O Sindicato das Empresas de Carga e Logística estima que cerca de 40 empresas faliram nos últimos meses por causa do custo que o roubo de cargas lhes impôs
OESP
Este é apenas o indicador mais visível do impacto da criminalidade, e da falta de segurança que deveria ser garantida pelo poder público, sobre as atividades econômicas formais. Há outros, nem sempre fáceis de serem expressados em números, mas que deixam claro os efeitos do crime sobre o sistema de transporte de mercadorias e sobre o comércio de bens duráveis e perecíveis. Em determinadas regiões, a sobrevivência do comércio legalmente estabelecido começa a ser ameaçada pelo florescimento da venda, obviamente criminosa, de produtos roubados.
O Sindicato das Empresas de Carga e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga) estima que cerca de 40 empresas de pequeno e médio portes faliram nos últimos meses por causa do alto custo que o roubo de cargas lhes impôs. No primeiro semestre deste ano, o número de caminhões roubados foi 25% maior do que na primeira metade do ano passado. Em maio, foram roubados, em média, 40 caminhões por dia, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). A incidência de roubos diminui nos meses seguintes, mas a média de julho, de 26 roubos por dia, continua muito alta.
Obviamente, por trás da ação dos ladrões, há uma rede de negócios, igualmente criminosa, que a sustenta. O produto roubado, afinal, tem de ser revendido. Ainda que a mercadoria roubada seja comercializada por preço aviltado, o ganho dos criminosos é integral. Entre os produtos mais roubados estão frango, carne bovina, queijos e ovos, itens que podem ser facilmente revendidos pelos bandidos. As quadrilhas de assaltantes distribuem os ovos roubados por várias Kombis, para vendê-los ao consumidor a R$ 10 por cinco dúzias, preço que nenhum comerciante estabelecido tem condição de oferecer. Os negócios legais de atacadistas e varejistas estão ameaçados por essa concorrência criminosa.
Fabricantes de eletrodomésticos e alimentos, bem como redes varejistas relatam que muitas transportadoras rejeitam entregar mercadorias no Rio de Janeiro. O resultado é o encarecimento do frete – que incorpora uma espécie de “taxa de violência” – e, como consequência, do preço final da mercadoria, que no Rio chega a custar 20% mais do que em outras praças por causa do repasse dos custos de transportes. Outro componente do custo operacional das transportadoras, o seguro da mercadoria transportada, também subiu nos últimos meses. Além disso, as seguradoras aumentaram as exigências para realizar a operação, como o monitoramento da carga e a utilização de rotas mais seguras.
São medidas que, embora as encareçam, permitem a manutenção das operações de logística necessárias para assegurar a chegada de mercadorias aos pontos de venda no Estado. Mas, com a recusa de muitas transportadoras de realizar entregas no Rio de Janeiro, “estamos correndo o sério risco de desabastecimento, especialmente de produtos como laticínios, carnes e embutidos, que estão sendo muito roubados”, adverte o vice-presidente da Firjan, Sérgio Duarte.
A operação conjunta das Forças Armadas e das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro fez cair o número de roubos. Mas é preciso que a polícia estadual se aparelhe adequadamente para, como é de seu dever, assegurar o fluxo seguro de mercadorias no Estado.
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