sábado, 2 de setembro de 2017

Em nota, Temer questiona delação de Funaro e diz que é perseguição da PGR
Depoimento do doleiro será usado na segunda denúncia contra o presidente
Renata Mariz - O Globo
Em uma nota forte, fora do padrão das comunicações oficiais do governo, a Presidência da República afirmou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) fechou delação com o doleiro Lucio Funaro por uma "vontade inexorável de perseguir o presidente". As revelações do doleiro deverão ser usadas para implicar Michel Temer na segunda denúncia preparada pelo procurador Rodrigo Janot, que não foi citado nominalmente na nota, mas é o destinatário das críticas.
O comunicado destacou que Funaro já foi descrito pelo próprio Ministério Público Federal como um "criminoso" que já foi beneficiado com uma delação no passado mas voltou a delinquir. "Agora, diante da vontade inexorável de perseguir o presidente da República, Funaro transmutou-se em personagem confiável. Do vinagre, fez-se vinho", ironiza a nota.
A Presidência afirma que "a suposta segunda delação do doleiro Lúcio Funaro, que estava sob sigilo na Procuradoria-Geral da República (PGR) mas tem vazado ilegalmente na imprensa nos últimos dias, apresenta inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória de crimes".
O Planalto criticou as circunstâncias da delação de Funaro, comparando-a com a de Joesley Batista, dono do grupo J&F, que gravou Temer em conversas comprometedoras no Palácio do Jaburu. "Ainda não está claro como se deu sua conversão diante do procurador-geral da República. Nem sabemos quais benefícios ele obteve em sua segunda delação, se chegam perto do perdão total e da imunidade eterna concedidos aos irmãos Batista", critica a nota.
Ainda em relação a Joesley, chamado de "grampeador-geral da República", o comunicado critica a existência de outras gravações que vieram à tona mais recentemente. "No seu gravador, vários outros grampos foram escondidos e apagados. Joesley mentiu, omitiu e continua tendo o 'perdão eterno do procurador-geral'. Prêmio igual ou semelhante será dado a um criminoso ainda mais notório e perigoso como Lúcio Funaro?".
A nota diz ainda que o presidente Michel Temer não vai "tratar de ficções e invenções de quem quer que seja" e que "jamais obstruiu a Justiça". Segundo o comunicado, no próprio diálogo com Joesley, o "presidente afirma não ter feito nada por Eduardo Cunha no STF (prova de não obstrução) e alerta o interlocutor de que contatos com o ex-ministro Geddel Vieira Lima poderiam ser vistos como atos de obstrução de Justiça (ora, querer evitar o crime é forma de se ligar a ele?)". Conclui: "A gravação usada pelo seletivo acusador desmente a acusação".
ÍNTEGRA DA NOTA
A suposta segunda delação do doleiro Lúcio Funaro, que estava sob sigilo na Procuradoria-Geral da República (PGR) mas tem vazado ilegalmente na imprensa nos últimos dias, apresenta inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória de crimes. Funaro acionou meses atrás a Justiça para cobrar valores devidos a ele pelo grupo empresarial do senhor Joesley Batista. Por alegados serviços prestados, negando que recebesse por silêncio ou para evitar delação premiada.
Ainda não está claro como se deu sua conversão diante do procurador-geral da República. Nem sabemos quais benefícios ele obteve em suasegunda delação, se chegam perto do perdão total e da imunidade eterna concedidos aos irmãos Batista . Que, aliás , acabam de refazer sua delação, demonstrando terem mentido e omitido fatos, sobretudo em relação às falcatruas contra o BNDES. Pegos na falsidade pela Operação Bullish, não tiveram a delação anulada, mas puderam, camaradamente, 'corrigir' suas mentiras ao procurador-geral. Sem um puxão de orelhas sequer.Voltando a Lúcio Funaro, assim o Ministério Público Federal o descreveu há um ano: “O histórico profissional de Funaro indica que nenhumaoutra medida cautelar (senao a prisão ) seria eficiente e útil para estancar suas atividades ilícitas. Trata-se de pessoa que tem o crime como modusvivendi e já foi beneficiado com a colaboração premiada, um dos maiores incentivos que a Justiça pode conceder a um criminoso, a fimde que abandone as práticas ilícitas. No entanto, prosseguiu delinquindo, mesmo após receber o beneficio. Cuida-se de verdadeiratraição ao voto de confiança dado a ele pela Justiça brasileira.”
Qual mágica teria feito essa pessoa, que traiu a confiança da Justiça e do Ministério Público, ganhar agora credibilidade? Repentinamentemuda-se o quadro, pois antes ele era uma das “pessoas que vivem de práticas reiteradas e habituais de crimes graves, (que) sem qualquer freio inibitório, colocam em risco, concretamente, a ordem pública ". O doleiro, cujo testemunho serve agora para sustentar uma denúncia contra a Presidência da República, foi preso há um ano também por ameaçar de morte seus ex-parceiros comerciais. Segundo relatou a PGR, ele ameaçou matar um idoso de mais de 80 anos (Milton Schahin) e a um outro (Fábio Cleto) prometeu "colocar fogo na casa dele com os filhos dentro."
Agora, diante da vontade inexorável de perseguir o presidente da República, Funaro transmutou-se em personagem confiável. Do vinagre, fez-se vinho.Quem garante que, ao falar ao Ministério Público, instituição que já traiu uma vez, não o esteja fazendo novamente? Se era capaz de ameaçar a vida de alguém para escapar da Justiça, não poderia ele mentir para ter sua pena reduzida? Isso seria, diante de sua ficha corrida, até um crime menor.
O presidente Michel Temer se resguarda o direito de não tratar de ficções e invenções de quem quer que seja. Jamais obstruiu a Justiça e isso está registrado no diálogo gravado clandestinamente por Joesley Batista - sujeito desmentido pela própria esposa no curso desse processo vergonhoso. No diálogo com Joesley, o presidente afirma não ter feito nada por Eduardo Cunha no STF (prova de não obstrução), e alerta o interlocutor de que contatos com o ex-ministro Geddel Vieira Lima poderiam ser vistos como atos de obstrução de Justiça (ora, querer evitar o crime é forma de se ligar a ele?). A gravação usada pelo seletivo acusador desmente a acusação.
Outro agravante é o fato de o grampeador-geral da República ter omitido o produto de suas incursões clandestinas do Ministério Público. No seu gravador, vários outros grampos foram escondidos e apagados. Joesley mentiu, omitiu e continua tendo o perdão eterno do procurador-geral. Prêmio igual ou semelhante será dado a um criminoso ainda mais notório e perigoso como Lúcio Funaro?

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