quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Perfil: Da Raposa Serra do Sol às armas, novo diretor da PF é um negociador
Fernando Segóvia fez a corporação assimilar o Estatuto do Desarmamento
Jailton de Carvalho - O Globo
No início da década passada, o delegado Fernando Segóvia foi chamado para uma missão espinhosa: vencer resistências internas e adequar a Polícia Federal (PF) às novas regras do então recém-aprovado Estatuto do Desarmamento. Em pouco tempo, a polícia assimilou as exigências e até passou a defender o estatuto, o que era considerado impensável.
A experiência projetou Segóvia como negociador e abriu caminho para a ascensão que, agora, resultou na indicação dele para o cargo de diretor-geral da PF. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), Segóvia está na polícia há 22 anos. Depois de estruturar o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), ele esteve à frente de outras tarefas igualmente complicadas.
Numa delas, o delegado foi convocado para comandar parte da desocupação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e evitar um banho de sangue entre índios e fazendeiros. Na época, arrozeiros se recusavam a deixar a maior terra indígena do país. Depois de enfrentar bloqueios de pontes, incêndios e outros ataques típicos de guerrilha, a polícia concluiu a operação com sucesso. Segóvia saiu de lá festejado pelos índios.
— Ele tem experiência com índios, armas, vários temas. Tenho uma boa impressão dele — conta o ex-diretor-geral da PF Paulo Lacerda, que comandou a instituição no primeiro governo Lula.
Já em 2013, Segóvia foi chamado para integrar uma comissão de delegados e procuradores encarregada de definir um anteprojeto sobre o papel do Ministério Público Federal (MPF) em investigações criminais. A proposta não foi adiante. O Congresso rejeitou a PEC 37, que excluía procuradores e promotores das investigações criminais como pleiteava a PF.
Apesar de ter feito declarações defendendo a aprovação da PEC, que limitava os poderes de investigação do MP, Segóvia conseguiu manter boas relações com procuradores, um sinal de seu perfil diplomático.
— Ele tem muita capacidade de diálogo. É sensato, ponderado. Tem liderança dentro da polícia. Será um bom diretor — diz o delegado Reinaldo de Almeida César que, nos últimos anos, rivalizava com Segóvia o favoritismo para o cargo.
Casado com uma escrivã, o delegado mantém boas relações com agentes, escrivães e papiloscopistas. Para colegas de instituição, pode ser um capital político importante em função da tensa relação entre delegados e as demais categorias na PF. Segóvia mantém também boas relações com Alexandre Camanho, principal auxiliar da procuradora-geral, Raquel Dodge. Para delegados, essa pode ser uma ponte para melhorar as relações entre Ministério Público e PF. 
INDICIAMENTO DE FILHO DE SARNEY
Segóvia chega ao comando da PF após acumular experiência em alguns dos mais importantes cargos da instituição. Em 22 anos de carreira, ele já foi vice-corregedor-geral, coordenador de Defesa Institucional, superintendente no Maranhão e adido na África do Sul.
Ex-dirigente da Associação dos Delegados da PF, Segóvia disputou a presidência da entidade com Marcos Leôncio, mas acabou sendo derrotado.
Aliados de Segóvia tentavam ontem negar as informações de que ele teria sido apadrinhado por políticos para chegar ao posto de comando. Entre os que apoiaram sua escolha estava o ex-presidente José Sarney, mas policiais ligados a Segóvia dizem que no período em que ele comandava a Superintendência no Maranhão que a PF indiciou o empresário Fernando Sarney, um dos filhos do ex-presidente, por corrupção e outros crimes.

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