O Estado de S.Paulo
O Tesouro também divulga mensalmente um balanço do governo central, mas seus cálculos, um pouco diferentes daqueles produzidos pelo BC, são baseados no confronto entre receitas e despesas primárias. A pequena diferença é insuficiente para mudar o panorama. As contas do governo central estão em condições precárias há alguns anos, continuaram em mau estado no começo de 2014 e pioraram em maio e junho. No dois meses houve déficit primário. O resultado de junho, pelos cálculo do BC, foi um buraco de R$ 2,7 bilhões. Pelo critério do Tesouro, o buraco ficou em R$ 1,95 bilhão. Nenhum dos dois resultados vale uma comemoração. Ambos apontam problemas sérios na economia e na gestão do dinheiro recolhido pelo poder central. O saldo apontado no relatório do Tesouro foi o pior para o mês desde o ano 2000.
Por esse relatório, o governo central acumulou entre janeiro e junho um superávit primário de R$ 17,24 bilhões - 50,11% menor que o dos primeiros seis meses de 2013. Por esse critério, o governo terá de produzir um resultado primário de R$ 63,56 bilhões no segundo semestre - mais que o triplo do conseguido até junho - para alcançar os R$ 80,8 bilhões prometidos para todo o ano.
Esse valor será alcançado, segundo o secretário do Tesouro. Para justificar seu otimismo, ele menciona a expectativa de crescimento econômico maior no segundo semestre, com maior arrecadação de impostos e contribuições, e o ingresso de receitas especiais, como os pagamentos, a partir de agosto, do novo Refis. O refinanciamento de dívidas tributárias, segundo a estimativa inicial, deveria render R$ 12,5 bilhões neste ano. A projeção foi elevada para R$ 15 bilhões e, em seguida, para R$ 18 bilhões.
Mas os técnicos da Fazenda apostam ainda na entrada de outros recursos. Alguns já começaram a entrar na primeira metade do ano. A receita de dividendos pagos por estatais, de R$ 10,49 bilhões no semestre, foi 36,3% maior que a de janeiro a junho de 2013. Esse valor representou 60,85% do superávit primário acumulado no período. Se a conta incluir a arrecadação de bônus de concessões, de R$ 1,24 bilhão, as receitas extraordinárias, isto é, fora do padrão recorrente, corresponderão a 68,08% do resultado primário contabilizado até junho.
É preciso levar em conta o peso desse tipo de receita para avaliar a condição das contas públicas. Contas sólidas e sustentáveis são aquelas dependentes da arrecadação rotineira de tributos e da gestão prudente dos gastos. As contas brasileiras estão muito longe desse padrão.
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