Marcelo Camargo/Folhapress | ||
Michel Temer e Nelson Jobim |
Matias Spektor - FSP
Quando tentava convencer deputados e senadores a abandonarem Dilma Rousseff, Michel Temer prometia usar a força do cargo presidencial para "estancar a sangria", na expressão infame de Romero Jucá. A promessa serviu como ímã para construir a base parlamentar do impeachment e, de quebra, a coalizão pró-reformas estruturais e anti-Operação Lava Jato que viria a seguir.
O esquema funcionou durante um ano, e o presidente articulou-se no Congresso Nacional do jeito que sempre se fez no Brasil. Unida, a coalizão de sustentação testou diversas fórmulas para melar a operação.
Agora, porém, Joesley Batista inviabilizou esse jogo, e o presidente da República vem perdendo a capacidade de entregar o que prometeu à base de parlamentares da qual depende para governar.
Diante do declínio inesperado da força de Temer, vem ganhando tração a ideia de uma improvável coalizão de conveniência entre PT e PSDB. Juntos, Lula e FHC pisariam com os quatro pés no freio de arrumação. Na eventualidade de Temer cair, o recheio dessa pizza suprapartidária seria um nome como o de Nelson Jobim.
Jobim retrata como ninguém a classe política que hoje está acuada. Membro de todos os governos do ciclo democrático, ele não possui lado, navega com destreza por toda parte e acumula força graças aos laços estreitos que construiu com os principais grupos de interesse que movem a política brasileira.
Nos últimos anos, seja como sócio no BTG, seja na articulação de contratos polpudos tais como os do submarino nuclear, dos caças Gripen ou do sistema de controle de fronteiras, Jobim dominou a interação entre Estado, mercado e terceiros países que a Operação Lava Jato trouxe à superfície.
A viabilidade dessa pizza dependerá da capacidade de Lula e FHC conseguirem trabalhar num projeto comum. O petista não tem muita alternativa: os crimes de seu partido são tantos e tão graves, a sigla tão rachada em facções, que a única direção possível é partir para cima da Operação Lava Jato.
O tucano tem outras alternativas. Com a queda dos principais caciques, FHC conseguiria disciplinar sua sigla, reconhecendo os erros, ressarcindo o erário e pedindo desculpas ao eleitor, antes de pedir-lhe o voto. Para FHC, abrir o programa na TV onde Aécio faz um mea-culpa fajuto não é destino.
Se o plano da pizza vingar, o grande perdedor será o povo brasileiro, que quer a punição de uma classe política que só faz decepcionar. Se FHC quiser mesmo proteger o país de "aventureiros", a última coisa que deveria fazer é tentar enfiar massa podre goela abaixo da nação.
Quando tentava convencer deputados e senadores a abandonarem Dilma Rousseff, Michel Temer prometia usar a força do cargo presidencial para "estancar a sangria", na expressão infame de Romero Jucá. A promessa serviu como ímã para construir a base parlamentar do impeachment e, de quebra, a coalizão pró-reformas estruturais e anti-Operação Lava Jato que viria a seguir.
O esquema funcionou durante um ano, e o presidente articulou-se no Congresso Nacional do jeito que sempre se fez no Brasil. Unida, a coalizão de sustentação testou diversas fórmulas para melar a operação.
Agora, porém, Joesley Batista inviabilizou esse jogo, e o presidente da República vem perdendo a capacidade de entregar o que prometeu à base de parlamentares da qual depende para governar.
Diante do declínio inesperado da força de Temer, vem ganhando tração a ideia de uma improvável coalizão de conveniência entre PT e PSDB. Juntos, Lula e FHC pisariam com os quatro pés no freio de arrumação. Na eventualidade de Temer cair, o recheio dessa pizza suprapartidária seria um nome como o de Nelson Jobim.
Jobim retrata como ninguém a classe política que hoje está acuada. Membro de todos os governos do ciclo democrático, ele não possui lado, navega com destreza por toda parte e acumula força graças aos laços estreitos que construiu com os principais grupos de interesse que movem a política brasileira.
Nos últimos anos, seja como sócio no BTG, seja na articulação de contratos polpudos tais como os do submarino nuclear, dos caças Gripen ou do sistema de controle de fronteiras, Jobim dominou a interação entre Estado, mercado e terceiros países que a Operação Lava Jato trouxe à superfície.
A viabilidade dessa pizza dependerá da capacidade de Lula e FHC conseguirem trabalhar num projeto comum. O petista não tem muita alternativa: os crimes de seu partido são tantos e tão graves, a sigla tão rachada em facções, que a única direção possível é partir para cima da Operação Lava Jato.
O tucano tem outras alternativas. Com a queda dos principais caciques, FHC conseguiria disciplinar sua sigla, reconhecendo os erros, ressarcindo o erário e pedindo desculpas ao eleitor, antes de pedir-lhe o voto. Para FHC, abrir o programa na TV onde Aécio faz um mea-culpa fajuto não é destino.
Se o plano da pizza vingar, o grande perdedor será o povo brasileiro, que quer a punição de uma classe política que só faz decepcionar. Se FHC quiser mesmo proteger o país de "aventureiros", a última coisa que deveria fazer é tentar enfiar massa podre goela abaixo da nação.
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