainda não tem tração para tirá-la do fundo do poço e promover uma recuperação digna do nome. Também não há dúvida de que a crise política, ao atingir o coração do governo, tumultuou o andamento das reformas e as expectativas positivas que elas ensejavam. A conclusão, em uma frase, é que deve atrasar a chegada da economia à estagnação para a qual já se dirigia.
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