segunda-feira, 29 de maio de 2017

Joias mais valiosas compradas por Cabral não foram encontradas pela PF 
ITALO NOGUEIRA - FSP
As joias mais caras adquiridas, de acordo com o Ministério Público Federal, pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo não foram encontradas no apartamento do casal nas duas operações realizadas pela Lava Jato.
A Polícia Federal concluiu a análise das 124 joias e 13 relógios encontrados no imóvel. O laudo indica que as peças apreendidas valem R$ 4,8 milhões.
O valor é menor do que os R$ 6,5 milhões gasto pelo casal em apenas duas joalherias de acordo com denúncia apresentada em dezembro pela procuradoria. Os dois são acusados de ocultar o patrimônio adquirido com propina por meio da aquisição desses bens em dinheiro vivo.
Cruzamento feito pela Folha entre os laudos e as listagens entregues pelas joalherias H. Stern e Antônio Bernardo indica que as peças mais valiosas não foram apreendidas pela Polícia Federal.
Estão entre os exemplares ainda não encontrados o brinco espeto de turmalina com diamantes, que custa R$ 612 mil, e o anel de ouro amarelo com rubi, estimado em R$ 600 mil, os dois mais caros da lista.
A joia mais valiosa analisada pela PF foi um par de brincos em formato de flores com 24 diamantes, avaliado pelos peritos em R$ 240 mil. Esta, contudo, não foi adquirida em nenhuma das duas lojas mencionadas.
Os valores das peças atribuídos nos laudos levaram em consideração a listagem entregue pelas joalherias ou pesquisa de mercado, em outros casos.
O brinco espeto de turmalina com diamantes foi comprado na Antônio Bernardo junto com um colar (R$ 229 mil) e um anel (R$ 159 mil) no dia 18 de julho de 2012, aniversário da ex-primeira-dama. Nenhuma das três peças foi apreendida, indica o cruzamento da reportagem.
Já o anel de ouro amarelo com rubi foi adquirido na H. Stern com um brinco amarelo com rubi (R$ 400 mil) no mês em que eles completaram dez anos de casados. Essas joias também não constam da lista da PF.
O valor adquirido pelo casal de acordo com as investigações pode ser até maior do que R$ 6,5 milhões. Após o oferecimento da denúncia, a H. Stern firmou delação premiada e apontou compras de R$ 6 milhões para o casal, quase o triplo do inicialmente informado. A diretora comercial da joalheria, Maria Luiza Trotta, afirma ter vendido uma peça de R$ 1,8 milhão a Adriana Ancelmo.
O apartamento do casal foi alvo de mandado de busca e apreensão no dia 17 de novembro, data da deflagração da Operação Calicute, e no dia 6 de dezembro, quando Adriana Ancelmo foi presa. Cabral é acusado de cobrar propina de 5% dos contratos no Estado e sua mulher, de ajudá-lo a lavar o dinheiro e ocultá-lo.
OUTRO LADO
O advogado Alexandre Lopes, que representa Ancelmo, afirmou que as joalherias atribuíram à sua cliente "joias jamais adquiridas por ela".
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, a ex-primeira-dama disse que nunca comprou joias com dinheiro vivo ou fez aquisições "de valores altos". Ela negou também que as joias compradas nas duas datas festivas fossem dela.
"Não foi comprado por mim. Não foi presente. Honestamente acredito que meu marido não tenha comprado. Quero crer que ele não tenha comprado para outra pessoa", disse, único momento em que sorriu no depoimento.
A defesa de Cabral informou que se manifestará apenas no processo.

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