Armadilha da corrupção
O Estado de S.Paulo
O prefeito Fernando Haddad e os partidos que o apoiam, a
começar pelo PT, estão dando claros sinais de que vão promover o
loteamento político das Subprefeituras, indiferentes aos graves riscos
que isso representa. Seduzidos pelas vantagens imediatas que isso pode
lhes dar - tanto fortalecendo redutos eleitorais de aliados como
facilitando a aprovação de matérias de seu interesse na Câmara Municipal
-, eles fecham os olhos à experiência recente que mostra que esse toma
lá dá cá acaba mal.
Nesse terreno, Haddad havia começado bem, pois logo depois de sua
posse criticou a indicação de políticos ou seus apadrinhados para as 31
Subprefeituras, cargos para os quais escolheu técnicos. Aceitou que, no
máximo, os partidos que o apoiam indicassem chefes de gabinete para
aquelas unidades administrativas. Essa prudente determinação, que
correspondia à necessidade tanto de eficiência como de moralização da
administração pública, não durou muito.
Pouco mais de um ano depois, o prefeito está cedendo à pressão do PT e
de outros partidos de sua base de apoio, que desde o início do governo
vêm reclamando maior espaço na administração, o que significa tirar os
técnicos e colocar políticos nos postos de comando, os quais em seguida
nomeiam seus apadrinhados para os cargos subalternos. Em resumo, apesar
do discurso moralista do PT e de seus aliados ditos de esquerda - sempre
prontos a apontar o dedo acusador para seus adversários -, trata-se
pura e simplesmente de repetir as velhas práticas fisiológicas que
dominam o setor público.
Haddad começou a trilhar esse mau caminho em grande estilo, nomeando
para a Subprefeitura da Sé - a mais importante, com o maior orçamento,
cuja área inclui desde a Avenida Paulista até ruas de comércio popular
como a 25 de Março - o deputado estadual Alcides Amazonas, do PC do B.
Deve valer mesmo a pena comandar essa que, segundo suas palavras, é "a
capital da capital", pois para isso ele vai desistir de seu mandato -
pedirá licença e não concorrerá às próximas eleições.
Na mesma linha, o prefeito nomeou interinamente Valter Antônio da
Rocha, ex-secretário de Esportes de Gilberto Kassab (PSD), para a
Subprefeitura da Mooca. Recorde-se de que Rocha constava da lista de
diretores da Dersa condenados pela Justiça em 2007 a devolver R$ 295 mil
pela contratação de um escritório de advocacia, sem licitação, para
prestar serviços referentes à construção do Rodoanel. Até o dia 28, ele
será substituído por um integrante do PT ou de outro partido aliado. A
essas deverão se seguir nomeações de outros políticos ou pessoas por
eles indicadas para as demais Subprefeituras.
Dirigentes do PT, que só criticam essa prática quando feita pelos
seus adversários, tentam dar-lhe uma roupagem diferente, como faz
Alfredo Alves Cavalcanti, o Alfredinho, líder do partido na Câmara
Municipal. Para ele, são "naturais" essas mudanças nas Subprefeituras e,
por isso, o PT reivindica o comando de mais da metade delas, para as
quais indicou chefes de gabinete. O presidente do diretório municipal do
PT, o vereador Paulo Fiorilo, também nega que essas nomeações
constituam loteamento político.
Mas, como a peneira não consegue esconder o sol, por maior que seja o
esforço dos espertos, é isso mesmo que está sendo feito. É um
comportamento irresponsável, que nenhum artifício conseguirá disfarçar e
pelo qual, mais uma vez, São Paulo poderá pagar caro. O escândalo da
Máfia dos Fiscais, um dos maiores da administração pública brasileira,
que estourou no governo Celso Pitta, em fins de 1998, teve origem no
loteamento das então Administrações Regionais, antecessoras das
Subprefeituras, entre os vereadores em troca de seu apoio aos projetos
do Executivo. Movimentou R$ 436 milhões em propinas, levou à cassação de
dois vereadores e manchou e destruiu a reputação do governo Pitta.
Haddad que se previna. Como esse processo de trocas de favores
engendra fatalmente a corrupção, se o prefeito se deixar envolver por
ele, será praticamente impossível controlá-lo, como ensina a
experiência. Terá ele força e vontade para evitar essa armadilha, na
qual a cidade cairá junto?
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