JBS é símbolo do capitalismo de Estado entre amigos
A delação dos irmãos Batista ocupa, com
razão, o noticiário sobre corrupção, mas também deve ser lembrada a
história da expansão da empresa
O Globo
O grupo JBS se converteu em principal sinônimo de corrupção, desbancando a
Odebrecht, com a delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista à
Procuradoria-Geral da República —, principalmente com a gravação feita
por Joesley de uma conversa comprometedora com o presidente Michel
Temer, revelada pelo GLOBO.
Os relatos de Joesley a procuradores, gravados em vídeo, sobre a
distribuição farta de dinheiro entre políticos, sem discriminar
partidos, são mesmo emblemáticos de tempos de fisiologismo desbragado e
descontrole ético refletidos no mensalão e nas investigações da
Lava-Jato.
Mas o JBS também tem relação direta com os favores fornecidos a
grupos empresariais nos governo Lula e Dilma, dentro da política de
criação dos “campeões nacionais”, com base no BNDES.
Na realidade, trata-se da reedição de programa semelhante — e também
fracassado como este do lulopetismo —, na ditadura militar, para a
produção interna de máquinas, equipamentos e insumos petroquímicos e
outros.
Como naquela época, no JBS o contribuinte arcará com bilionário
prejuízo. O grupo se tornou o maior processador de proteína animal do
planeta sustentado em bilhões de reais subsidiados pelo Tesouro e
despejados na empresa. Foi assim que o BNDESpar — braço de participações
acionárias do banco — tornou-se sócio do JBS, com 31,3% do capital (a
Caixa tem 4,9%).
O mergulho do preço das ações da empresa em Bolsa, no vácuo da crise,
já causa uma perda contábil. O banco, assim, terá de congelar suas
posições acionárias, porque, se vendê-las, concretizará os prejuízos.
Muito dinheiro circulou nesta operação para transformar o JBS num
“campeão nacional” com forte projeção internacional. Sem que haja
suspeitas sobre a qualidade do corpo técnico do BNDES, investiga-se como
transcorreram operações que, entre 2007 e 2011, injetaram R$ 5 bilhões
nos cofres do grupo de frigoríficos. Há pelo menos um caso, relatado na
Operação Bullish, em que um grande aporte de recursos ao grupo
precisaria ser devolvido ao banco, pela não realização da compra de
outra empresa, motivo da operação, mas que foi mantido indevidamente no
JBS. Evidenciou-se um favorecimento aos irmãos.
Tudo isso é típico do capitalismo de Estado que, pela via da direita e
da esquerda, o Brasil tem praticado há décadas. Um capitalismo para
compadres, em que empresários próximos ao poder são premiados, sem
maiores preocupações com eficiência e produtividade. Por isso, esses
ciclos (com Geisel, Lula e Dilma) resultam em grandes prejuízos para o
Erário.
O caso JBS se junta ao da Odebrecht, e de outras empreiteiras da
Lava-Jato, e revela de maneira clara a contrapartida desses empresários
na forma de financiamentos de campanha — caixa 1, com propina, e 2 —,
além da prática ampliada da corrupção. É a outra face deste capitalismo
de Estado e de amigos.
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