Pezão recebeu R$ 5 milhões em caixa 2, diz delator
Renato Pereira diz que Andrade Gutierrez repassou o valor à campanha do governador
Thiago Herdy - O Globo
O marqueteiro Renato Pereira contou, em acordo de colaboração premiada assinado com a Procuradoria-Geral da República (PGR), que a empreiteira Andrade Gutierrez usou duas das principais agências de publicidade brasileiras — Propeg e NBS — para repassar R$ 5 milhões à campanha do governador Luiz Fernando Pezão. Os valores não foram declarados à Justiça Eleitoral. A delação ainda aguarda homologação do Supremo Tribunal Federal (STF).
Pereira afirmou que o próprio Pezão o chamou, em setembro de 2014, a
seu apartamento, em Laranjeiras, para informá-lo que havia conversado
com Sérgio Andrade, um dos donos da Andrade Gutierrez. Na ocasião, o
então candidato disse a ele que a empreiteira faria um repasse de R$ 10
milhões à campanha, valor que acabaria sendo reduzido, nos dias
seguintes, para R$ 5 milhões, segundo o relato.
A
operacionalização do pagamento coube a Alberto Quintaes, então diretor
comercial da Andrade Gutierrez e delator da Lava-Jato. Como O GLOBO
mostrou ontem, Pereira contou em sua delação que o marketing da campanha
de Pezão custou R$ 40 milhões, quase o dobro do que foi oficialmente
declarado (R$ 21,8 milhões).
De acordo com o delator, Quintaes se reuniu com um de seus sócios,
Eduardo Villela, para acertar detalhes do pagamento à campanha de Pezão
via agências de publicidade que prestavam serviços a empresas ligadas à
empreiteira. O marqueteiro diz ter recebido R$ 3 milhões por meio da
agência NBS, que detinha desde 2002 a conta de publicidade da operadora
Oi, controlada por grupo do qual fazia parte a Andrade Gutierrez.
Na época do pagamento, a NBS pertencia ao Grupo PPR, que tinha uma
parceria operacional com a Prole, agência de Renato Pereira. De acordo
com o delator, a NBS simulou o pagamento de uma indenização à Prole para
viabilizar o repasse, na ocasião em que o grupo PPR foi dissolvido. Com
317 funcionários, a NBS tem entre seus clientes empresas como
Petrobras, Banco de Brasília e Iguatemi.
O
marqueteiro disse que outros R$ 2 milhões foram pagos pela Andrade
Gutierrez à agência Propeg. Por sua vez, coube à agência contratar a
Prole para produzir um guia com relação de personalidades influentes no
Rio, que Pereira diz ter sido “claramente superfaturado”. Segundo ele, o
caderno consistia em fotos e citações dos nomes mencionados, “sem maior
valor”.
Por meio de sua assessoria, Pezão negou o teor do relato de seu
marqueteiro. O governador disse que “jamais tratou de pagamento ou
recebimento de recursos ilícitos com qualquer pessoa” e que “todas as
doações de campanha foram feitas de acordo com a Justiça eleitoral”.
Andrade Gutierrez e a Oi não quiseram responder a perguntas
relacionadas ao caso. Em nota, a empreiteira informou que “segue
colaborando com as investigações em curso” e que “reforça seu
compromisso de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares
ocorridos no passado”.
A assessoria da Propeg confirmou ter contratado a Prole, mas negou
tratar-se de operação simulada para repassar caixa 2 à campanha de
Pezão. A empresa alega ter produzido “um estudo sobre os Jogos Olímpicos
do Rio, com planejamento, pesquisas e documentários”. Segundo a
assessoria, “alguns insumos para esse estudo foram fornecidos pela
Prole, pagos mediante comprovação de relatórios e nota fiscal”.
A Propeg também negou ter sido beneficiada com repasses da Andrade
Gutierrez sem comprovação. “Todos os valores recebidos sempre decorrem
de efetiva prestação de serviços aos seus clientes, cujos demonstrativos
estão à disposição dos órgãos competentes”, afirmou.
AGÊNCIA NEGA CAIXA 2
Em nota, a assessoria da
NBS confirmou parte do relato de Pereira, mas negou ter sido usada para
repasse de caixa 2. O texto lembra que a empresa esteve sob o mesmo
guarda-chuva da Prole, entre 2008 e 2014, como parte do Grupo PPR, marca
atualmente extinta. “NBS e Prole sempre tiveram operações
independentes, com sócios, gestão, áreas de atuação e carteira de
clientes completamente distintos”, afirma a empresa.
Segundo a NBS, em 2014 o grupo PPR vendeu 70% do seu capital para a
multinacional Dentsu Inc., “encerrando o acordo operacional com a Prole
que, nessa ocasião, recebeu uma indenização”, que Pereira alega ter sido
fraudulenta.
A NBS informou que, na condição de “responsável por campanhas e
estratégias de marketing das maiores empresas do país, segue rígidos
padrões éticos, tendo regularmente todos os processos internos
auditados”.
Sócios de Renato Pereira não comentaram as alegações do delator. Os advogados de Alberto Quintaes não foram localizados.
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