Ficha Limpa: Com pai condenado, Quintão pediu urgência a projeto
Prefeito de Ipatinga (MG) seria prejudicado por decisão do Supremo
Amanda Almeida - O Globo
Autor do requerimento que pede urgência para a votação do projeto que contraria a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a Lei da Ficha Limpa, o deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG) tem interesse direto na aprovação da proposta. O pai do peemedebista é prefeito de Ipatinga (MG) graças a uma liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF, que liberou a sua diplomação depois de ele ser considerado inelegível pela Justiça eleitoral em Minas.
Sebastião Quintão (PMDB) tem condenações por abuso de poder econômico
e captação ilícita de recursos durante a campanha de 2008. Na decisão,
de dezembro do ano passado, Gilmar argumentou que o Supremo ainda não
havia julgado a questão da retroatividade da Ficha Limpa. Procurado,
Quintão não atendeu ao telefonema da reportagem.
Ao pedir assinaturas para o requerimento de urgência da proposta que
impede a retroatividade da Ficha Limpa, o deputado alegou a líderes que a
decisão do Supremo, de outubro, prejudicaria centenas de políticos,
inclusive o próprio pai. Segundo cálculos do deputado, 40 prefeitos,
mais de 200 vereadores, 50 deputados estaduais e dois deputados federais
seriam atingidos.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu ontem um sinal de
apoio ao movimento que tenta evitar adoção da Ficha Limpa em casos
anteriores à sua vigência. Ele afirmou que, a princípio, há uma decisão
sobre a aplicação da lei que “prejudica” as pessoas de forma retroativa.
Maia ressaltou que a legislação brasileira não costuma retroagir e
que a decisão do STF foi “muito dividida”. Há, diz Maia, um requerimento
de urgência para que o projeto seja votado rapidamente. A decisão será
dos líderes, na semana da volta do feriado da Proclamação da República.
—
Temos que avaliar com cuidado para que o plenário possa decidir sobre
isso também. A legislação brasileira, no ponto de vista de muitos, nunca
retroagiu para prejudicar. Então, é essa a dúvida que está colocada e
que está colocada no projeto. Se ele vai avançar ou não vai, essa é uma
questão que vamos discutir depois com os líderes — disse Maia.
Maia ressaltou várias vezes que a Câmara não está querendo mexer na Ficha Limpa.
— O projeto não está alterando a Ficha Limpa, não é isso. Ele está
tratando do caso específico, para a lei não retroagir. É disso que
trata, se está certo ou está errado é outra discussão. De forma nenhuma
mexe na Lei de Fica Limpa, vamos deixar isso claro, porque daqui a pouco
a sociedade está achando que alguns deputados e alguns partidos querem
mudar a lei.
INELEGIBILIDADE POR OITO ANOS
Sancionada em
2010 e aplicada pela primeira vez em 2012, a Lei da Ficha Limpa ampliou
de três para oito anos o prazo de inelegibilidade para quem cometeu
abuso de poder político e econômico. Para a maioria dos ministros do
Supremo, o novo prazo vale inclusive para quem foi condenado antes de a
lei entrar em vigor.
Na prática, no caso das eleições de 2018, serão afetados apenas os
candidatos considerados culpados no primeiro semestre de 2010. Quem foi
condenado depois já era abrangido pela lei. Para quem foi condenado até
2009, o prazo de oito anos termina antes da campanha do ano que vem.
A questão agora é o alcance da lei sobre quem foi condenado em 2010
ou antes disso e exerce cargo eletivo. No caso hipotético de um prefeito
ou vereador eleito em 2016 e condenado em 2008 ou 2009, o prazo de três
anos já teria se esgotado no momento da candidatura. Com a decisão de
outubro do STF, esse político pode ser atingido.(André de Souza)
O QUE ESTÁ SENDO PLANEJADO
Parlamentares
querem alterar dispositivo na chamada Lei de Inelegibilidade, que
determina que a inelegibilidade de oito anos estabelecida na Ficha
Limpa, implementada em 2010, pode ser aplicada em casos anteriores ao
ano em que a regra começou a valer.
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