Helen Gao - NYT
Em 29 de julho, depois de um ano de boatos correndo à boca pequena e especulações na internet, o Partido Comunista Chinês anunciou que Zhou Youngkang, ex-chefe de segurança do Estado, estava sendo investigado oficialmente por corrupção.
Em 29 de julho, depois de um ano de boatos correndo à boca pequena e especulações na internet, o Partido Comunista Chinês anunciou que Zhou Youngkang, ex-chefe de segurança do Estado, estava sendo investigado oficialmente por corrupção.
A ruína de uma das figuras mais poderosas do partido marcou um novo
estágio na ambiciosa campanha anticorrupção do presidente Xi Jinping.
Desde que Xi assumiu o governo no final de 2012, mais de 182 mil
oficiais do partido foram investigados, e muitas figuras importantes
foram condenadas. Agora até pessoas que normalmente não se interessam
muito por política estão falando no assunto. Em uma reunião recente de
colegas do ensino médio, o nome de Zhou foi citado. "Nem acredito que
eles finalmente vão investigá-lo", disse um amigo. "Fico imaginando quem
será o próximo", disse outro.
Seus olhos brilhavam de entusiasmo à medida que os nomes eram sugeridos. Não havia nenhuma indignação moral; era apenas uma fofoca saudável. Em um país onde o suborno mesquinho é inevitável - desde para conseguir uma cama no hospital até uma carteira de motorista - poucos cidadãos estão surpresos com o fato de poder existir corrupção nas altas esferas.
Durante a refeição, uma colega de classe mencionou que ela talvez fosse começar a trabalhar em uma casa de leilões. O lugar, ela disse, também tem a fama de lavar dinheiro para uma série de oficiais corruptos. Todos sorriram, tácitos. Um colega brincou que se ele se der bem, em alguns anos poderia ser um dos principais clientes da casa de leilões.
Mas se muitos chineses estão combalidamente acostumados à corrupção, isso não significa que eles não estão com raiva da arrogância e da falta de consideração dos que estão no poder. Depois da prisão de cada "tigre" - a metáfora de Xi para os oficiais sênior corruptos - há um dilúvio de elogios nas plataformas de mídia social. Muitos observadores ocidentais e liberais chineses condenaram a campanha anticorrupção de Xi como uma tentativa de expulsar seus oponentes e consolidar o poder, em vez de um esforço genuíno para aumentar a transparência política. A maior parte do povo chinês concorda com esta avaliação. Mas isso não emudeceu o apoio público para a atual repressão aos corruptos.
Os magnatas do petróleo ou generais militares podem ter sido derrubados porque perderam a batalha política, mas a pressão anticorrupção de Xi também satisfaz o ressentimento público em relação aos ricos e poderosos. "Os funcionários demitidos não merecem nenhuma simpatia"- disse um amigo de mentalidade liberal no jantar outro dia. "Independentemente dos motivos, pelo menos Xi está fazendo alguma coisa". Nesse aspecto, Xi costuma ser comparado com vantagem a seu insípido e ineficaz antecessor, Hu Jintao.
Dado que a política na China costuma ser uma mistura maçante de slogans vazios e políticos distantes e robóticos, as sanções recentes a altos funcionários são um espetáculo particularmente vibrante. A campanha de Xi oferece o teatro político mais envolvente do país desde a queda de Bo Xilai, que concorria a um dos altos postos do partido. "É como assistir à Copa do Mundo: cheia de suspense e surpresas", escreveu um internauta em um comentário amplamente compartilhado no site de mídia social Weibo.
Mas nem todo mundo é capaz de apreciar o show como um espectador casual. Um amigo da família, o Sr. Zhang, que é chefe de uma editora com sede em Beijing, começou a ser investigado recentemente. Funcionários, que segundo Zhang guardam ressentimentos pessoais contra ele, alegam que ele teve "ganhos ilegais com o trabalho". Autoridades anticorrupção, ansiosas por apanhar algumas "moscas" - jargão do partido para os burocratas corruptos de baixo escalão - agarraram o caso. Eles vasculharam os registros de Zhang, aparentemente determinados a encontrar provas de corrupção.
Eventualmente encontraram um pagamento atrasado para uma editora subsidiária e o acusaram de "violara a disciplina financeira do partido". Este é um tipo de contravenção que, devido à regulação negligente nos setores estatais da China, é quase onipresente nas companhias chinesas, e Zhang alega não ter tido nenhum ganho pessoal com isso. Contudo, sem conexões poderosas no governo para exonerá-lo, ele recebeu uma "advertência severa"do partido. Seu nome também foi mencionado em veículos importantes da mídia estatal como sendo uma das "moscas" capturadas pela campanha.
Depois que a investigação foi divulgada para o público, Zhang recebeu muitos telefonemas e e-mails de amigos e parentes preocupados. "Eles tentaram me consolar e disseram que sentiam muito pela minha má sorte", ele me disse. Mas ninguém perguntou sobre os detalhes, sobre quem estava certo ou errado, sobre por que ele foi acusado. Zhang disse que seus amigos provavelmente entendem que o sistema é totalmente corrupto. Ninguém é honesto, então tudo se resume à sorte ou ao azar. "Eles não acreditam que exista uma lógica nisso", disse ele, "mas tampouco parecem se importar".
"Mas, para ser justo", ele acrescentou depois de uma breve pausa, "eu costumava pensar da mesma forma. Eu não tinha simpatia pelas pessoas que eram expostas por corrupção, porque acreditava que mereciam, por qualquer que fosse o motivo pelo qual foram pegas. Até isso acontecer comigo."
Tradutor: Eloise De Vylder
Seus olhos brilhavam de entusiasmo à medida que os nomes eram sugeridos. Não havia nenhuma indignação moral; era apenas uma fofoca saudável. Em um país onde o suborno mesquinho é inevitável - desde para conseguir uma cama no hospital até uma carteira de motorista - poucos cidadãos estão surpresos com o fato de poder existir corrupção nas altas esferas.
Durante a refeição, uma colega de classe mencionou que ela talvez fosse começar a trabalhar em uma casa de leilões. O lugar, ela disse, também tem a fama de lavar dinheiro para uma série de oficiais corruptos. Todos sorriram, tácitos. Um colega brincou que se ele se der bem, em alguns anos poderia ser um dos principais clientes da casa de leilões.
Mas se muitos chineses estão combalidamente acostumados à corrupção, isso não significa que eles não estão com raiva da arrogância e da falta de consideração dos que estão no poder. Depois da prisão de cada "tigre" - a metáfora de Xi para os oficiais sênior corruptos - há um dilúvio de elogios nas plataformas de mídia social. Muitos observadores ocidentais e liberais chineses condenaram a campanha anticorrupção de Xi como uma tentativa de expulsar seus oponentes e consolidar o poder, em vez de um esforço genuíno para aumentar a transparência política. A maior parte do povo chinês concorda com esta avaliação. Mas isso não emudeceu o apoio público para a atual repressão aos corruptos.
Os magnatas do petróleo ou generais militares podem ter sido derrubados porque perderam a batalha política, mas a pressão anticorrupção de Xi também satisfaz o ressentimento público em relação aos ricos e poderosos. "Os funcionários demitidos não merecem nenhuma simpatia"- disse um amigo de mentalidade liberal no jantar outro dia. "Independentemente dos motivos, pelo menos Xi está fazendo alguma coisa". Nesse aspecto, Xi costuma ser comparado com vantagem a seu insípido e ineficaz antecessor, Hu Jintao.
Dado que a política na China costuma ser uma mistura maçante de slogans vazios e políticos distantes e robóticos, as sanções recentes a altos funcionários são um espetáculo particularmente vibrante. A campanha de Xi oferece o teatro político mais envolvente do país desde a queda de Bo Xilai, que concorria a um dos altos postos do partido. "É como assistir à Copa do Mundo: cheia de suspense e surpresas", escreveu um internauta em um comentário amplamente compartilhado no site de mídia social Weibo.
Mas nem todo mundo é capaz de apreciar o show como um espectador casual. Um amigo da família, o Sr. Zhang, que é chefe de uma editora com sede em Beijing, começou a ser investigado recentemente. Funcionários, que segundo Zhang guardam ressentimentos pessoais contra ele, alegam que ele teve "ganhos ilegais com o trabalho". Autoridades anticorrupção, ansiosas por apanhar algumas "moscas" - jargão do partido para os burocratas corruptos de baixo escalão - agarraram o caso. Eles vasculharam os registros de Zhang, aparentemente determinados a encontrar provas de corrupção.
Eventualmente encontraram um pagamento atrasado para uma editora subsidiária e o acusaram de "violara a disciplina financeira do partido". Este é um tipo de contravenção que, devido à regulação negligente nos setores estatais da China, é quase onipresente nas companhias chinesas, e Zhang alega não ter tido nenhum ganho pessoal com isso. Contudo, sem conexões poderosas no governo para exonerá-lo, ele recebeu uma "advertência severa"do partido. Seu nome também foi mencionado em veículos importantes da mídia estatal como sendo uma das "moscas" capturadas pela campanha.
Depois que a investigação foi divulgada para o público, Zhang recebeu muitos telefonemas e e-mails de amigos e parentes preocupados. "Eles tentaram me consolar e disseram que sentiam muito pela minha má sorte", ele me disse. Mas ninguém perguntou sobre os detalhes, sobre quem estava certo ou errado, sobre por que ele foi acusado. Zhang disse que seus amigos provavelmente entendem que o sistema é totalmente corrupto. Ninguém é honesto, então tudo se resume à sorte ou ao azar. "Eles não acreditam que exista uma lógica nisso", disse ele, "mas tampouco parecem se importar".
"Mas, para ser justo", ele acrescentou depois de uma breve pausa, "eu costumava pensar da mesma forma. Eu não tinha simpatia pelas pessoas que eram expostas por corrupção, porque acreditava que mereciam, por qualquer que fosse o motivo pelo qual foram pegas. Até isso acontecer comigo."
Tradutor: Eloise De Vylder
Nenhum comentário:
Postar um comentário