Perfil: Da Raposa Serra do Sol às armas, novo diretor da PF é um negociador
Fernando Segóvia fez a corporação assimilar o Estatuto do Desarmamento
Jailton de Carvalho - O Globo
No início da década passada, o delegado Fernando Segóvia foi chamado
para uma missão espinhosa: vencer resistências internas e adequar a
Polícia Federal (PF) às novas regras do então recém-aprovado Estatuto do
Desarmamento. Em pouco tempo, a polícia assimilou as exigências e até
passou a defender o estatuto, o que era considerado impensável.
A
experiência projetou Segóvia como negociador e abriu caminho para a
ascensão que, agora, resultou na indicação dele para o cargo de
diretor-geral da PF. Formado em Direito pela Universidade de Brasília
(UnB), Segóvia está na polícia há 22 anos. Depois de estruturar o
Sistema Nacional de Armas (Sinarm), ele esteve à frente de outras
tarefas igualmente complicadas.
Numa delas, o delegado foi convocado para comandar parte da
desocupação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e
evitar um banho de sangue entre índios e fazendeiros. Na época,
arrozeiros se recusavam a deixar a maior terra indígena do país. Depois
de enfrentar bloqueios de pontes, incêndios e outros ataques típicos de
guerrilha, a polícia concluiu a operação com sucesso. Segóvia saiu de lá
festejado pelos índios.
— Ele tem experiência com índios, armas, vários temas. Tenho uma boa
impressão dele — conta o ex-diretor-geral da PF Paulo Lacerda, que
comandou a instituição no primeiro governo Lula.
Já
em 2013, Segóvia foi chamado para integrar uma comissão de delegados e
procuradores encarregada de definir um anteprojeto sobre o papel do
Ministério Público Federal (MPF) em investigações criminais. A proposta
não foi adiante. O Congresso rejeitou a PEC 37, que excluía procuradores
e promotores das investigações criminais como pleiteava a PF.
Apesar de ter feito declarações defendendo a aprovação da PEC, que
limitava os poderes de investigação do MP, Segóvia conseguiu manter boas
relações com procuradores, um sinal de seu perfil diplomático.
— Ele tem muita capacidade de diálogo. É sensato, ponderado. Tem
liderança dentro da polícia. Será um bom diretor — diz o delegado
Reinaldo de Almeida César que, nos últimos anos, rivalizava com Segóvia o
favoritismo para o cargo.
Casado com uma escrivã, o delegado mantém boas relações com agentes,
escrivães e papiloscopistas. Para colegas de instituição, pode ser um
capital político importante em função da tensa relação entre delegados e
as demais categorias na PF. Segóvia mantém também boas relações com
Alexandre Camanho, principal auxiliar da procuradora-geral, Raquel
Dodge. Para delegados, essa pode ser uma ponte para melhorar as relações
entre Ministério Público e PF.
INDICIAMENTO DE FILHO DE SARNEY
Segóvia chega
ao comando da PF após acumular experiência em alguns dos mais
importantes cargos da instituição. Em 22 anos de carreira, ele já foi
vice-corregedor-geral, coordenador de Defesa Institucional,
superintendente no Maranhão e adido na África do Sul.
Ex-dirigente da Associação dos Delegados da PF, Segóvia disputou a
presidência da entidade com Marcos Leôncio, mas acabou sendo derrotado.
Aliados de Segóvia tentavam ontem negar as informações de que ele
teria sido apadrinhado por políticos para chegar ao posto de comando.
Entre os que apoiaram sua escolha estava o ex-presidente José Sarney,
mas policiais ligados a Segóvia dizem que no período em que ele
comandava a Superintendência no Maranhão que a PF indiciou o empresário
Fernando Sarney, um dos filhos do ex-presidente, por corrupção e outros
crimes.
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